Sexta-feira, 2° dia do Porto Musical 2011. Não pude acompanhar a primeira palestra do dia. Seria com o Ale Youssef falando sobre “Circulação no Brasil” porém ele não pode comparecer. Quem falou no lugar dele foi Sergio Pinto, assistente da Gerência de Ação Cultural do SESC São Paulo, que veio para assistir o Porto Musical e atendeu o pedido da produção do evento para falar um pouco sobre as ações do SESC em que ele atua.
(Fotos por Beto Figueroa e Tiago Calazans para o Porto Musical 2011)
A segunda palestra foi com o Cees De Bever, gerente de Projetos Internacionais de Rock, Jazz e Música Internacional no Centro de Música Holandês, que falou sobre o “Intercâmbio Cultural Brasil-Holanda”. De Bever baseou sua palestra na frase “A Holanda quer aprender com o Brasil”, mesmo o seu país sendo um dos maiores exportadores de música enquanto que o Brasil está entre os 25 maiores. A partir disto ele começou a relatar alguns projetos em que o Brasil já participou e que ele esteve envolvido diretamente e alguns outros indiretamente.
De Bever apresentou alguns dos projetos do MCN como o “Dutch Impact”, um festival de rock e o “Dutch Jazz & World Meeting”, encontro sobre o gênero referido. Sua instituição participou de algumas pesquisas no brasil e um dos produtos finais deste trabalho é o “Cultural Exchange”. Outra iniciativa envolvendo os dois países é o “Brazil Festival Amsterdan” que vai acontecer em outubro deste ano.
Cees De Bever concluiu a palestra comentando sobre sua atuação em Nova Iorque onde o Consulado Holandês naquele local concede verba para apoiar projetos Norte-Americanos que envolvam a Holanda. Aqui no Brasil há o mesmo tipo de incentivo mas muitos poucos sabem sobre isso. Durante o momento de perguntas muitos músicos e produtores se interessaram em participar destes e de outros projetos em seu país e queriam mais informações de como fazê-lo.
Depois de Holanda, o papo com Makoto Kubota foi sobre sua relação com a música do Nordeste do Brasil e a música no Japão. Makoto começou falando sobre sua experiência onde nos anos 90 ele vira realmente um produtor e teve a oportunidade de visitar o Rio de Janeiro. Na época o mercado japonês precisava se preparar novamente para a música brasileira (samba, bossa-nova e gêneros adjacentes). Após essa visita ao Rio, Kubota visitou Recife em pleno carnaval e acho que a atmosfera era superior às festividades em Nova Orleans. “Foi algo como visitar São Franscisco, Califórnia, ou Nova Orleans nos anos 70.”
Ainda sobre Recife, Makoto ouviu a música de Chico Science e começou a se interessar mais ainda pela música local. A partir dessas experiências ele começou a introduzir a música do nordeste brasileiro no Japão com as coletâneas “Nordeste Atômico 1” e “Nordeste Atômico 2”.
Após sua fala sobre o Recife, Makoto comentou sobre a música da Etiópia e sobre suas descobertas musicais no próprio Japão e viu que havia semelhanças entre elas. Finalizou mostrando algumas imagens do Awa Odori, festividade semelhante ao carnaval do Rio de Janeiro e o Tokushima, semelhante ao carnaval de Recife.
Com Tristan Jehan a conversa foi sobre o The Echo Nest, desenvolvedora de aplicativos musicais sobre plataformas específicas. O TEN cede dados para desenvolvedores construírem os mais variados aplicativos.
“Temos mais músicas que todos no planeta”, afirmou Tristan e falando sobre o banco de dados que contém 20 milhões de canções de 1 milhão e meio de artistas. Com esses e outros dados a equipe de pouco mais de 30 pessoas criam trabalham em cima das plataformas musicais adicionando contéudos, tecnologias e análises de audiência. Tristan afirmou também que o mp3 está ficando obsoleto e que a nova tendência agora é a exploração de aplicativos musicais. “A música tem mudado novamente”, à esta afirmação ele completou falando que as pessoas estão buscando experiências com a música.
Após a apresentação sobre o The Echo Nest, Jehan começou a mostrar alguns dos aplicativos desenvolvidos pela empresa: “6 Degrees to Black Sabath”, “Earth Destroyers”, “Super Music”, “Pocket Hipsters”, “Capsule”, “The Swinger”, o “Music Meter” para a MTV americana, que auxilia na busca por novos artistas, entre tantos outros que podem ser achados buscando-se na internet.
E para finalizar o segundo dia, Charles Gavin, ex-Titãs, iniciou sua conferência mencionando que boa parte das palestras do Porto Musical falam sobre o futuro. Ele não quis seguir esse caminho. Começou falando que iria contar algumas histórias que auxiliam a entender o presente.
Mencionou seu contato com André Midami, antigo executivo da Warner Music e que no final dos anos 80 já falava que a pirataria iria modificar a indústria da música e que essa viraria uma indústria de resultados, apenas comercial. Algo bem interessante sobre essa questão da pirataria é que nessa época a Polícia Federal apenas priorizava o combate à pirataria daquilo que se pudesse “beber e fumar”.
Charles falou da história do disco “Õ Blésq Blom”, lançado em 1989 pelos Titãs. A ideia do álbum nasceu na praia de Boa Viagem, em Recife, com uma dupla de repentistas.
Após isso ele começou a adentrar em sua paixão pelo samba-jazz que o levou a virar um “rato de sebos de discos de vinil”. E com sua influência por conta dos Titãs, Charles começou a pensar em uma forma de “proteger a música brasileira”, visto que em suas buscas por discos ele não obteve muito sucesso em achar obras de diversos artistas. Com isso ele passou a idealizar projetos com a Warner Music e começou a pesquisar os catálogos dessa gravadora e lançou alguns remixes de discos importantes. O primeiro foi um dos Secos e Molhados.
Já com a Sony ele idealizou o “Columbia Raridades” porém não obteve muito sucesso pois não pode relançar alguns discos que queria pois não havia créditos das pessoas que participaram das gravações deste discos e a Sony impediu estes lançamentos. Porém viabilizou o projeto “Coleção Cultura” com a própria Sony e a Livraria Cultura.
Charles finalizou a aplaudidíssima palestra falando sobre seus projetos atuais. O Som do Vinil está em sua quinta temporada no Canal Brasil. Além disso ele está finalizando um documentário sobre a Gravadora Elenco, que existiu entre 1962 e 1967, e deve ser lançado no final deste semestre.
Mais sobre o Charles Gavin em breve aqui no TMDQA!
Um dos únicos showcases que consegui assistir foi o da Orquesta Brasileira de Música Jamaicana. Nove membros, metais para todo gosto e muita descontração em cima do palco com dancinhas e coreografias. Um projeto do produtor Sérgio Sofiatti e do músico Felippe Pipeta, a OBMJ animou o bom público na Praça do Arsenal da Marinha com suas influências da música jamaicana, do reggae de raiz misturado, é óbvio, com a MPB.
O grupo iniciou o seu show com uma releitura da música “O Guarani” de Carlos Gomes, tema musical do programa de rádio “A Voz do Brasil”. E seguiu baseando seu setlist em clássicos da música popular brasileira como “Carinhoso”, “Trem das 11”, “Águas de Março”, “Cotidiano”, “A Minha Menina” e “Tico-Tico no Fubá”.
Para finalizar como forma de entrar no clima de carnaval, a Orquestra executou seus arranjos para “Aurora”, uma marchinha de carnaval, e “Pagode Russo”.
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