Fotos por Flora Pimentel e Caroline Bittencourt
Texto por Bárbara Buril, enviada especial do TMDQA!. (Facebook | Uma Capsula)
Duas polaridades surgiram na noite do segundo dia do Festival No Ar Coquetel Molotov 2011: a contemplativa e a energética. Rômulo Fróes (SP) e The Sea and The Cake (EUA) representaram a face tranquila e retraída. China (PE) e Racionais MCs (SP), a agitada e envolvente. A banda de Mano Brown, principal atração da noite, lotou o Teatro da UFPE com “manos” de camisetas largas e “minas” de shorts curtinhos.
Racionais MCs agitou o público cult, tradicional freqüentador do Coquetel Molotov, e os amantes do rap. Tribos distintas se reuniram para ver o grupo que ficou conhecido pelo pioneirismo na abordagem de temas das periferias urbanas brasileiras. Desde 1988, Mano Brown, Ice Blue, Edy Rock e KL Jay movem multidões.
No Coquetel, o show foi o mais aguardado da noite. Quando iniciou, as regras ficaram ao avesso: fãs subiram nas cadeiras, invadiram o palco e fumaram no teatro. Era o Racionais a mexer com as emoções. “Vida loka cabulosa / O cheiro é de pólvora / E eu prefiro rosas”, refrão da música “Vida loka”, foi cantado com toda a energia pelo público. “Artigo 157”, “Nego Drama” e “O homem na estrada” enlouqueceram a plateia.
Rômulo Fróes e The Sea and The Cake não fizeram a cabeça de quem foi para ver Racionais MCs e China. O paulista investiu em banda rica e som calmo. Tocou “Recife quem disse”, frevo composto em homenagem à cidade, mas sem muitas emoções. Já o que se viu na banda norte-americana foi um trabalho bem-resolvido. Sem performances, viam-se composições de alta qualidade. Apesar disso, o público era pequeno.
O esquenta para Racionais foi China. Assumiu que tentava fazer o show mais curto de sua vida, para ver a apresentação dos rappers. Tocou as músicas do disco Moto Contínuo (2011) – além de “Um dia lindo de morrer” e “Sem paz”, de Simulacro (2007). Instigado, China preparou o público para o que viria depois. Com a música “Só serve pra dançar”, convidou: “Quem quiser subir no palco, pode vir”. Além da plateia, o palco lotou.
Sala Cine/Coquetel Molotov é espaço de experimentações
Rua, Trio Eterno, Copacabana Club e Hindi Zahra foram as cartadas do desconhecido apostadas pelos organizadores do Coquetel Molotov para o segundo dia da 8ª edição do festival, na programação da Sala Cine. Arriscaram na fórmula da música de qualidade que caminha fora dos limites do mainstream e, mais uma vez, acertaram. O público voltou para casa com grupos e artistas para pesquisar na internet. Sem dúvidas, a curiosidade musical marcou o segundo dia.
Na Sala Cine, as experimentações começaram com o grupo Rua (PE). Formado por quatro integrantes, a banda apostou nas desconstruções de sons. Violoncelo, guitarra, cavaquinho, xilofone e bateria entraram em sintonia nas canções meigas e, algumas vezes, melancólicas. A profundidade das letras também chamou a atenção: “Todalegria afunda um buraco invisível, todalegria salta o pedaço palpável, todalegria engorda o inefável…”. O grupo, perceptivelmente, conquistou a simpatia do público.
A banda paranaense Copacabana Club também se destacou. Quando a vocalista Camila entrou no palco, a sala encheu, o calor aumentou e o gingado pop-dance tomou conta do espaço. No vocal, as alternâncias entre Camila e Alec (guitarrista e tecladista) enriqueceram as músicas, dançadas freneticamente pelo público.
Depois, a atração mais esperada da tarde: a marroquina, radicada na França, Hindi Zahra. Com uma voz potente e uma banda mais ainda, cantou as canções do álbum Handmade (2010), uma mistura de pop com ritmos africanos. “Beautiful Tango”, “Imik Simik”, “Oursoul” e “Music” foram cantadas com um uníssono de vozes. Até para quem não a conhecia, o show foi magistral.
Apesar de algumas falhas no som, a aposta na qualidade musical e na diversidade de estilos reforçou o papel de difusor cultural do Coquetel Molotov. A Sala Cine, nos dois dias do evento, foi o principal espaço das experimentações.