Além de políticas públicas incentivadoras, é preciso ter muita coragem e força de vontade para interiorizar ações culturais. Um grande exemplo de iniciativa com essa motivação que deu certo foi o II Festival Amazonas Rock, evento realizado pelo Fórum Permanente da Música e Secretaria de Cultura do estado do Amazonas entre 02 e 06 de Outubro nos municípios de Itacoatiara, Rio Preto da Eva, Iranduba e Presidente Figueiredo. Nós do Tenho Mais Discos Que Amigos! estivemos lá para cobrir a parte da mostra de música, que aconteceu nos dias 05 e 06.
Presidente Figueiredo, município onde aconteceram os shows, é uma cidade simpática e bem famosa pela grande quantidade de cachoeiras que tem. Foi lá, mais especificamente na Praça da Vitória, que pudemos não só apreciar um excelente festival, mas também descobrir a prolífica cena de rock da região norte do país.
Coyotes Voadores, Fotógrafo: Rogger Diego
Por volta das 19h, quem subiu no palco trazendo seu Stoner Rock de primeiríssima qualidade foram os manauaras da Coyotes Voadores. Uma ótima pedida para cativar o até então tímido público que se fazia presente. A banda, criada em 2011, mostrou bastante experiência e segurança ao tocar suas músicas e deixou o terreno preparado para o que ainda estava por vir.
Dá para ter uma ideia de como foi o show do grupo através das faixas “Não é que Você Estava Certa?” e “À República – Parte 1”, disponibilizadas para audição gratuita aqui.
Em seguida veio a Turbo, uma das representantes do Pará no evento. Com músicas diretas, arranjos bem feitos e que lembram muito os anos 90, era praticamente impossível não se contagiar com a dedicação dos meninos. E o público retribuía cantando junto todas as músicas.
Chá de Flores, Fotógrafo: Christian Braga
Mas nem só de banda nova vive festival independente. A Chá de Flores foi formada e 1997 e continua com o gás de quem está começando agora. Tantos anos na estrada renderam um domínio do palco e público surpreendentes e foi assim que eles conduziram sua apresentação na Praça da Vitória.
Os fãs estavam ali para cantar as músicas de dezesseis anos atrás, os integrantes estavam dispostos a retribuir a entrega e essa junção só pode resultar em um show, no mínimo, agradável de assistir.
Quanto mais plural um festival de música é, mais interessante ele se torna. E para isso, não é preciso fugir de suas origens. O rock pesado também teve seu espaço no Festival Amazonas Rock, seja ele punk, metal, thrash metal, entre outros. Um desses representantes foi a Infâmia, banda formada por Carlos Eduardo Barros (vocal e guitarra), Thomaz Campos (contra-baixo) e Anastácio Júnior (bateria).
As distorções estavam ali e a bateria pesadíssima também. Os fãs não só da banda como da vertente correspondiam e tornavam a experiência completa bastante interessante para quem estava disposto a apreciar.
Anônimos Alhures, Fotógrafo: Christian Braga
É sempre sensacional ver bandas comandadas por mulheres. E Olívia de Moraes faz isso com maestria na Anônimos Alhures.
A líder do grupo já entrou no palco retrucando as comparações com a cantora Maria Gadú. “Eu canto rock!”, Olívia repetiu algumas vezes ao falar sobre o tópico. Comparações à parte, a vocalista é extremamente talentosa e tratou com muita competência um problema que teve com seu baterista e a busca por um substituto.
Uma banda que cativou imensamente o público foi a Antiga Roll. A maior parte eram meninas, é fato, mas isso não tira seu mérito. Diego Yamane (vocal), Tharciso Yamane (guitarra e vocal), Thiago Solimões (guitarra) e Neto Pato (bateria) fizeram uma apresentação baseada em De Jaqueta no Inferno, seu EP de estreia, e não decepcionaram ninguém.
Em uma conversa com o vocalista, ele falou sobre a necessidade atual do músico estar por dentro da cena e também fomentá-la não só através de seu trabalho, mas com iniciativas para se alavancar e trazer junto as bandas que estão no mesmo barco que você.
Autoramas, Fotógrafo: Christian Braga
Sem dúvida, o Autoramas era uma das grandes atrações da noite e uma das mais aguardadas de todo o festival. O trio subiu ao palco com um foco: tocar. Sem muita conversa ou enrolação. O público respondeu e dançou em cada faixa apresentada.
Um dos momentos mais especiais foi quando a banda tocou “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”, pareceria entre Rodolfo Abrantes e Gabriel Thomaz eternizada pelos Raimundos. Os clássicos “Mundo Moderno” e “Você Sabe” também estavam lá e ajudaram a tornar esse show único e muito divertido.
A tarefa de cativar o público após o excelente show do Autoramas não soava a mais grata, mas a Hipnose Death representou dignamente o heavy metal que está acostumada a tocar, foi lá e mostrou como se faz.
A banda está na ativa, entre ida e vindas e reformulações, desde 1989 e uma trajetória dessa magnitude ajuda muito a lidar com uma audiência diversa de um evento gratuito e em praça pública.
Antes do esperado show da Devotos, a Brutal Exuberância subiu ao palco. Com seu thrash metal, seus fãs bem fiéis e seus quase dez anos de carreira, Naldo, Evaldo, Afrânio e Sandinho fizeram uma apresentação ótima e provaram mais uma vez a pluralidade do festival, no qual todas as vertentes do rock tem a sua vez e a sua voz.
Devotos, Fotógrafo: Christian Braga
Quem ficou com a responsabilidade de finalizar a primeira noite do II Festival Amazonas Rock foi o Devotos, banda formada no ano 1988 em Recife. No repertório estavam “Roda Punk”, “Alien”, “Vida de Ferreiro”, entre outras.
Chega a ser mágico ver artistas fazendo o que gostam e do jeito que gostam. Se tem verdade, não há como ludibriar. É a música honesta. Foi isso que vimos nessa primeira noite do II Festival Amazonas Rock e é nisso que acreditamos.
Vale lembrar que diversos shows do evento foram transmitidos na internet através de streaming e podem ser visualizados aqui.