Soundgarden no Lollapalooza: o relato de um fã

Leia texto emocionado de fã que esteve no show do Soundgarden no Lollapalooza Brasil 2014.

Soundgarden no Lollapalooza: o relato de um fã

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Foto por I Hate Flash / Lollapalooza Brasil

Text por Luis Eduardo Bortotti

Cheguei tarde no segundo e último dia do Lollapalooza 2014. Eram 16:30, para ser um pouco exato. Estava ali apenas por uma banda, Soundgarden. Separei dos meus amigos e caminhei, caminhei, comprei uma cerveja e caminhei.

Uma pequena multidão já estava ali bem na frente do palco. Consegui ficar do lado direito a apenas uma pessoa de distância da grade.

Faltava muito tempo para o início do show, então, enquanto eu tremia pirado esperando as primeiras microfonias, resolvi conhecer quem também estava por ali. Havia uma garota de Belém, uma do Paraná e um de Brasília. Olhei ao redor, era incrível o número de mulheres. Chris Cornell ainda é um galã.

Os roadies passavam as guitarras e testavam as luzes do palco. Hora de esperar por mais alguns bons minutos. Eu tremia. Tremia muito. Alguns tragos para passar o tempo. Queria estourar logo. Então, apagaram as luzes.

A gritaria era imensa. Kim Thayil caminhou para a sua guitarra. Ao fundo, a introdução de “Searching With My Good Eye Closed“. Ali está eu, um porco, esperando o demônio não falar, mas sim gritar. Finalmente, o estouro!

Riff pesado, baixista lunático, vocal sensacional! Eu não pulava, a multidão me fazia pular. Sequência de peso com “Spoonman“, “Flowers” e “Outshined“. Chris Cornell encarava o público, mordia os dentes. Nos intimava de maneira hipnótica. Não precisava, a gente não ia parar em nenhum momento.

Eis que em introdução solo, Cornell puxa os acordes iniciais de “Black Hole Sun“. A hora dos isqueiros. Coral de falsetes para a bela voz de Cornell. Logo em seguida, ele agradece, pede desculpas pela demora da banda tocar no Brasil e nos oferece “Jesus Christ Pose“. Nos intimida novamente com uma cruz formada com sua guitarra e pedestal. Fecho os olhos e não paro de balançar a cabeça. A sujeira é grande neste som. Não preciso de mais nada.

O show caminha, para minha sorte, demora bastante. As músicas parecem não ter fim. “Like Suicide“, “Been Away Too Long” (única do novo disco King Animal, que segundo Cornell foi feito para nós), a surreal “The Day I Tried To Live“, “My Wave” e “Superunknown“. Sequência matadora do disco Superunknown, que completa 20 anos de lançamento.

Os isqueiros voltam, é novamente a hora do coro. “Blow Up The Outside World” durou um pouco mais, afinal, não parávamos de cantar os versos finais. E não paramos, mesmo após o término da música. Mais hits na sequência. “Fell On Black Days” e “Burden In My Hand“.

Ben Shepherd, que não parou um minuto e até virou seu microfone para o nosso lado, começa a despejar água em seu baixo. Ele esfria seu instrumento. Algo mais fervente está por vir. “Rusty Cage” explode. Ele erra o chute na garrafa de água e sai pulando feito um lunático. Ele não para.

O final do show está próximo. Cornell ergue uma bandeira do Brasil enquanto a barulheira inicial de “Beyond The Wheel” nos coloca no inferno. Soa bem Sabbath, dá medo de ficar ali, mas não quero sair. Imagino o que está por vir.

Mas não veio como imaginei. Veio infinitamente melhor. Cornell e seu vocal rasgado mostram fraqueza, mas ele continua, não para, intimida ainda mais. Ele desce. Amassado na grade esperando ele passar por mim e por centenas de mãos ao meu lado. Ele corre de um lado para outro, não para de gritar e volta ao palco. É o fim, Ben arremessa setlists como aviões de papel. Realmente é o fim. A microfonia é ensurdecedora. É genial. Kim e Ben não param. Eu não quero que parem. Quero ficar surdo. Eles saem do palco.

Se o inferno tiver essa porrada sonora que presenciei, é lá que quero estar. O povo caminha e sobe o morro lentamente. Estou baleado. Preciso de uma cerveja apenas, para tentar me esfriar e voltar à realidade. Estou com os olhos bem fechados e lembrando de cada momento. Realmente, foi o show que eu tentei viver para poder ver e valeu muito.