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Resenha: The Black Keys - Turn Blue

Depois do sucesso de <b><em>El Camino</b></em>, o The Black Keys se reinventa em <b><em>Turn Blue</b></em>, oitavo album da dupla.

Black Keys - Turn Blue

Black Keys - Turn Blue

Quão responsáveis são os produtores pelo sucesso ou pelo fracasso de um álbum? Elevados à estratosfera após produzirem discos bem recebidos pela crítica e pelo mercado, produtores de todos os tipos são crucificados em proporção equivalente quando assinam trabalhos ousados, onde os artistas decidem trilhar novos caminhos musicais por decisão própria ou influência externa de gravadoras.

Esse debate foi reaceso com a chegada à rede de Turn Blue, oitavo álbum do The Black Keys, um disco surpreendente pela falta de imediatismo em comparação com o anterior, o buquê de singles El Camino (2011). Turn Blue é parcimonioso, às vezes arrastado, e volta e meia psicodélico. Fãs e admiradores despretensiosos da dupla têm se dividido em uma linha muito distinta entre o amor e o ódio pelo álbum, e entre os mais fervorosos, há quem esperava novos hits para ouvir em festinhas alternativas, além daqueles que insistem em vociferar o quanto os discos anteriores eram melhores.

Conhecida por fazer blues garageiro com acentos pop, a dupla tem desde Attack & Release (2008) uma relação estável com o produtor Brian Burton, mais conhecido como Danger Mouse. Nome por trás de sucessos de Gorillaz, U2 e Cee-Lo Green – com quem fundou a dupla Gnarls Barkley, Danger Mouse produziu três dos quatro últimos álbuns do The Black Keys, entre eles, Turn Blue. Mas se Turn Blue é tão diferente, qual é o real envolvimento de Danger Mouse na nova sonoridade do The Black Keys?

Apesar de não parecer muito grande hoje em dia, o salto entre Magic Potion (2006) – ainda sem Danger Mouse – e Attack & Release – com Danger Mouse – foi extremamente importante para o baterista Patrick Carney e o guitarrista e vocalista Dan Auerbach. Burton deu corpo e suingue à distorção antes dura do The Black Keys. Preencheu os espaços vazios com baixos, teclados, órgãos, samples e pequenos efeitos sonoros. Arredondou as arestas e deu à dupla as ferramentas para transformar boas ideias em grandes canções. Deu confiança para que ambos pensassem fora da caixa, ou da garagem, e assumissem tudo o que gostariam de fazer musicalmente, mas não se sentiam capazes.

Os últimos anos não foram simples para Auerbach e Carney, criados na minúscula cidade de Akron, Ohio, e recentemente obrigados a lidar com o surto astronômico de fama e a multiplicação de turnês. Auerbach, para complicar, passou por um divórcio conturbado recentemente, com direito a lavagem de roupa suja em portais focados no cotidiano de celebridades.

O esgotamento mental e emocional obrigou o The Black Keys a desistir de algumas sessões de gravação do novo trabalho em 2013, embotamento interrompido somente após o nascimento espontâneo de “Weight of Love”, primeira faixa do disco. Em quase 7 minutos e três surpreendentes solos de guitarra, “Weight of Love” é intimista e grandiosa ao mesmo tempo. Os Keys, amparados por Danger Mouse, perceberam que algo ambicioso estava por vir e decidiram persegui-lo, fosse o que fosse.

O resultado é um álbum corajoso, ousado e experimental para os padrões do rock disponível no mainstream. Em vez de sentar à mesa de mixagem e ditar palavras de ordem para a dupla, Burton se juntou aos dois do lado de dentro do estúdio, alternando instrumentos e até soltando samples, como o de “Sandra”, do italiano Nico Fidenco, na ótima “Year In Review”, séria candidata a single.

Lamentoso até quando ameaça se animar, Turn Blue parece herdar menos do blues nos timbres e arranjos, e mais nos temas que sublinham todas as canções do disco. Entre as batidas retas e o baixo marcado do single “Fever”, Auerbach parece procurar um tesão antes onipresente que sumiu entre pequenices desimportantes. A frustração também permeia a letra da faixa-título do disco, de instrumental cansativo. Já em “Bullet In The Brain” o vocalista diz preferir uma bala na cabeça ao comodismo, e na setentista “10 Lovers” usa falsetes impressionantes – presentes também na funkeada “In Time” e na balada “Waiting On Words” – para admitir a fragilidade diante de uma separação iminente.

Na décima-primeira e última faixa, uma supresa: “Gotta Get Away”, um rock clássico à la Creedence Clearwater Revival que encaixaria perfeitamente em El Camino mas destoa aqui. A música, assim como a mediana “It’s Up to You Now”, foi produzida pelo duo sem interferência de Brian Burton. Não coincidentemente, são as faixas mais curtas do álbum, mas também são os pontos em que Turn Blue parece perder a direção.

Mesmo depois de virar Turn Blue do avesso, ainda é complicado explicar a equação entre Danger Mouse e o The Black Keys. A única certeza é que Burton não foi o motivo da mudança, apenas o meio para chegar até ela. Turn Blue é um álbum para ser digerido lentamente, de preferencia com bons headphones, depois de um dia cheio. É um trabalho complexo que apesar de derrapagens pontuais, funciona melhor do começo ao fim, e aponta um futuro curioso para o The Black Keys, com ou sem Danger Mouse.

Nota: 7