Ontem, 11 de Agosto, o Green Day promoveu a estreia de um novo e explosivo single chamado “Bang Bang”.
Exatamente um mês antes dos ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos completarem 15 anos, a banda também anunciou um novo disco de estúdio chamado Revolution Radio a ser lançado em 07 de Outubro.
E se os últimos lançamentos da banda não foram lá exatamente inspirados, #RevRad tem tudo para ser um dos discos do ano.
2004 e American Idiot
Antes de falarmos de Revolution Radio vale lembrar que há 12 anos o Green Day lançou American Idiot, seu disco mais ambicioso.
Quatro anos após Warning, disco que mostrou uma sonoridade voltada ao pop/rock e bastante distante das raízes do trio, Billie Joe e companhia resolveram gravar uma ópera-rock e não apenas o fizeram como deram um tapa na cara da sociedade dos Estados Unidos.
Com críticas sociais misturadas a experiências pessoais, logo no título o grupo já provocava, e American Idiot foi um sucesso.
Com músicas como a faixa título, “Jesus Of Suburbia”, “Holiday” e “Wake Me Up When September Ends”, o disco foi muito bem recebido por público e crítica e abriu uma porta para que o Green Day, ligado ao punk mas até então avesso às críticas sociais, encontrasse inspiração em letras contestadoras.
Lançar um disco, um single e um clipe nos Estados Unidos com o nome “Idiota Americano” apenas três anos após os ataques às torres gêmeas era, no mínimo, arriscado.
Revolution Radio
Muita coisa aconteceu nos últimos 12 anos até que a gente chegue a Revolution Radio.
A banda tentou repetir a fórmula de American Idiot em 21st Century Breakdown mas acabou com uma versão menos inspirada e depois veio a trilogia de Uno, Dos e Tré, que tem músicas boas espalhadas entre os álbuns mas que não produziu nenhum disco consistente.
Billie Joe foi para a clínica de reabilitação, o baixista da banda, Mike Dirnt, ficou ao lado da esposa em um longo processo de tratamento contra o câncer de mama e Jason White, guitarrista e “quarto membro”, enfrentou um câncer por conta própria.
Acontece que os anos se passaram, a Terra girou, e os Estados Unidos e o planeta parecem ter estagnado.
As motivações de Billie Joe
Não é preciso dizer que lá nos EUA, como aqui no Brasil, as pessoas passam por um período conturbado.
Se a nossa crise política é com o(s) governo(s) estabelecido(s), lá o problema é com o sucessor ou a sucessora de Barack Obama.
Além disso, o país passa por uma crise social onde negros estão sendo mortos por policiais e policiais estão sendo mortos como “vingança”.
Motivações políticas, sociais e pessoais foram justamente o que levaram Billie Joe, guitarrista, vocalista e principal compositor do Green Day, a começar o novo álbum:
Eu saí do meu carro e marchei com as pessoas. Foi muito doido ver as pessoas se rebelando contra a velha ordem.
Foi assim que Revolution Radio começou, e em entrevista para a Rolling Stone, BJ explicou que o episódio acima aconteceu nas ruas de Manhattan, em Nova York, quando ele dirigia pela cidade.
Pessoas estavam protestando contra a decisão da justiça de não punir o policial que matou o jovem Michael Brown, e o músico decidiu descer do carro e protestar com elas.
Billie Joe garante que o disco não é conceitual como American Idiot, mas traz visões políticas e sociais.
Além disso, ele também carrega experiências pessoais dos últimos anos e o impacto que, por exemplo, os tratamentos de Jason e a esposa de Mike Dirnt contra o câncer tiveram em sua vida:
Não é que eu tenha tentado escrever algo específico sobre eles, mas obviamente eu acho que à medida que o tempo passa você pensa, ‘Puta merda. A vida está acontecendo e pode ficar realmente intensa.’
Então eu acho que isso aparece no disco, imagino. Mas eu jamais seria tão superficial a ponto de escrever sobre a crise familiar de alguém ou algo do tipo.
“Bang Bang”
O furioso e explosivo primeiro single do disco, “Bang Bang”, é inspirado em acontecimentos recentes nos EUA.
Mais especificamente sobre pessoas que têm acesso fácil a armas e invadem escolas, igrejas, cinemas e matam dezenas de outras pessoas:
Ela fala sobre a cultura de tiroteio em massa que acontece nos Estados Unidos misturada com as redes sociais narcisistas.
Há um tipo de raiva rolando por aí, mas ela também está sendo filmada e todos estamos sob vigilância. Para mim isso é errado.
Entrar na mente de alguém assim [um atirador] foi assustador. Fiquei doido.
Depois que eu escrevi a música, tudo que queria fazer era tirar isso da minha cabeça porque eu ficava assustado.
Billie Joe ainda fala sobre como se imaginou na pele do atirador para compor a canção:
Eu não digo que estava tentando entender [o motivo pelo qual as pessoas fazem coisas tão ruins]. Eu só estava tentando sacar o personagem.
Eu não sei por que alguém faria algo tão terrível porque eu sei que eu nunca faria.
A ideia é refletir a cultura atual um pouco sem soar pretensioso.
Eu quero ser um mártir-celebridade
O pequeno homem em meu próprio drama privado
Hooray! Hooray! O herói do momento
O pequeno psicopata do papai e o pequeno soldado da mamãe
Sonoridade
Desde que começou a gravar o novo disco, Billie Joe disse que a banda iria voltar às origens.
Fazendo punk rock desde o início da carreira, a banda vinha flertando com outros elementos mais populares em seus últimos lançamentos e, pelo menos ao que “Bang Bang” indica, esse não será mais o caso.
Para tanto, o grupo se trancou no próprio estúdio chamado OTIS e gravou o disco todo por conta própria.
Foram embora os mega produtores como Butch Vig e o “produtor” de Revolution Radio é o Green Day.
Ao falar sobre a abordagem do trio para o disco, Billie Joe explicou:
Apenas deixamos acontecer. Honestamente, entrei no meu estúdio chamado OTIS, peguei meu amplificador Marshall e minha guitarra Les Paul Jr., liguei e pensei ‘Vamos começar com isso.’ E basicamente foi assim.
Eu sabia que quando a gente gravasse queria que a bateria tivesse uma cara diferente. Eu acho que na primeira semana a gente testou tipo, quatro bumbos diferentes só para encontrar aquele que não tem o som típico. E trabalhamos até com tom-toms. Tipo, todo o lance ‘nerd’ da música.
O músico ainda revelou que tocou até guitarra com arcos de violino nesse disco, mais especificamente em músicas como “Outlaws” e “Forever Now”.
#RevolutionRadio
Publicado por Green Day em Quinta, 11 de agosto de 2016
Vida Pessoal
A vida pessoal de Billie Joe foi exposta nos últimos anos, principalmente depois que ele surtou no palco em um show do festival iHeartRadio e entrou em uma clínica de reabilitação para tratar o alcoolismo.
Há músicas no álbum que refletem esse lado bem como outros aspectos de sua vida pessoal, como “Still Breathing” e “Too Dumb To Die”:
Essa última é bastante pessoal. Fala sobre crescer em um ambiente da classe operária sem saber como será o futuro e sendo um jovem que usa drogas.
E ela também faz uma referência ao meu pai, que era caminhoneiro, e vê-lo trabalhando e protestando por melhores condições. Eu me lembro de ver meu pai participando de greves várias vezes.
A música tem meio que o sentido de ‘algo está mudando de verdade?’
Por fim, a faixa que encerra o disco, “Ordinary World”, é uma balada que Billie Joe escreveu para o filme Geezer, onde atuou, e ele diz que é um jeito legal de finalizar Revolution Radio:
Depois de todo o caos que está no álbum, seja a cultura pop ou os apps que estamos usando, tudo é complicado demais.
Uma hora você quer algo simples, e é disso que ‘Ordinary World’ fala.
Hillary x Trump
O Green Day começou a trabalhar nas músicas do seu novo disco há dois anos.
Em 2014 ainda não se sabia que os candidatos à presidência dos EUA seriam Hillary Clinton com uma alta taxa de rejeição e Donald Trump com suas ideias ultra conservadoras.
Sendo assim, Billie Joe não teria como escrever a respeito, mas brinca que mesmo falando de forma genérica, as novas canções acabaram caindo como uma luva para a situação política atual do país:
Eu só posso partir da minha própria vida pessoal, mas esse é o maior caos que eu já vi em uma eleição. É assustador.
Eu não quero adicionar mais raiva ao processo. Eu só quero tentar pensar a respeito.
Essa é a primeira vez que essa eleição tem sido propagada com medo e ódio. E eu acho que com os dois, estamos meio que no modo de ‘luta ou fuga’. Todo mundo está assustado.
Em ambos os lados ninguém consegue se entender porque todo mundo está com medo, com ódio e não há um meio termo. Resumindo, é sobre isso que o disco fala. Mas eu também tento me ver como parte do problema.
Nota do editor: alguma semelhança com um certo país chamado Brasil?
Apesar de tudo isso, Armstrong se diz otimista quanto ao futuro dos EUA:
Eu sou otimista, de verdade. A maioria das coisas que a TV manipulada por corporações passa é o show de horror. É o reality show que fala tipo, ‘Olha no que essa eleição se tornou.’
Mas veja as outras coisas e os movimentos que estão acontecendo.
Acho que Bernie Sanders foi um desbravador, não apenas como um candidato que protestava, mas ele revolucionou Washington.
Eu acho que fazer com que as pessoas jovens comecem a votar e se candidatem a cargos em suas cidades… acho que os próximos 10 anos irão mudar o jogo.
Rock And Roll e a estrada
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Por fim, o líder do Green Day diz que não vê a hora de voltar à estrada para fazer seus shows.
Ele diz que a pausa entre discos é dura porque se sente “desempregado”, e gosta muito do que faz.
Além disso, quando questionado sobre a batida frase que diz que “o rock está morto” ele comenta:
É uma declaração tão ampla e absurda para se dizer sobre qualquer gênero da música. É como dizer ‘o ar morreu’ ou ‘a água morreu’. Não faz nenhum sentido.
Billie Joe, Tré Cool, Mike Dirnt e o Green Day bem que poderiam trazer seu rock and roll ao Brasil no ano que vem, não?
Revolution Radio, décimo segundo disco de estúdio da carreira do Green Day, será lançado em 07 de Outubro.
Tracklist
1. Somewhere Now
2. Bang Bang
3. Revolution Radio
4. Say Goodbye
5. Outlaws
6. Bouncing Off The Wall
7. Still Breathing
8. Youngblood
9. Too Dumb To Die
10. Troubled Times
11. Forever Now
12. Ordinary World