Entrevistas

Conversamos com o Suicidal Tendencies em uma coletiva de imprensa em SP

O Suicidal Tendencies está em turnê pelo Brasil neste fim de Abril, passando pelo Rio de Janeiro, Recife e São Paulo. Veja destaques de entrevista.

Como você já viu por aqui a banda de crossover Suicidal Tendencies está no Brasil para três shows, parte da turnê do novo disco, World Gone Mad. A banda tocou no dia 27 no Rio de Janeiro, 28 no Abril Pro Rock e, por fim, se apresenta em São Paulo, no Tropical Butantã, hoje dia 29/4.

Estivemos em uma entrevista coletiva com o Suicidal, em que Mike Muir e companhia falaram sobre o novo disco, a presença de Dave Lombardo na bateria, o amor pela música e pelo que faz mesmo quase quarenta anos depois do início da carreira, por que Trump é tão odiado e a forma como a banda acompanha música hoje em dia, entre muitas outras coisas. Veja abaixo a nossa seleção com perguntas e respostas da coletiva de imprensa.

Como tem sido a divulgação do novo disco, World Gone Mad?

Mike: Quando as pessoas começaram a perguntar a respeito desse novo disco, eu dizia que a gente estava junto, fazendo algumas músicas e vendo como isso ia funcionar, sem uma data para lançamento. Eu sempre tive a ideia de que ao lançar um disco, eu precisava olhar pra ele e pensar que se aquele fosse o último disso que eu lançasse, eu ficaria orgulhoso dele. Então, foi um desafio pra gente fazer algo que tivesse uma boa vibe e não soasse nostálgico, e algo que desse gosto de ouvir para as pessoas mais novas, como eu fui, quando eu tinha 16, 17 e vivia só música. Era isso que a gente queria fazer com esse disco: algo de que fôssemos nos orgulhar agora, mas ao mesmo tempo algo que pudesse ser uma referência pra quem tá começando a ouvir música agora.

O novo disco de vocês se chama World Gone Mad então, estou um pouco curioso: qual foi a inspiração por trás do nome? Algum fenômeno dos últimos anos inspirou vocês?

Mike: Obviamente há mil coisas que nos inspiraram, mas quando você é pai e seu filho te olha e te pergunta: “Hey papai… o que é isso que está acontecendo?” a coisa te toca de fato. É uma perspectiva completamente diferente do seu jeito de ver o mundo de quando você mesmo tinha seus 16 e você via o que estava acontecendo com o mundo. Você tenta explicar coisas que você realmente não pode explicar (risos). Pra mim, quando você é jovem e tenta ter aquela habilidade de se comunicar de um jeito… não é mentir, sabe? Eu acho que quando a gente envelhece a gente mente muito mais, sabe?

World Gone Mad está tentando dizer que sim, o mundo tá fodido, mas… quer saber de uma coisa? Eu não vou ser parte disso!

A verdade é que você tem que traduzir algo que não necessariamente está lá, então, eu acho que isso sempre volta a algo que meu pai dizia: quando você vê algo que está errado, você tem a responsabilidade de fazer algo a respeito. A vida te dá duas escolhas: você pode viver a sua vida tentando ver as coisas de um jeito positivo ou você pode ter desculpas… Então o World Gone Mad está tentando dizer que sim, o mundo tá fodido, mas… quer saber de uma coisa? Eu não vou ser parte disso!

Dave, você já tocou em muitas bandas além do Suicidal Tendencies, incluindo o Slayer. Quais são as principais diferenças entre o que você está fazendo agora no Suicidal e as experiências anteriores que você teve?

Dave: Antes de qualquer coisa, eu sempre fui fã do Suicidal, então estar aqui significa muito pra mim. E uma coisa que eu sinto que é maravilhoso a respeito dessa banda é que nós sentimos o palco – nós ficamos empolgados em cada um dos shows, não existe rotina, cada show é muito especial porque não importa o que aconteça, nós vamos simplesmente continuar. É real. E como um grande fã, não só do Suicidal mas do Mike, é uma honra incrível estar nessa banda. Eu amo essa banda. Ponto! 

O Suicidal Tendencies sempre foi uma banda muito politizada e a cena hardcore norte-americana sempre teve muito contato com músicos ou influenciadores mexicanos. Qual a opinião de vocês a respeito do Donald Trump?

Mike: Nós temos que responder essa? (risos)

Mike: Acho que para começar, eu preciso dizer que eu não gosto de política, eu acho política algo feio, algo que destrói o coração das pessoas. Meu pai sempre me dizia: “O seu coração é a resposta, você não deve acreditar nas pessoas”. Quando as pessoas te dizem o que você quer ouvir, não é a verdade. Mas não podemos olhar só para um lado, tem muita coisa errada acontecendo no mundo, é só dar uma olhada ao redor e ver a França, em vários lugares, as pessoas estão tentando reagir ao que está acontecendo. Estamos chegando em um ponto em que não há mais esperança e é aqui que nós começamos a cair.

Tem um monte de gente ao redor do mundo que gosta do Trump, porque ele tira o foco das coisas que estão acontecendo em seu próprio país…

A política nunca será a resposta, política não é sobre você, é sobre poder, e poder é sempre sobre manter o poder ao invés de mudar as coisas. Eu olho para o meu país e eu vejo que, infelizmente, olhando de um ponto humanista, tem um monte de gente ao redor do mundo que gosta do Trump, porque ele tira o foco das coisas que estão acontecendo em seu próprio país, porque tem um monte de coisa muito errada acontecendo em todo lugar.

Eu acho que de verdade o ponto é lembrar sobre o que é a vida… É sobre mudar coisas e não apenas sobreviver, é sobre ter um propósito. Tudo o que tira o seu foco disso, como a política geralmente faz, não vale a pena.

Eu não posso dizer que eu odeio o Trump ou que eu odeio todos os políticos, mas eu odeio o que eles representam. O que eles representam não é sobre pessoas representando elas mesmas, não é sobre pessoas acreditando nelas mesmas. Então, meu pai sempre dizia: “Nunca se torne aquilo que você odeia”. E, sabe de alguma coisa? Sempre tem alguém do outro lado que gosta do Trump (aqui, Mike imita gritos de pessoas protestando!). Se você odeia alguma coisa, tente fazer algo melhor. Eu nunca vejo as pessoas tentando fazer algo a respeito do Trump. É só ódio, é só (e imita novamente sons de gritos em protestos)… Faça algo positivo! Quando a política se torna positiva, quando alguém realmente ouve e faz, quando alguém se importa mais com pessoas do que com poder, então tudo funciona.

O mundo da música passou por uma série de mudanças desde o início do Suicidal até hoje, com o relacionamento do fã com a música por meio dos discos de vinil e encartes, depois o K7, o CD, até hoje em dia com a música digital. Nesse contexto, como vocês se relacionam com música? 

Dave: Então… apenas a minha opinião. Eu ouço música da forma como ela cruza o meu caminho. Eu não busco música, mas se um amigo vira pra mim e fala “Dave, ouve essa banda!”, eu pego o meu iPhone e escrevo o nome ali, e aí vou parar em algum site ou loja de música on-line e eu busco um pouco sobre aquele tipo de música, talvez até busque também no YouTube e escute… esse é o jeito que eu faço.

Mike: Quando eu era jovem e algum amigo falava “Cara, você tem que ouvir isso!”, você ia para uma loja de discos, olhava pra capa do álbum, ouvia algumas músicas e, às vezes porque você não tinha dinheiro, você não podia consumir aquele som. Naquela época você ficava ouvindo um disco por duas horas. Hoje em dia você tem acesso a milhares de músicas ao mesmo tempo, e você não precisa mais ficar parado duas horas para ouvir um disco. Por causa disso, eu acho que a música perdeu um pouco a sua importância para as pessoas. Minhas crianças às vezes me falam: “Papai, quando você era mais novo, você jogava isso?” e eu respondo “Quando eu era mais novo, isso não existia”. E eles se assustam com isso, se perguntando o que é que a gente fazia quando esses joguinhos de hoje não existiam. Então eu acho que tem muita coisa acontecendo além de música no mundo e por isso as pessoas não têm o mesmo interesse por música, o mesmo sentimento que se tinha no passado, isso faz as coisas mais difíceis.

Hoje para o artista está cada vez mais difícil criar valor para sua música, e quando eu digo “criar valor”, eu digo fazer uma conexão com o público que não seja só quando ele ouve a música, mas que atinja seu coração, essa é a coisa mais difícil a se fazer. Então você pode fazer um monte de músicas que atinjam os ouvidos das pessoas, mas criar essa conexão com o fã para que ele sinta que entendeu aquilo com o coração é muito difícil. É por isso que eu tento voltar ao meu eu de quando eu tinha 16 e me pergunto: “Se eu ouvisse isso, o que eu sentiria?”. É isso que a gente está tentando fazer com a nossa música, recuperar aquele sentimento.

Acesse o site do Suicidal Tendencies para adquirir seus ingressos para os próximos shows no Brasil e saber mais sobre o novo trabalho da banda.