O Far From Alaska foi aos EUA e voltou de lá com um dos grandes discos do ano

Após se tornar um dos principais nomes do rock nacional com disco de estreia, Far From Alaska volta com o competente Unlikely.

Far From Alaska
Foto por Murilo Amancio

Ah, o temido segundo disco.

Toda banda que leva sua carreira a sério passa por sérias dificuldades ao gravar o segundo álbum, muito frequentemente porque o primeiro foi bem recebido e as expectativas em cima do sucessor são enormes.

Alguns nomes sabem lidar muito bem com isso e acabam crescendo, outros nem tanto, mas o fato é que o trabalho seguinte à estreia pode ser tanto um desastre que reflete as pressões internas e externas quanto um sucesso decorrente do amadurecimento do artista nesse meio tempo.

Com o Far From Alaska foi a segunda opção.

A banda resolveu apostar em uma campanha de financiamento coletivo para gravar seu segundo álbum, Unlikely, e com o dinheiro arrecadado foi para os Estados Unidos onde gravou com Sylvia Massy, produtora que já trabalhou com nomes como System Of A Down, TOOL e Johnny Cash.

Far From Alaska - Unlikely

Essa é outra questão importante, inclusive: já vimos aqui mesmo no Brasil bandas que arrecadaram dinheiro dos fãs, foram a um estúdio renomado e voltaram de lá com um material sem sal. A oportunidade é incrível mas pode ser desperdiçada de forma imperdoável. Mais uma vez, não foi o caso; ponto para a banda potiguar.

Unlikely parte do ponto onde o disco de estreia da banda ficou, com grandes riffs de guitarra e músicas bem estruturadas, e insere novas camadas de elementos que resultaram em um dos melhores discos de rock nacional desse e dos últimos dez anos.

Os riffs estão ainda mais matadores, os vocais de Emmily Barreto cresceram absurdamente de modeHuman pra cá e a presença de Cris Botarelli com os seus vocais também funcionou bem demais. Pra fechar o pacote, a cozinha da banda carrega tudo isso de forma competente como podemos ouvir durante todo o álbum.

“Cobra” poderia ser facilmente um hit das rádios de rock dos Estados Unidos e da Europa, e se podemos fazer qualquer tipo de crítica ao disco é que poderíamos ter mais uma ou duas delas, com refrão pegajoso e pronto pra dominar o mundo.

Ainda assim, a partir da faixa de abertura, Unlikely só melhora.

Enquanto “Bear” e “Flamingo” misturam diferentes andamentos e alternam momentos dançantes que deixariam Josh Homme feliz com guitarras pesadas que fariam o mesmo, “Pig” é um show de lap steel que desemboca em vocais primorosos de Emmily e um retorno aos Anos 90 digno dos hits de Alanis Morissette.

A gama de vocais no disco, inclusive, já pode ser percebida logo na faixa seguinte, “Elephant”, onde temos uma quase balada com um refrão belíssimo e gritos imponentes dizendo que “it takes darkness to see the light”. Na mesma canção, quando você menos percebe, vai da contemplação às batidas de cabeça, de forma bastante natural.

“Monkey” tem uma pegada funk a la Red Hot Chili Peppers antes de, mais uma vez, cair nas distorções pesadas e um trecho de “CD riscado”, antecedendo “Pelican”, com um refrão facilmente “cantável” que fala sobre alguém que colocou a banda para tocar em um side show e hoje ouve o grupo nas rádios. O Far From Alaska não guarda rancor, guarda nomes.

Chegando à oitava faixa do disco vale ressaltar o conceito todo de Unlikely, muito além da música: todas as músicas têm nome de animal, menos essa, “Pizza”. Improvável, não? Tanto quanto a capa onde o lado da geleia cai pra cima, a identidade visual de uma banda pesada que optou pelas cores e a própria canção, que mistura rock and roll clássico, punk, música eletrônica, efeitos nas vozes, Português e Inglês. Medo de arriscar? A banda não tem.

“Armadillo” lembra o disco anterior enquanto “Rhino” é mais um ponte onde o Far From Alaska mostra que se levar a sério é a última coisa que quer fazer nessa vida: aqui a banda brinca sobre como não tem uma letra pronta para a música e diz que “dara dara hey” pode não funcionar.

Para fechar o disco aparece “Slug”, que com mais de 5 minutos lembra bandas como Metallica, atravessa um espaço cheio de melodia e volta ao caos com frases invertidas, feedback de guitarras e um clima apocalíptico para o fim dos tempos do disco.

“Coruja”, a faixa bônus que vem na sequência, talvez funcionasse melhor dentro da ordem normal de Unlikely, ou se fosse disponibilizada mais pra frente como b-side, por exemplo.

O Far From Alaska superou as dificuldades naturais de um segundo disco, aproveitou a experiência que teve em estúdio com uma produtora das mais competentes e elevou o nível da sonoridade que apresentou na estreia.

Não só tirou nota 10 no teste onde muitas bandas escorregam, como criou um material que reflete bem os integrantes da banda e lançou um dos melhores discos do ano. E, perceba, não uso a expressão “disco nacional” porque Unlikely está prontinho para estourar tanto por aqui quanto na Europa ou nos Estados Unidos, onde a banda inclusive já tocou. Que venha o mundo.