Por Nathália Pandeló Corrêa
Quem viveu as décadas de 80 e 90 muito provavelmente se lembra de sucessos como “Listen To Your Heart”, “The Look”, “Fading Like a Flower” e “Spending My Time”. Não precisa ser fã do duo formado por Marie Fredriksson e Per Gessle pra reconhecer os refrãos impactantes, as baladas desenhadas para balançar arenas, as guitarras e teclados tão datados quanto os cortes de cabelo. O Roxette viveu nessas décadas o seu auge comercial e criativo, e inevitavelmente virou trilha sonora na vida de muita gente. Prova disso é a comoção gerada nas redes sociais pela morte de Fredriksson após uma batalha de quase 20 anos contra um câncer.
Talvez a importância do Roxette se resuma aos números impressionantes de vendas de discos pelo mundo todo. Foram 19 músicas número 1 no Reino Unido, incontáveis sucessos na Billboard americana, uma estimativa de 75 milhões de cópias vendidas, discos de ouro e platina nos por hits como os álbuns Joyride e Look Sharp!. Depois do ABBA, nenhum outro artista na história da Suécia teve tanto sucesso comercial – o que não é pouco, considerando que essa é a terra de diferentes gerações do cenário pop, de Ace of Base a Robyn, de Avicii a Tove Lo.
Mas quando Marie Fredriksson e Per Gessle se uniram no Roxette, não só eles já tinham uma considerável trajetória solo, como vinham trilhando um caminho de estrelato que foi aberto justamente pela geração anterior. Somando ao que o próprio ABBA havia conquistado, o duo manteve os olhos do mundo voltados para o cenário sueco por tempo suficiente para, alguns anos depois, ver nascer a geração do fenômeno Denniz Pop, um pioneiro do remix que ajudou a estabelecer o fenômeno global Ace of Base. Pouco tempo depois, com a ajuda dos recém-recrutados Jacob Schulze, Kristian Lundin e um certo metaleiro chamado Max Martin, seu Cheiron Studios em Estocolmo virou o epicentro para jovens em busca da fórmula mágica que veria nascer sucessos como “Quit Playing Games (with My Heart)”, “Tearin’ Up My Heart” e “…Baby One More Time”, de Backstreet Boys, ‘N Sync e Britney Spears. Corta pra 2019 e, mesmo com o falecimento prematuro de Denniz Pop aos 35 anos, também vítima de um câncer, Max Martin segue como o grande produtor do gênero, somando mais de 20 sucessos #1 na Billboard – e contando.
A Influência do Roxette
Muito antes disso, o álbum Joyride, do Roxette, foi um caso digno de nota. A concorrência em 1991 era pesada – o U2 vinha com seu Achtung Baby. Nirvana tinha Nevermind, Red Hot Chili Peppers lançaram Blood Sugar Sex Magik, R.E.M. teve Out of time saindo no mesmo ano. Pra completar, Michael Jackson lançava Dangerous e o Guns n’ Roses soltava a parte I de Use Your Illusion. Nada mal pra um ano só – mas também nada que deixasse pra trás canções como a faixa-título, “Fading Like a Flower”, “Spending My Time” e “The Big L”. Em comum, elas tinham uma vocação pop inegável – e a exibiam com orgulho. Não muito tempo depois, em 1995, a banda explicitava essa filosofia na coletânea Don’t Bore Us, Get To The Chorus! (Não nos entedie, chegue logo ao refrão), mostrando que sabia e estava disposta a entregar o que o público quer.
Seria fácil reduzir o impacto do Roxette a esses números e comparações – mas nada disso explica o carinho com que as pessoas tiraram o dia de hoje pra relembrar músicas, shows, clipes, discos. Não explicaria o motivo de, em plena era do streaming e de playlists bombando, as rádios ainda insistirem em tocar “It Must Have Been Love” – e por que você não resiste em cantar no banco do táxi.
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Considerando que Marie e Per não lançaram nenhum disco pós-Good Karma, de 2016, é compreensível que o nome da banda não seja o primeiro a dar as caras no Daily Mix de muita gente. Mas não há algoritmo que preveja a tal da memória afetiva, e é por isso que tantas pessoas vão se surpreender ao dar de cara com uma “Dangerous” no meio da timeline e lembrar daquela festinha adolescente, aquela música que dedicou ao crush, aquele tema de novela.
Talvez naquela época, Roxette fosse o típico pop rock inofensivo que os pais gostavam de ouvir. Como o mundo dá voltas, agora aquela mesma geração tem os seus próprios filhos e consegue olhar com um pouco mais de carinho – e gratidão – para aquela banda que embalou tantos de seus momentos.
É por isso que a última turnê do Roxette se chamava “The Neverending World Tour” (“A Turnê Mundial Sem Fim”) e durou sete anos – até Marie ter de cancelar vários shows por recomendações médicas. É também por isso que Gessle fez uma série de apresentações solo no ano passado, recordando o repertório da banda. E é também por isso que os hits do Roxette permanecerão. Não deixarão de ser inesquecíveis e parte da vida de quem se permitiu curtir cada balada, cada riff, cada calça de couro, cada cabelo platinado. Porque a vida é curta demais para não curtir o que faz bem – e a de Marie Fredriksson é a prova de que, mesmo assim, dá tempo de divertir e emocionar multidões.