Como um dos Insiders do festival SWU, meu interesse por sustentabilidade e ações que contribuem para a colaboração com o nosso meio ambiente cresceu ainda mais, e comecei a pensar em uma matéria que simbolizasse isso pra postar aqui no TMDQA!
Cheguei à conclusão que não havia nada mais justo que fazer uma matéria sobre a coleta seletiva aqui de Florianópolis, que é levada bastante a sério pela Comcap, a Companhia Melhoramentos da Capital, uma empresa de economia mista que cuida da limpeza da capital do Estado de Santa Catarina e existe há 38 anos.
A companhia recolhe em média 14 mil toneladas de resíduos sólidos por mês no Verão e 10 mil na baixa temporada, e o mais bacana, em média 600 toneladas de materiais recicláveis por mês durante o ano, que são separadas e doadas a duas associações de triadores da cidade.
O site da Comcap é esse aqui e lá há matérias e links sobre todos os trabalhos que eles realizam, incluindo ações de sustentabilidade, educação infantil, museu do lixo, números e vários outros exemplos que podem ser levados até mesmo por você, leitor, à prefeitura da sua cidade.
Pra completar, descobri que no Museu do Lixo da Comcap há um trabalho legal com discos de vinil, que você pode conferir na entrevista e em foto abaixo!
Entrei em contato com o pessoal da empresa, que foi super atencioso, e fiz uma entrevista com Paulo Pinho, gerente do Departamento de Coleta de Resíduos Sólidos da Comcap, que você pode ler logo abaixo. Vale a pena a leitura!
TMDQA! : Em linhas gerais, como funciona o programa de Coleta Seletiva em Florianópolis hoje?
Paulo Pinho: A Comcap, empresa de economia mista cuja maior acionista é a Prefeitura Municipal de Florianópolis, oferece coleta seletiva de materiais recicláveis a mais de 90% da população. Conforme levantamento do Departamento Técnico, em torno de 70% da população tem coleta seletiva na porta de seu domicílio no mínimo uma vez por semana. Mas há regiões como o Centro da Capital onde a coleta seletiva já é feita de segunda a sexta ou o Continente, onde ocorre duas vezes por semana. A coleta seletiva só não é feita em ruas e servidões de difícil acesso ou manobra para os caminhões baús, ainda assim em mais de 20% destas áreas, a Comcap providencia equipamentos coletivos para encaminhar os materiais à reciclagem. Em geral, nesses casos os moradores levam seus materiais até uma rua onde passa a caminhão da coleta seletiva ou no PEV (ponto de entrega voluntária) do CTReS.
Coleta Seletiva em Florianópolis por tipo de coleta:
População total: 525.719 habitantes
População atendida de porta a porta: 367.633 hab. ou 69,6%
População atendida por Rua geral ou Lixeira Comunitária [1] – 115.088 hab. ou 21,9%
População não atendida – 42.994 hab. ou 8,2%
[1] Considerando a distância da residência até o ponto de coleta mais próximo em até 1km.
A produção da coleta seletiva da Comcap, que tem alcançado em torno de 600 toneladas/mês é doada pela municipalidade para associações de catadores de materiais recicláveis. A maior delas, a ACMR, está inclusive instalada em galpão cedido pela Comcap no CTReS do Itacorubi, a partir de termo de ajustamento de conduta elaborado pelo Ministério Público de Santa Catarina e assinado pela Prefeitura Municipal de Florianópolis e a representação dos catadores que até fevereiro de 2009 operavam no Centro da cidade.
TMDQA!: Quais são as recomendações para as pessoas que têm interesse em separar o lixo de suas casas? Como fazer para que a Comcap passe recolhendo esse lixo devidamente separado?
Paulo Pinho: As pessoas, se ainda não repararam nos dias em que passa o caminhão na sua rua, devem entrar no site www.comcap.org.br, no link serviços e conferir o dia e o horário da coleta seletiva no seu bairro. Nesse dia, devem colocar os materiais recicláveis secos – plástico, metal, vidro e papel – em sacos transparentes na rua. Os materiais devem estar limpos, mas podem ser colocados numa mesma embalagem.
TMDQA!: Há algum tipo de ação que possa ajudar o trabalho e o funcionamento da coleta seletiva, como lavar caixas de leite, amassar latinhas, separar recipientes com óleo?
Paulo Pinho: Sim, exatamente. Os materiais devem ser lavados – pode-se fazê-lo deixando-os no fundo da pia ou usando água reaproveitada da máquina de lavar, por exemplo. O importante é evitar que restos de comida permaneçam nas embalagens contaminando os materiais recicláveis e tomar o cuidado de embalar vidros quebrados. As latinhas podem ser amassadas para reduzir o volume, o papelão pode ser enfardado. O óleo deve ser encaminhado para outro sistema de coleta especializada que já existe em Florianópolis. A Acif em convênio com a Comcap realiza a coleta do óleo de cozinha usado por meio da rede de postos Galo. Quem mora em casa, também pode separar materiais orgânicos como cascas de frutas e de ovos, sobras de verduras, restos de comida, aparas de grama e fazer compostagem doméstica.
TMDQA!: Além de realizar a coleta seletiva, que outros tipos de ação a Comcap promove para conscientização da população e divulgação dos seus projetos?
Paulo Pinho: A Comcap cuida da limpeza urbana convicta de sua missão de promover o saneamento ambiental. Por isso, Florianópolis foi uma das cidades pioneiras na implantação da coleta seletiva no Brasil, ainda no final dos anos 80. No último ano, a coleta seletiva triplicou na Capital. Isso representa o seguinte: se todo o lixo produzido durante um ano pela população de Florianópolis fosse acumulado resultaria numa montanha com a altura de um edifício de 35 andares. Com a coleta seletiva, consegue-se reduzir essa torre de lixo em dois andares. Ainda há muito a evoluir, levando-se em conta que a população da Capital recicla em torno de 15% do que poderia, mas a cidade já andou bastante. Basta lembrar que hoje, em Florianópolis, a coleta seletiva recolhe o equivalente a 6% do total de lixo recolhido pela coleta convencional. Isso, computada apenas a coleta seletiva da Comcap, sem contar grandes redes de supermercados, por exemplo, que promovem programas de logística reversa ou o ReÓleo, ou a ação de catadores informais. Em cidades como o Rio de Janeiro, esse percentual é bem inferior, em torno de 1%. O conceito dos 4 érres: repensar, reduzir, reaproveitar e reciclar orienta toda a logística de trabalho e planejamento da companhia. Seja quando está recolhendo resíduos, varrendo ou capinando ruas ou mesmo limpando valas.
TMDQA!: Vocês têm um trabalho muito forte com as crianças da cidade, através de palestras, atividades e até livros educacionais todos levados até as escolas de Floripa para conscientizar as crianças desde pequenas. Como é a resposta delas, e mais importante, como é a resposta dos pais delas, que por muitas vezes podem aprender tanto quanto seus filhos em ações como essas?
Paulo Pinho: Justamente, o trabalho do Museu do Lixo completou sete anos agora em setembro. Nesses anos todos, mais de 30 mil visitantes, na absoluta maioria crianças, passaram por lá e foram transformadas em agentes ambientais na mandala criada pelo coordenador do Museu, o educador ambiental Valdinei Marques. A Comcap tem convicção de que são grandes multiplicadores desta mensagem. Na escola, na família, na sociedade, enfim. Tanto que, neste aniversário, várias escolas voltaram para apresentar peças de teatro e músicas que os estudantes desenvolveram a partir da sensibilização no circuito do lixo.
TMDQA!: O que é o Museu do Lixo? Nas fotos do site vi que há vários discos de vinil pendurados na parede, o que nós que temos mais discos que amigos adoramos!
Paulo Pinho: O Museu do Lixo é o momento mágico da visita ao circuito do lixo. Os monitores percorrem com os visitantes a área que até 1989 servia como lixão da cidade. Ao final, no Museu do Lixo, pode ser vista uma coleção de mais de 2 mil itens de artigos separados do lixo pelos garis da Comcap ou doadores. É uma espécie de memorial do consumo, porque mostra como os artigos são descartados ainda em boas condições de uso e também uma forma inusitada de contar a história da cidade e dos seus moradores. Sem contar que, com a ação dos educadores ambientais, o Museu do Lixo também demonstra como os materiais podem ser reaproveitados, com sua transformação em brinquedos ou sua reutilização como peças de mobiliário, etc. Os discos de vinil são uma coleção bem especial do Museu do Lixo. Inclusive porque, durante as visitas, são rodados num toca-discos reabilitado pelo Valdinei. Ele agora, acabou de instalar a rádio museu, com mesa de som e aparelhagem inteiramente recuperada do lixo. Então, convide o pessoal para conhecer o Museu do Lixo, ver os discos e fazer novos amigos.
TMDQA!: Como a Coleta Seletiva afeta a economia da cidade?
Paulo Pinho: Calcula-se que, somando a renda que as associações de catadores obtêm com a venda dos materiais recicláveis doados pelo município com a economia que a prefeitura faz ao reduzir o custo com aterramento do lixo, a coleta seletiva da Comcap representa uma riqueza de aproximadamente R$ 1,5 milhão a cada ano. Sem contar os ganhos ambientais indiretos, com a redução da retirada de matéria-prima da natureza ou o aumento da vida útil do aterro sanitário.
TMDQA!: Parabéns pelo trabalho! Vocês podem deixar um recado para que o pessoal de todo o país leve Florianópolis como exemplo.
Paulo Pinho: Obrigado. A Comcap se esforça para ter uma atuação que corresponda à beleza e às fragilidades ambientais de uma cidade como Florianópolis. Inclusive porque é uma empresa de natureza pública e tem um patrão exigente: o cidadão que quer o melhor destino para a Capital dos catarinenses.
Agradecimentos: Adriana Baldissarelli, Assessoria de Comunicação da COMCAP
Fotos: COMCAP / Adriana Baldissarelli
Site Oficial: www.comcap.org.br