Não tinha como não perceber que o Porto Musical 2011 estava chegando ao fim. Era possível ver participantes da Convenção sentados pelos sofás com um ar de abatimento – não sei se do pouco tempo dormido por conta dos shows da noite anterior ou pela maratona de palestras. O cansaço foi percebido no pequeno atraso para se iniciar as primeiras palestras do dia, não por atraso dos conferencistas mas sim pelo público.
Mais uma conferência com Benjamim Taubkin – ele já tinha falado no primeiro dia. Em sua nova fala, Taubkin relatou sobre o “Artist Fellows” (entenda um pouco mais clicando aqui).
Benjamim iniciou comentando uma mentalidade que tem atingido alguns artistas: “em qualquer lugar o artista ficou muito dependente das instituições”, isso tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Lá com empresas e instituições não-governamentais e aqui com as instituições ligadas aos governos federais, estaduais e municipais. Aliado à isso ele falou também sobre o artista ser contaminado com a ideia de ser uma celebridade e isso muitas vezes acaba com a essência do que ele realmente deveria fazer como artista.
Falando especificamente sobre o “Artist Fellows”, Taubkin ressaltou dois dos três pontos do projeto. O primeiro é o pensamento de ser pequeno e não buscar o tão sonhado “crescimento”. Esperar sempre grandes públicos, grandes vendagens – coisas que nem os grandes têm conseguido – e alcançar o sucesso. Para Taubkin é preciso ter “olhares menores, mais localizados. Menores no sentido de mercado e maiores no sentido de criação”. É preciso parar de se cobrar por algo exterior ao de ser músico e passar a acreditar no que faz pois assim você encontrará as pessoas que vão apreciar o seu trabalho.
O segundo ponto foi sobre a questão dos artistas buscarem relações com suas comunidades. Pensar na formação de público localmente.
A segunda palestra do dia foi com Marcelo Goldenstein, Gerente Setorial do BNDES no Departamento de Cultura, Entretenimento e Turismo. Goldenstein veio apresentar dados sobre o “BNDES Procult”, instrumento criado pela entidade no final de 2009 para financiar o setor de música.
Marcelo mostrou dados sobre a crise da indústria fonográfica e alguns motivos para ela ter despencado. Sobre um dos motivos, a pirataria, Marcelo comentou que “baixar é uma das formas de achar o que você quer ouvir. Nas lojas, as vezes, não se encontra de tudo”. A pessoa “pirateia pois os outros produtos culturais são mais baratos do que um cd”. Goldenstein ainda falou que se as grandes gravadoras tivessem se dado conta das novas formas de divulgação, elas estariam em uma situação melhor. Ele sugeriu que alguma major tivesse comprado o Napster na época.
Após a explanação sobre os motivos da crise da indústria da música, Marcelo falou sobre algumas tendências irreversíveis desse setor. Uma dessas tendências é a ampliação do comércio digital, seja via donwload ou via streaming. Neste momento Marcelo falou uma daquelas coisas que você vai demorar muito para esquecer, na verdade ele citou o Jonas Woost do Last.Fm, que esteve em 2009 no Porto Musical, “música sempre existiu. O cd foi apenas uma besteira que apareceu no século XX”.
Chegando no final, Marcelo Goldenstein falou como o BNDES pode financiar o setor da música e sobre os projetos e editais que existem para a área. O valor mínimo para ser disponibilizado é de 1 milhão de reais, que muitas vezes não há artistas com projetos dentro dos requisitos para serem beneficiados com tal verba. Para outras informações sobre a palestra de Goldenstein clique aqui.
Após o almoço, a primeira palestra foi com Geber Ramalho. Geber é professor do Centro de Informática da UFPE desde 1997, onde trabalha na área de Jogos digitais, Computação Musical e Inteligência Artificial. Em sua fala no Porto Musical, ele abordou um de seus projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação: o “Delta Zero: Base Recife de Indústrias Criativas”. Em Recife, ainda, ele ajudou a fundar empresas tais como Meantime Mobile Creations, pioneira de jogos móveis no Brasil, e D’Accord Music Software, destaque brasileiro na área de tecnologia musical.
Para falar sobre o Delta Zero, Geber deu uma breve introdução sobre indústrias criativas e o motivo disso estar na moda. Muito tem se discutido pois há o motivo econômico por trás de todo o discurso. Geber usou uma frase de George Bush (pai): “It’s The Economy, stupid!”
Diretamente sobre o Delta Zero, Geber apresentou o projeto que ele chamou de ambiente empreendedor em economia criativa. Uma das missões do projeto é “fomentar uma cultura empreendedora e empresarial, assim como facilitar a capacitação de pessoas. Dentre as diversas áreas que o Delta Zero vai atuar destaca-se a de Pesquisa e Desenvolvimento de jogos, música, animação; e os estúdios de animação, finalização de áudio e imagens.
Em breve este projeto deve ser executado reafirmando ainda mais a cidade de Recife como um dos polos de tecnologia do Brasil.
A palestra seguinte foi com a Rede Música Brasil. O local dos palestrantes foi tomado por diversos representantes da RMB que se apresentaram e falaram um pouco da formação da Rede, que por sinal foi no Porto Musical de 2009, e de como ela tem atuado no setor da música no Brasil. De mão em mão o microfone foi passando por Arpub (Associação das Rádios Públicas do Brasil), Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes de Música), Fora do Eixo (rede de trabalho criada por produtores culturais do centro-oeste do Brasil), entre outras entidades da música independente brasileira.
Na conversa com o público, os membros da RMD apresentaram os objetivos e o planejamento atual do programa.
E as conferências do Porto Musical 2011 foram encerradas com um Painel Final onde personalidades de cada canto do mundo sentaram para discutir e trocar ideias sobre as diversas visões de mercado. Quem participou deste painel final foram Bryn Ormrod, representando a Europa – Bryn já tinha falado no Porto sobre “os desafios do mercado do Reino Unido e da Europa para artistas brasileiros emergentes. Representando os Estados Unidos estava Bill Bragin.
A América Latina foi representada por Juan Paz, que deu uma conferência sobre “O Panorama digital na América Latina: realidade, desafios e potencial”. A Ásia foi representada por Makoto Kubota e o Brasil por um dos diretores do Porto Musical, Paulo André Pires, também conhecido por ser produtor do Abril Pro Rock.
Os últimos showcases ficaram por conta da Catarina Dee Jah (PE), o DJ Tudo e Sua Gente de Todo Lugar (SP), Lindigo (França) e o DJ Set do DJ Acidophilus. Abaixo você confere algumas fotos e para outras tantas, clique aqui.