Entrevistas

Entrevista com <b>Bruno Souto</b> da banda <b>Volver</b> - Parte 1

Leia a primeira de quatro partes da conversa que o <b>TMDQA!</b> teve com o <b>Bruno Souto</b> da banda pernambucana <b>Volver</b>, que atualmente está finalizando o terceiro disco da carreira! Nessa primeira parte confira o início e o desenvolvimento da banda.

Entrevista com Bruno Souto da banda Volver

Bruno Souto é o vocalista e guitarrista da banda pernambucana Volver. Recentemente o músico recebeu o Tenho Mais Discos Que Amigos! e o Rooda Cultura em um estúdio na cidade de Olinda, local da mixagem do próximo disco da banda, o “Próxima Estação”, terceiro da carreira do grupo.

Atualmente, a Volver está morando em São Paulo, onde tenta viabilizar melhor a carreira e conquistar um novo público, visto que em seu estado natal a banda já, digamos, fez tudo que poderia fazer. Porém, a banda está Recife desde dezembro onde gravaram e estão finalizando o novo disco, cujo processo foi registrado no blog VolverProximaEstacao.blogspot.com.

O próximo show da banda será no Abril Pro Rock deste ano, onde tocará no APR Club no dia 9 de abril com a banda paulista Cérebro Eletrônico.

Conversamos por quase uma hora com um Bruno, muito simpático e aparentemente empolgado com o momento atual da Volver. Falamos sobre o início, o desenvolvimento e sobre a nova residência da banda. Bruno falou, também, sobre o novo disco, algumas músicas em particular e a participação de outros artistas no novo trabalho. Comentou acerca do cenário musical de Pernambuco e da indústria da música nos dias de hoje.

A conversa foi bem construtiva, mas um pouco longa, por isso ela foi divida em quatro partes. A primeira é sobre o início e o desenvolvimento da Volver. Confira abaixo!

Bruno Souto, vocalista e guitarrista da banda Volver
(Foto por João Carlos)

TMDQA!: Bem, Bruno, o nome do site é Tenho Mais Discos Que Amigos!

Bruno Souto: É um nome genial. É tipo o livro “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby. Tipo, “Nunca confie em alguém que tenha menos de 500 discos”, essa parada. Tem até um filme com John Kusack, que é o dono de uma loja de discos que tudo dele é listas, né? “5 melhores discos pra escutar numa segunda-feira de manhã”, sabe? Um negócio assim. Daí tem muita piada. Então foi uma das primeiras coisas que eu lembrei quando vi o nome do site.

TMDQA!: Bem, você poderia falar um pouco da história da Volver?

BS: O início da banda foi em 2003, se não me engano. Não exatamente começou, tinha o lance da idéia da banda: “Vamos fazer uma banda!”, isso em janeiro ou fevereiro de 2003. Eu tinha uma banda, pois comecei a gostar de tocar mesmo com os meus 14 anos. Minha pelada era isso. Deixei um pouco de passar o dia jogando futebol na rua e passei a ir muito aos estúdios para ensaiar mesmo. Não tinha nada de autoral, era só covers. A gente gostava do filme “Backbeat – Os cinco rapazes de Liverpool”. No dia que a gente viu, enlouqueceu. Ai, depois, ficamos ensaiando Green Day, Offspring, anos 90 e tal. Mas isso só na brincadeira. Daí teve uma época que começamos a fazer música autoral, só que um lance mais groove, mais funk e soul. Era algo mais coletivo. Só que eu sempre curti Jovem Guarda, Beatles, e ai quis fazer uma banda que tivesse essas influências. Foi quando eu chamei um amigo meu, Diógenes, o primeiro guitarrista da banda. E ficamos nessa vontade. A primeira música que eu fiz foi “Lucy” (do primeiro álbum, “Canções Perdidas Num Canto Qualquer”, de 2005). Está até na demo da banda.

Depois veio “Você Que Pediu” (também do primeiro álbum). Essas foram as primeiras músicas – isso sem banda, só com a vontade e compondo.

Eu mostrava pra Diógenes e ele já fazia os arranjos, mas sem banda. Foi muito difícil arrumar baterista e baixista. Me lembro que teve o show do Cachorro Grande no Abril Pro Rock, o primeiro show que eles fizeram aqui – em 2003. Foi incrível! Eram as mesmas influências das bandas que a gente queria. A partir daquele show foi que a gente começou a procurar mais. Dizíamos “Não vamos esperar, não! Vamos gravar! Temos algumas músicas já e vamos gravar uma demo”. Nessa demo continham 3 músicas próprias e uma versão. Começou a ter um baixista e um baterista, só que os caras não foram, e na hora de gravar não tínhamos nem baterista nem baixista novamente. Ai, eu chamei um amigo só pra gravar. Ele ouviu a música só uma vez e foi meio que na hora que ele colocou a bateria e Diógenes gravou o baixo. Ai pronto, a partir dessa demo ai começamos a mandar. Só que, antes de vir para cá (Recife), eu morava em Gravatá (município de Pernambuco). Eu passei um tempo sem saber como era a cena aqui e tinha aquela história de Mangue Beat. Ai pensei “pô, a galera aqui não curte esse som, não. Vou mandar pra ninguém daqui.” Como eu trabalhava, na época, com representação comercial, eu ia duas vezes para São Paulo. E nessa de ir para lá, com o dinheiro que consegui, eu investi todo na demo. A partir dessa demo, a gente começou a mandar pra galera do Senhor F (www.senhorf.com.br), um site que eu tinha recém-descoberto, muito massa. Mandei pra ele e mandei para vários lugares. Daí saiu uma notinha na Zero, uma antiga revista de música. Saiu na Playboy como uma das melhores demo da temporada. Saiu no próprio Senhor F. Eu mandei em novembro e em dezembro saiu lá como uma das melhores demos do ano.

Bruno Souto e Colombia

O primeiro show foi no aniversário da namorada de Diógenes, que fizemos para a família. Depois fizemos o primeiro show aberto ao público mesmo com a Rádio de Outono, lá no Capibar. O segundo também foi lá, só que junto a The Honkers, da Bahia. Depois fizemos mais alguns shows. Daí surgiu o Microfonia (www.comeceaimaginar.com.br). Nos increvemos, mas eu não queríamos, pois tínhamos participado de um concurso chamado Roots Volkswagen que foi o maior rolo, pois os caras queriam fazer mas não consultaram a Volkswagen. Eram quatro bandas para abrir shows grandes, cada um em um dia. Daí, a VW disse “Não. Só vou querer um show”. Acabou que o primeiro lugar já estava certo de ser a banda x e os outros iriam para completar. Foi aquela panela e eu fiquei traumatizado. Dizia: “Quero mais esse negócio de concurso não!”. A gente ganhou o Microfonia mas eu não acho que, tipo, foi sorte, pois foram aquelas pessoas que estavam julgando mas se fossem outras, o resultado poderia ser diferente. Mas pô, essa questão de julgar, “porque o meu trabalho é melhor que o outro?” Pode ser mais original, mas o do outro é melhor fazendo um clichê. Só que eram quatro caras na banda e três queriam. Eu lutei, mas no último dia tive que ir lá e assinar pela banda. Ai quando saiu o resultado das 12 que iam pra fase seguinte, a nossa estava no meio. Passamos para quatro bandas da final. “Foi bom, chegamos na final”. E, por fim, ganhamos. Esse Microfonia fez com que pulássemos alguns degraus. Na final tinha muita gente que conheceu a banda, como formadores de opinião, produtores, jornalistas. Talvez se nós não estivéssemos no Microfonia demoraria mais para aparecermos. Na época foi o menor prêmio. Foi o primeiro. Os outros tiveram bolsa pra estudar na AESO (curso de Produção Fonográfica), 10 mil reais. O nosso foi “4 conto” e tocar no Abril Pro Rock.

Com isso, um dos poucos arrependimentos foi não ter participado do Claro Que é Rock. Preferimos fazer 40 minutos de show no domingo do que fazer 15 minutos no Claro Que é Rock. Depois que eu vi as bandas do concurso eu fiquei pensando que poderíamos ter ganho. Mas não quisemos abdicar do show. A partir disso, nós gravamos o disco, pois antes não tínhamos dinheiro pra gravar o e já estávamos pensando em gravar outra demo. Eu mandei pro Fernando Rosa, o cara do Senhor F, que estava abrindo um selo e ele quis lançar. A partir disso, foi um festival atrás do outro. Mas o começo foi basicamente isso.

TMDQA!: E como foi o desenvolvimento da banda com relação à musicalidade?

BS: A demo foi praticamente as minhas músicas. Quando nós ganhamos o Microfonia, a banda estava recém-formada e logo gravamos o disco. Nós nem nos conhecíamos musicalmente. Só eu e Diógenes, mas Fernando, nosso baixista atual, tinha acabado de entrar e ainda tinha Doug, o baterista que gravou o primeiro disco. Nós fizemos uma releitura de tudo que nós gostávamos e que estava tocando como Cachorro Grande, Bidê ou Balde e também de coisas mais antigas, como Mutantes, Beatles, Jovem Guarda, os backing vocals, as harmonias. Foi meio que uma releitura disso, só que em uma pegada mais contemporânea. Não era um lance jovem guarda, pianinho, era pau. O primeiro disco é muito rápido. Eu lembro um jornalista que comparou com o primeiro do Supergrass (“I Should Coco” de 1995) que é bem porrada. Até na montagem nós colocamos uma junto da outra. E tinha meio que uma urgência punk em cima dessas influências. Era o que a gente era. Eu de forma alguma renego. Traduziu muito bem o que éramos na época. Mas para gravar o segundo as coisas mudaram (“Acima da Chuva” de 2008).

Diógenes começou a dar mais sugestões nas composições. A gente começou a viajar muito. Não sabíamos o que era um grande festival. Não conhecíamos outras bandas, só as daqui. Começamos a viajar e ficar uma semana em alguma cidade, 15 dias em outra. E tirávamos som, conversamos com muita gente. E isso trouxe uma bagagem muito massa para o segundo disco. Não foi nada como se nós nos juntássemos e disséssemos: “Galera, como vai ser o disco? Assim? Assado?”, não. Simplesmente as músicas foram surgindo e nos ensaios ficávamos mais entrosados. A gente começou a arranjar as músicas e elas perderam um pouco aquela urgência e correria, ganhando mais em arranjos e intensidade. As letras ficaram bem melhores. Se você escutar o primeiro e o segundo, existe uma diferença gritante com relação a letra, arranjo, estética, mas foi tudo natural. Tudo que rolou sem… (a conversa é interrompida rapidamente pois Bruno recebe uma mensagem em seu celular de alguém dizendo que o cd novo está um “arraso de lindo”). Bem, o segundo disco foi mais isso. Entrou um baterista novo. Saiu Doug e entrou Zeca Viana. Um integrante que seja, já dá uma mudada, pois é outra cabeça, outra forma de tocar, outras influências, outra bagagem. Tem essa diferença do primeiro para o segundo. Pra mim teve um crescimento bom. Nesse terceiro, já saiu Zeca e entrou Rildinho, outro baterista. E Diógenes saiu também. Pra mim foi um baque imenso, pois ele era o meu parceirão e um filtro também. Ele chegava e dizia o que estava legal e nós nos entrosávamos muito musicalmente. Do segundo para o terceiro, metade da banda mudou.

A entrevista continua na próxima sexta-feira, dia 1º de abril, e não é mentira!