Bruno Souto é o vocalista e guitarrista da banda pernambucana Volver. Recentemente o músico recebeu o Tenho Mais Discos Que Amigos! e o Rooda Cultura em um estúdio na cidade de Olinda, local da mixagem do próximo disco da banda, o “Próxima Estação”, terceiro da carreira do grupo.
Atualmente, a Volver está morando em São Paulo, onde tenta viabilizar melhor a carreira e conquistar um novo público, visto que em seu estado natal a banda já, digamos, fez tudo que poderia fazer. Porém, a banda está Recife desde dezembro onde gravaram e estão finalizando o novo disco, cujo processo foi registrado no blog VolverProximaEstacao.blogspot.com.
O próximo show da banda será no Abril Pro Rock deste ano, onde tocará no APR Club no dia 9 de abril com a banda paulista Cérebro Eletrônico.
Conversamos por quase uma hora com um Bruno, muito simpático e aparentemente empolgado com o momento atual da Volver. Falamos sobre o início, o desenvolvimento e sobre a nova residência da banda. Bruno falou, também, sobre o novo disco, algumas músicas em particular e a participação de outros artistas no novo trabalho. Comentou acerca do cenário musical de Pernambuco e da indústria da música nos dias de hoje.
A conversa foi bem construtiva, mas um pouco longa, por isso ela foi divida em quatro partes. Esta segunda parte fala sobre a ida da banda para São Paulo. A primeira parte você confere aqui.
TMDQA!: E, como algumas bandas do nordeste, vocês pegaram um pouco de estrada e já foram para o sudeste. O que é que você pode falar desses objetivos de ir para o lá? E quais os objetivos atualmente?
BS: Já na demo eu tinha aquela coisa de que Recife não rola. Eu mudei um pouco de opinião, pois vi que o próprio público estava aberto mesmo a novas sonoridades. E nós surgimos numa efervescência de bandas muito boas, isso em 2003 / 2004. Surgimos e tinha uma porrada de bandas que estavam aparecendo. Rádio de Outono, Carfax, Vamoz!, Melotrons, Parafusa, Superoutro. Velho, tinha uma porrada de banda com trabalho consistente, sabe? Um trabalho sério. A própria mídia tentou fazer uma cena disso, apesar de cada banda ter suas particularidades, tentaram fazer uma coisa só, para ter mais força mesmo e eu não acho isso ruim. Isso é coisa editorial mesmo, que o cara cria pra fazer um gancho, pra vender jornal, dar notícia. Mas a gente estava nesse meio e achamos muito massa, tanto é que de tudinho só sobrou a gente. Algumas morgaram, acabaram, pararam por tempo indeterminado, fizeram outras bandas e tal. Enfim, desde essa época que a gente estava querendo e tinha essa idéia de sair. Só que éramos muito imaturos, e não sabíamos que o buraco era muito mais embaixo. Se fosse uma banda que tivesse grana, a gente tinha ido, mas podia ser que tivesse até acabado, pois a parada não é ‘tão flores’, um mar de rosas. São Paulo é uma cidade extremamente cara, e não muito receptiva. Podíamos ter ido pra lá e ficar três, quatro meses pra arrumar um show. Muitas bandas hoje em dia fazem isso e se dão muito mal, mas o caso da gente era pior, pois não tínhamos grana e tal. Quando fizemos o segundo disco, resolvemos lançar um DVD. Então o gravamos. E fizemos tuda base da brodagem, pois não tínhamos grana. Fomos fazendo uns showzinhos aqui e tal com cachê: “E agora? A gente grava? A gente lança o DVD, ou a gente vai pra São Paulo?”, essa era a história. “Não, vamos fazer o seguinte, a gente bota o DVD em algum projeto de cultura e vai pra São Paulo”, foi o que a gente fez.
Mas não saiu o DVD, pois não foi aprovado e era muita grana, uma grana que a gente não tinha. Nós pagávamos aluguel caríssimo em São Paulo, fora a alimentação. Velho, viver em São Paulo o cara tem que ter uma grana, pois é caro. Daí o baterista saiu novamente, o Zeca. E a gente já lançando o terceiro disco. Então não tem pra que lançar um DVD com integrantes antigos e com músicas do disco anterior. Não faz sentido. Pode acontecer de lançarmos um DVD mais na frente num show e entrar algumas músicas mais antigas como extra. Ai é coerente. Bem, mas é no sudeste onde está a grana, velho. Lá temos a oportunidade de chegar e conhecer uma galera: jornalista, empresários que podem dá um upgrade no seu trabalho. Aqui a gente já tinha meio que feito tudo. Participamos de três edições do Abril Pro Rock, Rec Beat, Coquetel Molotov, Festival de Verão, Festival de Inverno duas vezes. “Velho, a gente vai ficar fazendo o que aqui? Ficar dando murro em ponta de faca? Então vamos nessa!”. A gente foi e não me arrependo, pelo contrário, acho que foi muito bom pra banda. Sempre no final do ano a gente volta e depois do carnaval a gente vai, pois aqui é melhor pra fazer show, pra ganhar uma grana que ajuda na lá nos outros meses do ano.
TMDQA!: Como têm sido os shows no sudeste do país? Como o público tem recebido vocês?
BS: São Paulo é uma cidade muito fria. Ela tem um circuito que nós estamos meio cansados, sabe? Casinhas pequenas, som deixando a desejar, qualidade técnica do som dos caras e tal. Tipo, é o circuito da Rua Augusta, não que seja só na Rua Augusta, mas que tem e que a gente faz por ser importante mais pra formação de público. A intenção foi essa mesmo, de chegar lá e tocar pra pouca gente de novo e fazer o público como a gente fez aqui. A intenção é tá ali, respirando aquele ar de São Paulo e pegando influências pra nossa própria música, conhecendo gente, sabe? Fazendo parte de projetos e tal. Fizemos um projeto chamado “Mais Massa”,que foi uma junção de várias bandas: Los Porongas (Acre), a gente, O Jardim das Horas (Ceará), Saulo Duarte e a Unidade (Pará), que acabou de lançar o primeiro disco agora; O Sonso, que também acabou de lançar um disco e é do Ceará. Enfim, foi uma coisa muito marcante pra nós, não mercadologicamente, mas espiritualmente. A gente se juntava direto pra fazer música, pra tocar junto. Fazíamos muitos eventos juntos e tal. Isso foi uma coisa linda. Amizades que nós fizemos pra vida toda. Então, isso a gente só teve a oportunidade de fazer lá. Os pernambucanos se juntam mais lá do que aqui. Aqui é cada um na sua bolha, lá todo mundo se espelha na sua gente. Tudo é mais harmonioso entre as bandas que fazem parte daqui. Lá, todo mundo se enxerga. Entre outras coisas que faz ser muito bom estar nesse processo de São Paulo e tal. A gente acha massa.
TMDQA!: Agora, sobre o SWU, só surgiu porque vocês estavam lá, ou se vocês estivessem aqui em Recife surgiria o convite? Como foi a experiência?
BS!: Olha, eu acho que surgiria também. Não posso dizer com certeza, mas acho que surgiria porque foi o palco da Oi. Foi o palco mais interessante do festival. Se nós não estivéssemos lá, eu não teria ido, porque nenhuma dessas bandas grandes me faria 200 pilas pra ver. Nenhuma me chamou a atenção. Já no palco da Oi tinham as bandas massas que estavam acontecendo aqui no Brasil, e eles já gostam de nós desde quando estávamos aqui. Eu acho que poderia ter rolado do mesmo jeito, pois eles chamaram bandas do Rio Grande do Sul e de outros cantos do Brasil. Então eu acho que poderia ter rolado. Mas foi massa ter acontecido e foi um evento que deu uma visibilidade muito grande pro currículo. Esse negócio de sustentabilidade é muito bonito no papel, enfim, eu não creio que tenham… é o marketing, né? E, cara, era o “Woodstock” brasileiro! Quantas gerações ouviram falar do Woodstock e tal? Nem que seja reviver um pouquinho daquilo. Isso ai levou uma galera não por causa de sustentabilidade. A galera tava lá pela cachaça e ver as bandas que queriam. Teve mais gente do que eu imaginava pra nos ver.
TMDQA!: Colocaram até uns vídeos recentemente no YouTube.
BS: Foi, colocaram. Fomos bem recebidos!
Mas esse negócio de festival, véi, a gente já aprendeu na pele, por experiência própria, que não muda vida de banda alguma, pois, depois que começou a ABRAFIN, que é uma iniciativa muito boa, a coisa se tornou meio política. Começaram a nivelar a qualidade dos festivais por baixo, muito favor político. Deixou de ser mais artístico e começou a ser mais político. Parece que até agora eles estão indo pra São Paulo, eles que defendiam que as bandas tinham que ficar em seus lugares de origem. Eu meio que estou sentido uma mudança e espero que mude pra melhor, mas se você perguntar uma banda que surgiu de festival, banda que se tornou grande mesmo: Los Hermanos e, sei lá, há quantos anos atrás? Mas, ainda assim, eu acho que esse deslumbramento das bandas que estão começando é massa e eles são a matéria-prima desses festivais, como o Fora do Eixo. E “massa rodar o Brasil, não sei o que…”, as bandas pagam pra tocar. E a gente não é mais banda pra pagar pra tocar.
Eu me lembro que a gente fez um show no Calango, que é lá em Mato Grosso, um festival no norte do Mato Grosso. A gente pagou pra ir e o cara disse que: “Chegar aqui a gente paga…” até hoje! Foram 61 horas pra ir e 61 horas pra voltar pra fazer um show de meia hora. Isso pra mim é recorde, eu nunca vi, e olhe que eu já perguntei pra muita gente do Brasil. Nunca vi uma banda passar 125 horas dentro de um busão pra fazer um show de meia hora. Mas foi massa, porque lá a gente fechou com o Porão do Rock, com o Mada, enfim. Mas a gente não faz mais isso, não tem pra que. Não existe mais esse negócio de olheiro de gravadora. Lobão deu uma entrevista há um tempo dizendo que está cheio de olheiros. Mentira. Não existe mais olheiro de gravadora em festival. O lado artístico não rola mais, a gravadora só vai agora em números. Aquela banda que tem potencial pra vender, ai beleza. Mas é sempre bom, pois você pode rever amigos, conhecer bandas novas, e estar naquele clima de festival é muito bom. Festival é formação de público. Às vezes um pouquinho mais rápido do que shows normais, pois você vai estar tocando pra uma galera que não conhece e que é público de outras bandas. Isso é bom.
Na próxima semana você confere as duas últimas partes da conversa com Bruno.