Bruno Souto é o vocalista e guitarrista da banda pernambucana Volver. Recentemente o músico recebeu o Tenho Mais Discos Que Amigos! e o Rooda Cultura em um estúdio na cidade de Olinda, local da mixagem do próximo disco da banda, o “Próxima Estação”, terceiro da carreira do grupo.
Atualmente, a Volver está morando em São Paulo, onde tenta viabilizar melhor a carreira e conquistar um novo público, visto que em seu estado natal a banda já, digamos, fez tudo que poderia fazer. Porém, a banda está Recife desde dezembro onde gravaram e estão finalizando o novo disco, cujo processo foi registrado no blog VolverProximaEstacao.blogspot.com.
O próximo show da banda será amanhã no Abril Pro Rock, onde tocará no APR Club com a banda paulista Cérebro Eletrônico.
Conversamos por quase uma hora com um Bruno, muito simpático e aparentemente empolgado com o momento atual da Volver. Falamos sobre o início, o desenvolvimento e sobre a nova residência da banda. Bruno falou, também, sobre o novo disco, algumas músicas em particular e a participação de outros artistas no novo trabalho. Comentou acerca do cenário musical de Pernambuco e da indústria da música nos dias de hoje.
A conversa foi bem construtiva, mas um pouco longa, por isso ela foi divida em quatro partes. Nesta última parte, Bruno falou sobre o cenário musical de Pernambuco, sobre a indústria da música, sobre o retorno do vinil e os planos da Volver. A primeira parte você confere aqui, a segunda você confere aqui e a terceira aqui.
TMDQA!: O que é que tu podes falar do cenário musical de Pernambuco na atualidade? Produtores, produtoras, coletivos e do apoio ao artista independente.
Bruno Souto: Bixo, eu tou meio por fora pra falar a verdade. Então eu vou falar com essa visão meio por fora. Pode ser que esteja acontecendo coisas que eu não esteja sabendo. Mas tem uns coletivos, se não em engano o Lumo. A galera tá trabalhando e é ligado ao Fora do Eixo. Abriram umas casas novas que não eram da época que a gente tocava aqui como: Quintal do Lima e Espaço NAVE. Então quer queira quer não, são lugares que estão ai para a galera que está começando. Tem o lance das Terças Autorais do UK PUB que já é um pouco antigo, mas é massa. Tipo, agora tem bandas aparecendo assim que eu tou por fora, mas teve uma banda que eu fui a um show que se chama Team Radio, que é bem indie, algo meio anos 80 e eu achei legal pra o que eles se propõem em fazer. Agora a melhor banda que eu escutei nos últimos tempos e que tem um potencial é a Mamelungos. Acho que os caras fazem um trabalho massa e espero que eles conquistem o espaço deles, pois eles merecem.
De resto tá meio estagnado. Os festivais são os mesmos. O Coquetel Molotov sempre crescendo e eu acho um festival muito massa. O Abril Pro Rock tendo problemas de público, não pela escalação, pois eu sempre achei nesses últimos anos a escalação muito boa, mas alguma coisa com o público. O público recifense é complicado também, a galera aqui, às vezes, não tem condições de pagar um ingresso. Eu não acho abusivo um ingresso do Abril Pro Rock. Se você morar em São Paulo, você vai ver o que é preço de ingresso. E aqui você vê altos shows por um preço justo, mas às vezes é isso. Eu vejo que o público recifense, não é regra, mas tem algo de não querer conhecer bandas novas, sabe? Eu vejo um pouco isso e, às vezes, o que atrai mais no festival é a banda mainstream. Eu posso tá falando besteira, mas eu vejo isso. Mas Recife eu não enxergo nenhuma efervescência que esteja rolando. Tem bandas boas trabalhando. Mas, por exemplo, 2003 e 2004 foi muito massa. Foi muito melhor, mas vamos ver ai o que vai acontecer. O próprio Microfonia, que era um festival que era pra rolar todo ano e não rola, pois a cena não se renova de ano em ano, de 2 em 2 anos. Acontece que as mesmas bandas vão se inscrever de novo.
TMDQA!: A galera reclama às vezes de certo grupinho que existe…
BS: Véi, isso é outra coisa. Existe panelinha, mas isso existe em todo lugar. É o processo de você se juntar com quem você tem afinidade, tem amizade. Isso é normal. Os movimentos, os grupos de bandas x. Mas fica mais aparente em Recife, pois a cidade é um ovo. São Paulo tem pra caramba. Lá tem umas panelas do caramba. Têm muitas, só que é uma cidade muito grande, e Recife não. Mas véi, se o seu trabalho for bom, isso, às vezes, é muita gente de banda que fica reclamando que não tem espaço. A gente nunca conheceu ninguém, nunca teve peixe, facilidade. As pessoas que gostavam e que apoiavam a banda eram porque via a qualidade do trabalho, tá ligado?
TMDQA!: E como tu dissesse, vocês não começaram nem por aqui e sim por outros estados.
BS: Exato! Se a gente tivesse panelinha aqui, a gente estava feito. Mas não, se a gente é chamado, é porque a banda tem qualidade. Se a sua banda tem qualidade, mais cedo ou mais tarde você vai aparecer. Principalmente em Recife, que é uma cidade pequena. Então não venha com essa de: “Ah, minha banda não entra…”, sua banda não entra porque é ruim, véi. Sério, não entra porque é ruim. Talento é bom também, um pouco.
TMDQA!: Enfim, o último disco de vocês foi o “Acima da Chuva”, de 2008, e foi o primeiro de uma banda pernambucana a ser lançado no MySpace. Chegou até a 60 mil downloads e creio que a versão física não chegou nem perto disso.
BS: A versão física foi umas 2 mil cópias que a gente fez, sei lá…
TMDQA!: E que análise tu faz dessa indústria do disco e da indústria da música atualmente?
BS: Velho, eu acho que não existe mais regra. Nos anos 80 tinha uma fórmula, hoje em dia não existe mais fórmula. Dos anos 90 pra cá foi diminuindo isso. Cada artista está buscando uma forma de se promover, de trilhar um caminho novo. Hoje em dia não tem mais isso, então o próprio disco mesmo é um negócio obsoleto. É bom você ter e tal, é um cartão de visita pra você entregar pra um produtor, um contato aqui outro ali. Ordem de disco mesmo, às vezes, a gente quebra a cabeça, porque a ordem tem que começar com essa e tal, mas a galera escuta tudo no shuffle, essa geração do mp3. A gente tem essa preocupação porque eu fui criado escutando vinil. A gente ainda se preocupa em ter um começo, um meio e um fim. Ter uma dinâmica. “Eu quero dizer isso aqui primeiro, isso aqui depois”, mas disco tá meio que obsoleto. Tem gente que só tá lançando pela internet agora. Eu acho ainda importante ter a coisa física, tanto é que a gente quer fazer uma tiragem em vinil desse disco novo. Se tudo der certo, a gente vai fazer, se não faltar grana.
TMDQA!: Aproveitando, o que tu acha desse retorno do vinil?
BS: Pode-se dizer que é um retorno ainda editorial. É um gancho pra muita matéria. Tudo que é revista tá saindo. Uma coisa é fato: nunca vai ser mainstream novamente. Nunca, mas sempre vai ter sua parcela no mercado. Coisa que antigamente nos anos 90 morgou. Morgou aqui no Brasil, porque lá fora sempre existiu. A cultura do compacto morreu aqui, a do vinil também. Lá não, sempre teve compacto, vinil, long play. Aqui tá começando a voltar e vai ter uma hora que vai dar aquela topada, normal, mas vai ser uma parcela da indústria que vai ter. As grandes gravadoras estão lançando, relançando. E sabe que tem uma galera que compra, mas nada que vá se tornar algo muito grande. Não dá mais, hoje em dia é mp3 e não tem como.
TMDQA!: E os planos da Volver pra 2011? E sobre o lançamento do disco?
BS: Como eu te disse a gente não sabe por onde vai lançar e quando vai lançar. Eu pretendo lançar no primeiro semestre. Fazer clipe e ver se tem condições de gravar um DVD. E sair tocando, véi, isso não tem muito mistério não. Tipo, “qual é a meta?”, a meta pra gente é aparecer para o maior número de pessoas possível, desde que tenha uma credibilidade. A gente não vai ficar fazendo o que já fez. Ficar fazendo coisa só pra aparecer. Não, tem que ter um limite e saber selecionar os lugares que a gente quer se apresentar. E é isso, entrar em rádio, onde tiver pra gente aparecer a gente tá atrás. Não tem nenhum plano específico. Por hora, esses são os planos inicias: lançar o disco até o primeiro semestre, fazer um clipe pra trabalhar uma música, lançar uma tiragem em vinil, marcar show e tocar pra pagar o aluguel. Essas são as prioridades por enquanto.
Mangue Beatle by volver-brasil
TMDQA!: Sobre a Volver acho que já finalizamos. Agora uma pergunta sobre Bruno Souto. Que outros projetos tu estás envolvido? E tu tens algum material fora da Volver?
BS: Tenho algumas músicas, mas, cara, a Volver toma tanto tempo, o foco é muito grande, sabe? Principalmente agora nesse processo de compor pro disco desde meados do ano passado. Estamos muito focados em compor, depois como vai gravar. E isso tudo tira o juízo do camarada, ai tem que ficar muito focado e depois lançar. Agora mesmo, gravou, mixou, tem que masterizar, tem que correr pra lá, pra cá, ver com quem vai lançar e tal. Então não tenho muito tempo. Fico fazendo uma musica ou outra aqui e tal. The New Folks parado, o Tagore tem uma banda chamada Tagore e tá fazendo o trampo dele. Tipo, não sabemos quando vamos fazer de novo. Por enquanto os projetos estão parados. A Volver tem uma banda que se chama Os Ordinários. A gente toca músicas cafonas pelo interior de São Paulo, principalmente Jovem Guarda, é um projeto massa, mas é pra diversão.
TMDQA!: São os próprios membros da banda?
BS: Isso, só sai o baterista. Eu, Kléber e Fernando, a diferença é que eu não toco guitarra, só canto. Mas é esse tipo de música, música que a gente curte. Dá uma grana, mas nada de mais sério. Só tocar mesmo, se divertir. E por enquanto, só a Volver. Eu tenho planos de escrever. De um tempo pra cá eu tenho pensado nisso, em escrever. Fiz um blog (Novela Concreta) que eu escrevo poesias, mas dei uma parada, justamente por causa desse lance da Volver mesmo. Penso em escrever contos, novelas, mas isso é tudo sem pressão. Fazer quando der, quando tiver me sentindo a vontade de fazer. Mas o foco mesmo é a Volver, colocar essa banda pra frente. Graças a Deus tá indo tudo certo. Subir mais degraus com esse disco ai e ver o que acontece.
TMDQA!: Valeu, Bruno!
BS: Pô, massa!