(Fotos oficiais do Abril Pro Rock 2011)
A primeira noite do Abril Pro Rock 2011 foi de muito barulho no Chevrolet Hall, em Olinda. Quando cheguei no local, às 22h25, a pernambucana Desalma estava no palco. Já tinham se apresentado o Facada, do Ceará, e a, também pernambucana, Cangaço. As pessoas vinham de todo o nordeste e até mesmo do Pará, do norte do Brasil. Além de outras cidades de Pernambuco. A faixa etária era formada por crianças levadas pelos pais que viveram na época do auge das bandas principais da noite, bem como por um público jovem que mostra que os estilos dessa primeira noite ainda possuem um público fiel e em formação.
O público não se concentrava totalmente na pista, muitos ainda circulavam pelo espaço ao redor dela e também ainda aguardavam do lado de fora do local do show. O Desalma já fazia jus ao que seria o restante da noite: muito trash metal, punk, hardcore, death metal, vocais gruturais e tudo muito ensurdecedor! As pessoas aglomeradas em frente ao palco da esquerda – eram dois palcos, um ao lado do outro, o que fez com que não houvesse praticamente atraso entre as bandas – acompanhavam o trio, que descarregou, dentre outras, “Desalmo”, “Fragmentos” e “Corpo Seco”, música da coletânea “Terra Batida”. Igor Capozzoli, baixista e vocaltisa, agradecia por estar ali e dizia que sempre foi ao Abril Pro Rock e estar presente naquela noite tocando era algo muito bom.
Quando a quarta atração da noite foi anunciada nos dois telões da casa de show, o público se concentrou mais ainda, agora em frente ao palco da direita. Direto do Distrito Federal, a banda Violator continuou na linha trash metal e fez com que as rodas de pogo começassem a se fazer mais presente. Poney Ret, baixista e vocalista, fazia a interação com o público falando sobre as motivações de cada composição e anunciando-as. “Brainwash Possession” e “The Plague Never Dies” foram algumas do setlist. Poney ainda falou da alegria de estar ali na mesma noite que o D.R.I. e disse que sua primeira tatuagem foi do famoso boneco, símbolo da banda. E quem estava no palco era o baixista da referida banda, Harald Oimoen, que também disse que sua primeira tatuagem tinha sido uma do D.R.I..
Na sequênica, os paulistas do Torture Squad entraram no palco ao som de uma guitarra com muita distorção e com um delay. O quarteto disparou uma música atrás da outra e não deu descanço para o público. Vitor Rodrigues, vocalista da banda, descrevia a noite como uma celebração e agradecia sempre ao público e à produção do festival pela oportunidade. “Raise You Horns” e “Horror & Torture” foram umas das músicas que fizeram o público bater cabeça sempre com a chamada de Vitor pelos “bangers”. Ao anunciar “Pandemonium”, música que dá nome ao álbum de 2003, a galera foi ao delírio. “Chaos Corporation” e “The Unholy Spell” encerram um dos melhores shows da noite. Não é a toa que a banda vai participar do Wacken Open Air 2011, um dos mais importantes festivais do mundo do gênero, que este ano tem a participação de Metallica, Ozzy Osbourne, Judas Priest, entre outros. O ponto final foi dado da mesma forma que o show começou, com a mesma guitarra distocida e com delay.
Já passava da meia-noite quando o Musica Diablo foi anunciado. A banda é formada pelo Derrick Green, vocalista do Sepultura, e por membros do Nitrominds . Uma das mais esperadas da noite foi uma das que menos empolgou o público, retratado na aglomeração em frente ao palco, que era um pouco menor que nas outras bandas. O setlist foi baseado no, até então, primeiro disco do grupo, o “Brazilian Trash Metal”, de 2010.
Enquanto o show rolava, tive a chance de ouvir Canibal, baixista e vocalista da banda pernambucana Devotos, no estúdio montado por um dos patrocinadores do Abril Pro Rock. Com uma banda improvisada, Canibal adicionou o punk rock e hardcore da periferia recifense nos estilos predominantes da noite. “Mas Eu Insisto”, “Eu Tenho Pressa” e a mais famosa “Punk Rock Hardcore” foram as três de sua banda e finalizou com “Anarchy in the UK” do Sex Pistols. Uma oportunidade única enquanto esperava os dois shows mais aguradados da noite.
À uma da manhã, com quase trinta anos de carreira, o D.R.I. foi anunciado e entrou no palco presenciando a correria do público em direção à pista. Público este que, provavelmente, nunca imaginaria que o Dirty Rotten Imbeciles pisaria em terras pernambucanas algum dia. O setlist viajou pelos 7 discos lançados pela banda que estava em forma e tão empolgada quanto aqueles que o assistiam. “Acid Rain”, “I Don’t Need Society”, “Madman” foram algumas. Mandando uma música atrás da outra, o D.R.I. pedia a participação do público que, mesmo aproveitando o show parecia um pouco cansado ou quem sabe se guardando para a grande atração da noite. A roda no meio da pista aumentava a cada música. O vocalista e o baixista eram os que falavam com o público. Disseram o quão bom era de estarem no Brasil, tanto pelo local quanto pelas mulheres. Porém a conversa entre membros e público tinha que ser na linguagem musical, digo isso após observar o silêncio antes e depois da frase “essa é a parte em que vocês gritam!” soltada por Harald. Com “Nursing Home Blues”, “Violent Pacification” e “Five Year Plan”, a banda finalizou. Enfim, foi outro dos melhores shows da noite que preparou o público presente para a principal atração da noite.
Jerry Only, Dez Cadena e Eric “Goat” Arce entraram no palco para a euforia da maioria presenta naquela noite/madrugada de sexta para sábado. O Misfits fez a sua estréia em Recife em um festival apropriado para o respeito que a banda alcançou em mais de 30 anos de estrada, lembrando que a banda acabou em 1983 e voltou em 1995 com uma nova formação onde Jerry era o único do lineup original.
Com uma urgência punk rock misturado ao rockabilly, Jerry Only descarregou uma música atrás da outra sem deixar o público respirar e conseguir compreender que um dos trios mais importantes para tantas outras bandas dessa cena estava ali, ao vivo. “Astro Zombies”, “Hollywood Babylon”, “American Psycho” e “Dig Up Her Bones” foram algumas delas. Os fãs cantavam os hits e acompanhavam os gritos de “ôou, ôou, ôouuu”, presentes na maioria deles. Dez Cadena, ex-membro do Black Flag, puxou alguns covers da ex-banda. Em “Six Pack”, Dez dedica a uma pessoa da platéia que estava com a camisa da referida banda. “American Psycho”, “Horror Hotel” e “Helena” fizeram a platéia acompanhar o trio na memorável noite. Em vários momentos do show, Jerry Only recebia um carregamento de gelo na gola de sua jaqueta, provavelmente para aguentar o calor do show somado ao clima da cidade.
Por fim, o bis contou com “Rise Above”, também do Black Flag e, a que não poderia faltar, “Die, Die My Darling”. Foram mais de 30 músicas em pouco mais de uma hora de show. O público de mais ou menos 5 mil pessoas saiu satisfeito do Chevrolet Hall. Antes daquela noite, era difícil imaginar nomes antigos e novos da cena trash metal brasileira, junto com dois precussores em seus estilos, todos na mesma noite participando de uma mesma celebração. Um noite inesquecível.