(Fotos por Abril Pro Rock, Boi Voador e Danilo Galvão)
A segunda noite do Abril Pro Rock 2011 foi praticamente o averso da primeira noite. Nada das camisas pretas e do barulho ensurdecedor. Dessa vez, o público foi formado por jovens com estilos diversos, que em certos momentos pareciam estar ali tanto ambiente em si como pelas bandas que se apresentavam. Houve espaço até para o questionamento: “você vem para o Abril Pro Rock pra ouvir samba?”. Mas desde o início foi assim, com Chico Science, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e diversas outras bandas do cenário musical tão diversificado de Pernambuco.
O Chevrolet Hall ficou tomando por cerca de 6 mil pessoas, de acordo com a produção do festival, que cantou e dançou ao som de tantos ritmos que marcaram essa segunda noite.
A abertura dos portões foi às 17h e a primeira banda subiu ao palco às 17h30. O pessoal do Feiticeiro Julião, banda pernambucana vencedora do concurso Bis Pro Rock, tocou por cerca de 30 minutos. Júlio Castilho é o vocalista e quem encarna o tal feiticeiro. Como muitas bandas pernambucanas, depois de tantos anos assistindo o Abril Pro Rock, dessa vez os papéis foram invertidos e o grupo pode subir no palco e fazer uma apresentação para os poucos que já estavam no local. Ao todo foram seis músicas, entre elas “Hiena” e “Pista de Barro”. Resta a banda aproveitar o que o concurso de bandas e o fato de tocar no festival pode proporcionar para a carreira deles.
A lista de bons shows da noite começa pelos, também pernambucanos, Mamelungos. Mesmo com o tempo curto, a banda, que tem sido umas das que estão ativas na cena musical do estado, mistura ritmos regionais, como frevo e baião, à uma sonoridade pop, com elementos do samba e até algo meio circense. “Fanfarra”, “Colemim” e “Me ensina” foram umas das que começou a empolgar o público um pouco maior, que diferente da primeira noite do festival, parecia ser formado por mais pessoas da terra. Weré Lima, vocalista e instrumentista, se alternava entre o microfone juntamente com um cavaquinho e a percussão da banda. A banda finalizou com “Bixo Noturno”.
A terceira atração da noite fez sua estréia em Recife. Os paulistas do Holger aproveitaram bem o tempo concedido pela produção do Abril Pro Rock e, ao contrário do que seria todos o resto da noite em relação à variedade rítmica, soltou seu repertório com basicamente o rock como influência. Com um setlist um pouco maior, 8 músicas, o Holger se apresentava ao mesmo tempo que fazia-se conhecer pelo público. “Alguém aqui já conhecia a gente?”, pergunta um dos músicos, que eram versáteis trocando de instrumentos entre eles. Com sonoridade indie rock misturado aos vocais agudos, a banda soltou “No Brakes”, “Caribbean Nights” e “Beaver”. Depois de mais uma própria, tocou “Hey” do Pixies e finalizou quebrando sua linha rock com o hit do YouTube “Sou Foda” e “Jonathan 2”, aquele do “Jonathan da nova geração” do início dos anos 2000.
A variedade rítmica voltou com os latino-norte-americanos do Chicha Libre. A banda na verdade é dos Estados Unidos mas faz um som totalmente inspirado nos estilos da américa latina: a cumbia e a chicha, derivação do primeiro ritmo. Isso misturado à elementos da música pop, surf music e até ritmos do nordeste do Brasil. Passos de dança já começavam a ser ensaiados na pista do Chevrolet Hall ao som de “Hungry Song”, “Borracho” e “Simpsons”, música inspirada na abertura do desenho animado. O público já se fazia mais presente dentro do espaço, fosse acompanhando a banda mais de perto ou de longe nos locais de convivência: feira e stands de alimentação. “Sonido Amazonico”, que dá nome ao disco de 2008, e “Popcorn Latino” fecharam o repertório do Chicha Libre.
Neste momento tive que sair do local do show e não pude acompanhar o show da cantora paulista Tulipa Ruiz. De acordo com o site da Rolling Stones Brasil, a cantora começou o show começou meio desajeitada, visto que, anunciaram a Karina Buhr, próxima atração, no lugar dela, porém tinha sido apenas um erro do vídeo colocado nos telões. Apesar do engano, Tulipa logo soltou: “Quando eu tinha 16 anos, ganhei uma camiseta do Abril Pro Rock e me achava a mais descolada andando com ela por São Lourenço (MG)” e começou sua apresentação, que foi uma das mais aplaudidas após o final. “Da menina”, “Pontual” e “Do Amor” foram algumas da primeira metade do show. “Dia a Dia” teve a participação de Marcelo Janeci, que mais tarde estaria na banda do Arnaldo Antunes. Em “Só Sei Dançar com Você”, Tulipa teve a ajuda da platéia que cantou junto com ela. A cantora finalizou com “A Ordem das Árvores”.
Voltei para o Chevrolet Hall quando a pernambucana Karina Buhr já estava no palco. A apresentação da cantora é uma verdadeira perfomance teatral. Com sua roupa nada discreta, Karina utilizou todo o palco, tanto correndo por ele como pulando e se rastejando. Ela é ex-líder a finada Comadre Fulorzinha e agora conta com músicos renomados em sua banda, como o Edgar Scandurra, que logo em seguida subiu ao palco com Arnaldo Antunes. Sem parar para falar muito, para não perder tanto tempo, Karina cantou, entre as 10 do setlist, “Solo de Água Fervente”, “Plático Bolha” e finalizou com “Nassiria e Najaf”. A reação do público com sua apresentação foi de um extremo ao outro. Teve quem amou sua participação à quem não estava nem ai e só aguardava as principais atrações da noite.
Entre Karina e a próxima atração, rolou nos telões uma singela homenagem ao músico Lula Côrtes, que faleceu no final do mês de março. Lula foi um dos nomes, junto com Lailson, da primeira edição do Abril Pro Rock, que aconteceu em 1993. O vídeo que passou foi da música “O Clone” gravado com a banda Má Companhia.
Após o vídeo, a vinheta de Arnaldo Antunes foi executada. A banda veio arrumada como para uma noite de estréia. Era a estréia do show do álbum “Iê Iê Iê” em Recife e começaram com a música que dá nome ao disco. Em seguida “Vem Cá” e as já conhecidas “Essa Mulher” e “Americana”. Arnaldo parecia muito bem em cima do palco do Abril Pro Rock, além de saber como conduzir o público com hits misturados às canções do novo trabalho. “A Casa É Sua” foi mais uma do novo álbum, bem como “Invejoso”. Logo depois veio “Consumado”, onde Arnaldo desceu para o meio do público para cantar. Edgar Scandurra era um dos integrantes da banda, que de acordo com a Rolling Stones Brasil, sofre de hérnia de disco, e mesmo assim fazia seu segundo show da noite. Antunes incluiu no setlist músicas de Odair José, “Quando Você Decidir”. Junto com o músico pernambucano Ortinho, Arnaldo cantou “Envelhecer” e “Meu Coração”. Para finalizar a apresentação, Arnaldo e banda executaram “Vou Festejar”, de Jorge Aragão.
Passava das 11 horas da noite quando a banda pernambucana Eddie subiu no palco. Com mais de 20 anos de carreira e de volta aos palcos do Abril Pro Rock depois de 12 anos, Fábio Trummer e companhia colocaram o público na mão durante 60 minutos de show. “Quando a Maré Encher”, “Na Beira do Rio” e “Desequilíbrio” fizeram do início do show o que seria o restante, um “show-karaokê”. A banda realmente incendiou o público presente e parecia ser a atração principal do festival, mesmo sempre tocando na cidade algumas vezes por ano. O Eddie faz parte a cena que fez com que Pernambuco ficasse conhecido. Cena essa que tem como principais nomes Chico Science, Nação Zumbi e outros do movimento mangue.
A dança continuava na pista e ao redor dela, onde era possível ver as outras bandas que já tinham tocado na noite, além de outros músicos e artistas do cenário pernambucano, circulando e conversando com as pessoas. Cada um aproveitava o show à sua maneira. No palco, Trummer e Urêa conversavam entre si e com o público. Parecia que banda e público eram amigos próximos e um dos assuntos era o futebol local, porém coube a Trummer voltar o foco para o show, caso contrário a conversa iria fluir para esse lado. O vocalista e guitarrista também chingou o prefeito de São Paulo – a banda tinha tocado no mesmo dia às 7 da manhã e não podia consumir cerveja por conta da Lei Seca do local.
Participaram do show da banda Erasto Vasconcelos, espécie de mentor da banda. Quem também foi chamada para o palco foi a Karina Buhr, que tinha se apresentando anteriormente. “Vida Boa”, “Não Vou Embora” e “Bairro Novo Casa Caiada” foram as últimas executadas de um dos melhores shows da noite. O público presente parecia nem se importar se não houvesse o próximo show, porém havia e todos continuaram com a mesma empolgação.
Já era segunda-feira quando o The Skatalites foi anunciado, aproximando ainda mais o público da área em frente ao palco. Apesar de toda a empolgação com os bons shows da noite, eles eram os principais da noite para a maioria. Assim como Misfits e D.R.I. da primeira noite, o Skatalites são bem experientes no que fazem que ficaram conhecidos como precussores de seu estilo: o ska. (Abrindo um parêntese, já no show de domingo circulava o flyer do show do Sublime With Rome em Recife, no dia 21 de maio. A banda tem muito a agradecer à principal atração da segunda noite do Abril Pro Rock. O show vai ser aberto pelo Mundo Livre S/A. Duas gerações do ska em pouco mais de um mês.)
Voltando, a banda, que atualmente é formada por jovens músicos e alguns fundadores incluindo o baterista Lloyd Knibb de 80 anos de idade, começou com “Freedom Sound” e “New York Minnie”. Após isso, foi chamada para se juntar a banda e continuar assim até quase o final do show, a “rainha do ska”, Doreen Shaffer. A cantora comandou os vocais e animou ainda mais o público ao som de “Bye, Bye My Love” e “Magic Muffin”. Tanto banda como público dançavam ao som das músicas. O público com uma energia que parecia não ter fim. O hit “Guns Of Navorre” foi executado animando ainda mais a platéia. Às 1h20, “Phoenix City” encerrou o show e esfriou todo o público juntamente com a chuva que começou a cair.
Com uma qualidade técnica de som muito boa, iluminação e logística de palcos, o 19º Abril Pro Rock está de parabéns. A escolha das bandas, tanto para o primeiro dia, como para o segundo, realmente agradou quem estava ali. Essa pluralidade musical é o reflexo do que o festival construiu ao longo desses 19 anos.
2012 está logo ai e o início dos trabalhos para comemorar 20 anos, desse que é um dos mais importantes festivais de música independente do Brasil, já vai começar.