Entrevistas

Entrevista com <b>F2L</b>

O rapper/rocker <b>Fellipe Dantas</b>, ex membro do <b>Zero5</b> e atualmente com o <b>Projeto [F2L]</b>, conversou durante horas com o <b>TMDQA!</b> e falou sobre suas influências (principalmente <b>Linkin Park</b>), inspirações, pontos de vista e também sobre o videoclipe de "<b>Se Eu Fosse</b>". Conheça!

TMDQA entrevista o rapper e rocker F2L

O rapper, rocker e produtor, Fellipe Dantas, fez parte de uma das bandas mais conhecidas do underground carioca, a Zero5, e desde 2007 se dedica ao seu trabalho solo, o Projeto [F2L].

Com ele, Fellipe já gravou 2 CDs e 2 EPs (com participações especiais como as de DeLaMaya, BDO MC’s e Fatal Mic), lançou videoclipes bem feitos e marcou presença tanto na premição quanto no festival Hutúz, que foi extremamente importante para a disseminação do hip hop brasileiro.

O TMDQA! teve a honra de conversar durante algumas horas com Fellipe, que contou sobre suas influências, suas inspirações, seus pontos de vista e também sobre o elogiado videoclipe de “Se Eu Fosse” (lançado no dia 16 de abril e canditado a um dos melhores videos do ano), que você confere no final do post.

 

Angélica-TMDQA!: Primeiro de tudo: É F2L, F.2.L., Projeto F2L ou [F2L]? Essas coisas me confundem. [risos]

F2L: Claro, F2L é uma sigla para FELLIPE (com 2 L) – Projeto [F2L] é o meu projeto de música rap – Eu não quis usar MC F2L porque se um dia eu quiser trabalhar com outros formatos eu não fico limitado como artista solo. F.2.L. não existe e [F2L] é uma simbologia de proteção.

TMDQA!: Mas já era seu apelido ou você que criou?

F2L: Não, F2L eu inventei. Não era o meu apelido.

TMDQA!: Você fez parte da Zero5, uma das bandas mais conhecidas do cenário underground carioca. Isso tem te ajudado na divulgação do Projeto F2L?

F2L: De alguma forma ter feito parte do Zero5 me ajuda sim. Em primeiro lugar agrega credibilidade para as pessoas que já acompanhavam meu trabalho na banda e acabaram conhecendo um outro lado da minha música. Em segundo, eu acabei aprendendo muita coisa tendo uma banda que trabalhava sério, então peguei um pouco de “Know-How” em questão de como trabalhar e etc.

TMDQA!: Saquei. Então não incomoda quando fazem a ligação “Ah, o F2L… Ele era do Zero5”. Geralmente tem uma galera que não gosta de ser lembrada dessa forma. O que eu acho bastante idiota, quando o projeto que fez parte era tão bacana quanto o Zero5.

F2L: Não, com certeza não… O Zero5 fez e faz parte da corrida, desde que eu comecei. Eu já fazia rimas antes de entrar pro Zero5 e acho que minha evolução como artista vem em grande parte da banda. Eu inclusive não tento esconder o rótulo de Rapper/Rocker. Eu curto muito os dois estilos, e acho que é um diferencial no meu trabalho. Alguns amigos do Rock me chamam de “Do Rap”, alguns amigos do Rap me chamam de “Do Rock”, então eu sou isso, uma mistura dessas duas paradas.
Fico feliz quando alguém chega em um show do Projeto [F2L] e fala: “Você não era daquela banda, Zero5?” porque mostra que o trabalho vem sido visto desde o Zero5, que aliás não tem mais pretensões profissionais.

TMDQA entrevista o rapper e rocker F2L

TMDQA!: Quais são as suas influências?

F2L: Pô, eu curto muito Rock e Rap né. Falar de artistas é difícil, porque é muita coisa, e provavelmente eu vou esquecer algum. Curtia muito Linkin Park na adolescência e bandas nessa linha. Limp Bizkit, Korn… Mas antes disso já ouvia Planet Hemp, Jigaboo, Black Alien. Hoje eu curto de Carlos Gardel até 36 Crazyfists, passando por Sade e Tears For Fears. É complicado demais pra falar disso, quase tudo me influencia. Agora, eu sou chato com muita coisa. Não é todo rap que eu curto, não é toda banda com guitarra em afinação baixa que cativa.

TMDQA!: Aquele primeiro do Linkin Park (“Hybrid Theory”, de 2000) é bem bonito. Também curtia.

F2L: O primeiro disco do LP é uma parada que eu posso dizer que mudou minha vida. Eu tenho o Soldado Alado da capa desse disco tatuado no braço. Eu até hoje sou um dos maiores fãs do Mike Shinoda, que pra mim, leva o Linkin Park nas costas. Ele é demais compondo, rimando, tocando, produzindo… Acho que é a mais forte influência do meu trabalho nesse sentido de ter que ser tudo ao mesmo tempo. [risos]

TMDQA!: E essa mudança no som do Linkin Park, que sempre é criticada? o que você achou?

F2L: O Mike fala uma coisa em “When They Come For Me” do último disco lançado: “Everybody wants the next thing to be just like the first” – “Todo mundo quer que a próxima coisa a seja exatamente como a primeira”. As pessoas não entendem que as coisas precisam mudar, pra evoluir, pra crescer, pra criar… A galera que não curtiu tudo bem, mas eles evoluíram demais musicalmente. Não fazem mais músicas tão comerciais (não que fossem ruins, mas tinham formatos mais comerciais na minha opinião).
Eu acho que eles são os mesmos caras, só que melhores, fazendo o som que a galera que ficou estagnada no início não consegue digerir porque não evoluiu junto com a banda. Eu penso meio assim saca…

TMDQA!: Tipo o Greg, do Black Flag. Ele foi questionado quando o som da banda começou a desacelerar. Ele disse que não foi porque desacelerou que deixou de causar impacto.

F2L: Cara, é isso… O Greg tá à frente do tempo dele. Os caras que criticaram talvez nunca tenham curtido de verdade o som, a idéia passada pelo Black Flag…

TMDQA!: Como você enxerga o rap atual?

F2L: O Rap nacional, na minha opinião é um dos melhores do mundo. A qualidade lírica dos MC’s brasileiros é fantástica… Acho que precisamos agora trabalhar na evolução disso, evoluir tudo… Instrumentais, entonação, dicção, produção executiva… Já ouvi diversas vezes MC’s mais velhos e pessoas renomadas falarem que tem muito Mc pra pouco produtor executivo, muito Mc pra pouco público, muitas vezes. Está evoluindo sim, aos poucos… Mas é um pouco daquela idéia do “faça-você-mesmo” o que eu acho que tem que ser feito com cuidado, porque pra ajudar tem poucos, mas pra criticar é o que mais tem nesse meio.

TMDQA!: Nossa, verdade. Isso de modo geral, né. É barra.

F2L: Sim, sim… Então é importante ouvir a opinião dos artistas e profissionais mais experientes no meio, eles trouxeram e trazem muita coisa positiva até hoje no movimento. Tem que se propor a evoluir a parada.
Eu acho que no fim das contas é o lance de trabalhar mesmo. Eu sou vendedor de tênis em loja de shopping cara… Eu poderia pegar o dinheiro que sobra daquele que eu me sustento e encher a cara no final de semana em uma festa de rap com amigos, mas eu guardo o dinheiro que me sobra pra investir no meu trabalho. Eu não gasto grana com videgame, câmera fotográfica, celular bonito cheio de sacanagem. Eu gasto meu dinheiro com minha música, e é caro sim fazer um bom trabalho. Eu acho que isso é evoluir. Criar qualidade, passar mensagens positivas pra outros públicos que não ouçam só Rap. Eu não faço Rap pra Rappers, mas pra todas as pessoas que se identificarem sabe. As pessoas tendem a acreditar que tudo que é feito de forma decente tem algo por trás, e nesse caso tem sim. Trabalho. É o que eu acho que tem que ter mais no Rap nacional. Acho que só a partir daí eu posso botar a cara na rua, quando minha música provar pra mim mesmo que é digna, e digna pra qualquer público. Não é fazer Rap, é fazer Música Rap, como dizem os gringos, que tão muito mais evoluídos do que nós nesse sentido.

TMDQA!: Como a maioria dos rappers que fazem um trabalho sério, suas letras relatam experiências bem intensas. Qual delas foi a que mais te marcou?

F2L: Sem sombra de dúvidas “Infantaria” – Não considero minha melhor letra, mas acho que é a que mais relata meu pensamento sobre o que quero quando escrevo algo. Essa música fala que evoluir não é mudar o mundo, mas mudar a si mesmo, as suas atitudes. E cada um de nós fazendo um pouco pra melhorar o nosso mundo cria a “Infantaria da Revolução” – É sonhar alto demais? Talvez, mas se eu entrar numa de criticar a política, ou a polícia, ou qualquer coisa que as pessoas vivem reclamando eu vou ser mais um falando pro nada, pra ninguém… Não vou ter mudado nada. Eu tenho certeza, esse som não me fez ganhar dinheiro, não me fez entrar nas paradas de sucesso, mas com certeza mudou alguma coisa, pra alguém. Mas aí já não é comigo, a música quando é feita e sai de você, vira dos outros também. Essa música ganhou um vídeo que concorreu no prêmio HUTUZ de 2008. Junto com GOG, MV Bill e outros artistas de peso.

TMDQA!: O Projeto F2L conta com o DJ Cidão Oliveira (ex-vocalista do Vérmina/Sétima Frequência), que é um dos músicos que mais teimosos que conheço, por nunca desisitir e sempre ter ideias geniais. Por que você o convidou e o que a gente pode esperar dessa parceria?

F2L: Cara, o Cidão é um gênio! É muito meu amigo já há muitos anos e já faz parte dessa minha caminhada há muito tempo… Uns 8 anos, pelo menos. Já tivemos várias bandas que nunca saíram do papel. Aliás, um delas ensaiou algumas vezes, fez um show e acabou logo em seguida! [risos] Cidão é um vocalista de metal, designer gráfico dos melhores e amigo pra todas as horas… É teimoso sim, chato por diversas vezes, mas é sensato e inteligente como ninguém que conheço. Chegou no Projeto [F2L] como quem não quer nada, dando o play nas música e fazendo rimas de apoio ao vivo, mas hoje é um cara fundamental no trabalho. Ainda vai vir muitos bons frutos dessa parceria, tenho certeza!

TMDQA entrevista o rapper e rocker F2L - DJ Cidão Oliveira

TMDQA!: Desde o álbum de estreia do Projeto [F2L], “Independente[MENTE]” (de 2007), você tem lançado um disco por ano. Podemos aguardar o seu sexto registro para 2011?

F2L: Então… Eu quero evoluir minha música, pra isso eu preciso de recursos. Os disco anteriores deixam a desejar na produção executiva, na gravação, mixagem, masterização. Eles são meu início, mas eu não posso estagnar e deixar de tentar melhorar  tudo isso. Cada vez fica mais caro, e trabalhando em outro emprego sobra pouco tempo. Eu acho que esse ano deve sim sair mais músicas, talvez um EP, mas acho que devo me preparar bastante para um próximo disco, e acredito que isso demore um pouco. Mas nunca se sabe, tudo pode acontecer… [risos]

TMDQA!: Seus registros costumam trazer algumas participações especiais. Com quais artistas você gostaria de gravar algumas faixas?

F2L: Nossa, tem muita gente boa, muitos caras que sou fã e alguns são até amigos e conhecidos. Sonhando alto, gostaria de gravar com o Mike Shinoda. Agora nacionais: Lenine, Gabriel O Pensador e Jorge Ben Jor! Tem algumas parcerias pra sair, uma delas é com o amigo Mr Break que é um dos caras que é referência pra mim de artista independente aqui no Rio de Janeiro. É um super produtor e o trabalho novo do cara vai chegar muito bom na pista, aguardem! Agora, eu curto gravar com amigos, com pessoas que têm afinidade musical comigo. Nunca fui de negar participação, acho que ainda vou fazer um som com muita gente por aí!

TMDQA!: Seu novo single, “Se Eu Fosse”, ganhou um baita de um videoclipe lindão. Quem fez com que ele acontecesse?

F2L: Pois é, o cara é o Lucas Ratton. Esse doido ouviu o primeiro Rap que eu fiz… Ele se amarou de cara e comentou comigo: “Vamos fazer um videoclipe?!” Eu falei com ele, “cara, é o seguinte, eu não tenho grana pra fazer um negócio desses…” E desde então eu meio que faço uma parceria com ele, o nosso trabalho somado tem como resultado esse videoclipe de “Se Eu Fosse” O cara é muito bom, muito gente boa e sem dúvida um grande diferencial na minha música!

TMDQA!: Aliás, pelas cenas de bastidores que vi, deu pra  perceber que embora vocês tivessem acordado domingo de manhã, pra pegar ônibus, metrô e tudo mais para ir até ao Flamengo (zona sul do RJ), vocês se divertiram bem. Como foi a experiência dessa gravação?

F2L: Cara, a gente quando faz alguma coisa que gosta não se importa com os contra-tempos. Foi demais. Cansativo e muito, mas foi muito bom, e voltamos pra casa satisfeitos depois de três domingos gravando. Foi Muito bom!

TMDQA!: Acho que o único que não gosta muito de lembrar dessas gravações é o Cidão, né? Ele ATÉ HOJE fala dos óculos que perdeu. [risos]

F2L: Pois é, foi uma pena… Mas a gente veio da casa dele, saímos quando ainda estava escuro, e os óculos eramo novinhos em folha, foi chato… Se eu pudesse pagava um outro pra ele, ele sabe disso, mas foi muito tranquilo, nem reclamou de nada. Um dia eu pago um outro pra ele mais bonito!!! Ele merece a vera… O cara é pureza mesmo, família…

TMDQA!: Ainda sobre o video, lançado no sábado (16/04), você fez uma festa de lançamento no dia anterior, que contou com uns shows ao vivo. Quem participou da festa e como tudo foi?

F2L: Foi muito difícil por um lado. Fazer um evento requer um responsabilidade muito grande, mas por outro lado, tive pessoas que me ajudaram, amigos pessoais e diversos outros amigos que compareceram e assim fizeram a parada acontecer… Percebi que seria assim: Ou eu fazia um lançamento, ou não haveria lançamento. Daí eu fiz e chamei amigos meus que fazer rap. São eles: Salmo 41, Mc Max, Mc Nyl, Mc Logri, Mc K-bide, Mr Break e o pessoal do Cartel Mc’s, que não teve como chegar a tempo mas seriam muito bem vindos se desse tempo. Amigos que trabalham com artes visuais também estiveram mostrando seus trabalhos. Gabriel Gago, Elias Lazaroni e Fernanda D’Oliveira, que é minha noiva e fotógrafa! Ainda teve a cobertura para o blog da poeta e jornalista Monique Barcellos, que faz um trabalho muito bom também. Foi bem legal, eu praticamente não curti porque fiquei tonto fazendo tudo, mas foi irado.

TMDQA entrevista o rapper e rocker F2L

TMDQA!: Essa agora é uma pergunta bem comum feita pelo site: você tem Mais Discos Que Amigos?

F2L: Eu acho que tenho a sorte de ter muitos amigos, na verdade eu tenho os irmãos que não nasceram da minha mãe, que são poucos, mas amigos em geral tenho bastante e gosto muito disso. Mas se for em Mp3 eu tenho mais discos que amigos!!! No meu player, que não desgrudo junto com o foninho de ouvido, não falta discos. [risos] Eu acho que nem sempre tenho cabeça pra pessoas, mas as músicas sempre me salvaram, então TMDQA!.

TMDQA!: Bem, é isso. Espero que você tenha curtido fazer essa entrevista tanto quanto eu. Espero também que o seu trabalho tenha todo o reconhecimento que ele merece, e que isso aconteça em breve. Agora solta o rap aí, porque o espaço é livre pra dizer o que você quiser.

F2L: Muito obrigado, viu! Curti a vera trocar essa idéia… Bem, eu gostaria de agradecer a todo mundo que participa disso, direta ou indiretamente. Meus amigos, pessoal que me ajuda de uma forma ou de outra, vocês sabem quem são! Dizer eu tô muito feliz com a aceitação do vídeo, que de boca em boca, Facebook e Orkut, a gente tá tendo uma média de quase 200 acessos por dia… É uma marca muito legal e estamos bastante satisfeitos! Vou deixar uma frase que gosto muito desse novo som, “Se Eu Fosse” – “Se eu fosse o que querem que eu seja não era o que sou / Se eu fosse pra algum lugar eu chegaria onde estou” – Agradecimento especial para Fernanda D’Oliveira, Cidão Oliveira e Lucas Ratton, sem essas pessoas seria impossível! Valeu! E muito obrigado Angélica e TMDQA pelo espaço!

www.ProjetoF2L.com
Contato para shows: (21) 8148-8839 | [email protected]