Entrevistas

Entrevista com <b>Alyand</b>, baixista do <b>Dead Fish</b>

Aproveitando a passagem da banda pelo Recife, o <b>TMDQA!</b> conversou com <b>Alyand Mielle</b>, baixista de uma das principais bandas do hardcore nacional.

Entrevista com Alyand, baixista do Dead Fish

Entrevista com Alyand, baixista do Dead Fish

O Dead Fish veio tocar em Recife pela quarta vez em pouco mais de um ano. Na última sexta-feira, o Bomber Rock Bar, no Recife Antigo, presenciou um grande show dos caras na cidade, de acordo com a produtora e relatos alguns dos 300 fãs presentes – apenas pra constar, a casa era pequena e esse número se refere a lotação do espaço.

Dois dias antes do show, entrei em contato com a Sonora Produções para conversar com os caras e o João Soares, um dos produtores e baixista da banda Bon Vivant, me respondeu positivamente e combinamos um horário para a entrevista. Agradeço desde já a atenção!

Marcamos antes da passagem de som da banda, porém, chegando no local, soube que o Dead Fish ia se atrasar por conta do trânsito. Quando chegaram, estavam apenas o Alyand, baixista, e o Marcão, baterista da banda. Falei rapidamente com o dois e comentei sobre a entrevista. Marcão não pode participar, pois estava arrumando algumas coisas com relação aos instrumentos e o Alyand se prontificou na hora. Quem foi comigo foi a mais nova colaboradora do TMDQA!, Aline Mota.

Saimos e ficamos em frente ao bar. Alyand sugeriu que sentássemo na calçada para a conversa, que foi muito agradável. O cara se mostrou bastante simpático, apesar de um aparente cansaço ou então aquela era a cara e jeito dele, bem tranquilão e de bem com a vida e com tudo o que faz.

Conversamos por pouco mais 15 minutos sobre os 20 anos do Dead Fish, que inclusive vai lançar um disco novo e provavelmente um DVD ainda este ano; sobre o surgimento de bandas novas, sobre as mudanças de integrantes, discos de vinil e do espaço que Recife tem na história da banda. O resultado disso tudo está ai embaixo. Aproveitem!

Alyand, baixista do Dead Fish

TMDQA!: Alyand, o que significa pra você chegar aos 20 anos de carreira com a banda?

Alyand: Pô, pra uma banda de hardcore no Brasil, só temos a comemorar. Porque 20 anos num país onde tudo é muito complicado, onde as coisas são sempre com favores ou com política, a gente tem contrariado tudo isso ai nesses 20 anos trabalhando, fazendo amigos. Eu acho que é super importante pra gente, assim, poder tá comemorando os 20 anos aqui no Recife também. Eu acho que é um presente pra gente, é um presente para o público que vai tá ai hoje. A gente acha muito importante mesmo. Estamos terminando de gravar agora, aliás, de compor um disco novo pra esses 20 anos e talvez saia um DVD também. Um presente para os fãs ai. Cara, eu acho que é uma experiência boa. Única. Eu como membro da banda assim, fico muito orgulhoso em saber que nós conseguimos chegar depois de tanto tempo, tantos problemas, de tantas mudanças. Acho que pra mim é mais uma vitória pra gente. Espero que dure mais 5, mais 20, mais 10.

TMDQA!: Quais os fatores principais que fizeram com que vocês chegassem aqui e nesse ponto da carreira? Você falou dos amigos que vocês fizeram durante esse tempo todo.

Alyand: Ah, nossa persistência, cara. Nós temos vindo para o Nordeste desde 2001, se eu não me engano, insistindo em shows maiores, shows menores. Às vezes dá certo, às vezes não dá. Às vezes tem que tirar a passagem do bolso, porque uma pessoa não pagou, outra não pagou. E isso é meio que persistência. A questão dos amigos é sempre bom você chegar na cidade e ter. O Nordeste tem essa particularidade que os amigos são diferentes. A gente se vê tão menos, um pouco menos que os outros, por passarmos menos por aqui, mas parece que o carinho é muito maior assim. A receptividade é mais calorosa assim. E isso agrada a banda. É bem legal. Eu gosto.

(colombia: Nessa hora Alyand diz que não entendeu o restante da pergunta. No caso ele respondeu algo que eu não esperava com ela. Falou sobre tocar no Nordeste, algo bem legal também. Mas o “aqui” da pergunta foi com relação aos 20 anos de banda.)

TMDQA!: O que influenciou para chegar até aqui? O principal fator.

Alyand: Ah, cara, eu acho que nossa disposição e a vontade de estar na estrada. Acho que somos uma banda de estrada. E isso é legal. Uma banda que não tem a postura de estrada ou a vontade de estar na estrada, seja ela confortável ou não, cômoda pra alguns ou não, é você ter aquela vontade de tá fazendo seus shows, de tá fazendo com tua banda aquilo que você se propôs a fazer, que é tocar. Hoje (13/05/2011) mesmo, é um lugar pequeno, acho que no máximo 300 pessoas. Eu gosto muito. Me motiva mais ainda, pois eu acho que vai ser um show bem mais de energia, de troca de energia e uma coisa bem mais legal. O que impulsiona é isso ai. Acho que estamos no terceiro show da turnê. Tocamos em Fortaleza, Belém, ontem (12/05/2011) em Maceió. Cara, todos os dias lotados. Ontem tivemos em uma quinta-feira quase 800 pessoas, sabe? Isso é um motivo a mais para você vir e voltar a ter seus 18 anos quando tudo começou, quando começou tua banda, a gostar ou querer estar na estrada. Um dos motivos maiores são vocês, eu acho assim. Os fãs estarem aqui, gostarem a banda como foi ontem e como vai ser hoje.

TMDQA!: E nesses 20, vendo tanta coisa no underground e no mainstream, assinando com uma gravadora. Como tu vê essa questão da música em termos de Mp3, do download, baixar, do não comprar mais disco?

Alyand: Ah, cara, eu não sou contra. Acho que quando assinamos com a Deck, nossa gravadora, nós já assinamos bem no meio do processo de transição de Mp3, da galera já tá baixando coisas. E eu faço isso. O Rodrigo faz. Acho que os outros da banda também fazem. Então assim, é uma questão simples, eu faço da seguinte forma, eu quero conhecer alguma coisa, baixo, escuto e se realmente eu gostar, eu vou lá e compro o material físico. Eu não fico só na pirataria. Eu baixo mais por curiosidade para saber como está soando, pra me adaptar e depois eu compro. Porque eu acho que o material físico é importante pra quem é fã.

TMDQA!: Até porque, antes você conseguia escutar e conhecer as coisas nas rádios, mas hoje em dia é meio difícil fazer dessa forma.

Alyand: Eu continuo no mesmo processo. A internet eu uso para conhecer, eu acabo baixando, mas eu compro os cds, quando tenho a oportunidade. Às vezes falta grana, não compro agora, espero um pouco. O interessante é o cara fazer isso. No nosso caso, a gente não tem nada contra. Se eu faço, eu não posso ficar criticando quem vai comprar ou não os discos do Dead Fish. Acho que o cara que é fã vai fazer como eu faço, da mesma foram. Eu baixo, gosto, vou lá e compro o material físico. O cara vai quer ter o encarte, saber das coisas do disco. Acho que é interessante. Não tenho nada contra. Acho que toda banda, se você perguntar, não vai ter nenhum problema se você perguntar isso.

TMDQA!: E o que vocês têm ouvido dessa cena que vocês fazem parte, tanto em São Paulo, onde vocês estão, como nos locais por onde vocês passam?

Alyand: Cara, nesse processo de composição eu me desliguei um pouco. Eu gosto de me desligar. A gente está a mais de seis meses fazendo um disco, tentando trabalhar em algumas músicas. Então eu me desliguei um pouco, não gosto de ficar ouvindo muita coisa. Eu, particularmente, fico mais tranquilo. Mas, cara, eu fico muito feliz com o país assim, porque o Brasil é um seleiro de bandas. Já se tem uma cara do hardcore. O hardcore nacional já é uma realidade. Aqui, em todo o Nordeste, no Norte, no Sul, no Sudeste. Você tem uma característica de cena brasileira, de banda brasileira que é muito legal. Existem algumas coisas que vêm que são muito, sei lá, às vezes o interesse é… aquilo que eu te falei, você pra tá num meio desse, você tem que gostar do que você faz, ser estradeira, estar pronto pra passar por coisas ruins. Às vezes o cara vem e pensa “vou assinar com uma gravadora, quero ganhar dinheiro”, acho que isso atrapalha um pouco a nova safra. Mas não é um problema geral, é uma coisa grande, mas ainda é pequena. Acho que ainda tem bandas boas, que são estradeiras, bandas como Confronto, o Zander, o Garage Fuzz, que está com a gente há 20 anos, sabe? Que tão ai e você não precisa se vender, você não precisa assinar com uma gravadora e vender a alma pra poder fazer sucesso. Na verdade a questão é musical, se você quer fazer música, se você quer fazer alguma coisa diferente e você acha que é através da música? Não precisa de nada disso. Você só precisa se divertir e deixar as coisas acontecerem.

TMDQA!: Então tu acha que é mais fácil começar uma banda hoje em dia, mas bem mais difícil de fazer uma banda durar?

Alyand: É complicado responder, porque, ao mesmo tempo em que é mais muito mais fácil, por conta de internet, divulgação, é mais fácil. Mas fica mais difícil porque é confuso. Porque a adaptação dessa nova geração é assim: hoje você tem uma banda, você faz um MySpace, um Fotolog, enfim, em 24h você fica conhecido por 300 mil pessoas, no final daquele dia tua banda já é velha, por conta das mesmas ferramentas. Então, eu acho que a galera não tem muito de carinho, da coisa de valorizar aquilo ali. O negócio ficou meio que “ah, vamos montar uma banda hoje, depois montar uma amanhã, a moda é essa, a moda é aquela”, não, cara. Você tem que usar essas ferramentas da melhor forma possível. É complicado, por conta do que eu te falei que em uma semana você pode ser uma banda velha. Tem banda surgindo ai, que tem não sei quantos milhões de acessos, um monte de coisa, e de repente o cara tá cobrando o cachê de uma banda de seis meses. Eu acho um absurdo. Eu passei mais de 15 anos da vida da minha banda sem receber um centavo, a não ser pra pagar a estrada. Então, é deixar as coisas acontecerem sem comprar o que está acontecendo hoje. O cara tem que se dar mais. A realidade é outra. A realidade é perrengue, a gente está viajando numa van pequena, sabe? Como fazemos há 10 anos, 15 anos atrás e não muda nada pra mim. Eu tou vindo tocar num lugar menor, que eu acho lindo. E algumas bandas de seis meses, um ano, não entram num lugar como esse pra tocar. A coisa que é uma ferramenta, ao mesmo tempo pode ser a ruína.

TMDQA!: E como você disse no começo, vocês estão terminando de compor o novo disco. Quais são os próximos passos da banda? E o que tu pode falar mais sobre esse projeto dos 20 anos de Dead Fish?

Alyand: Já estamos atrasados. Há seis meses nós tentamos dar um gás pra compor e fechar as músicas. Na verdade já temos todas as músicas. Eu tenho bastante coisa, o Philippe já tem bastante coisa. Nós precisamos sentar e fazer as composições, as letras com o Rodrigo e só entrar no estúdio. Acho que até o mês que vem, provavelmente, se tivermos tempo na agenda, vamos gravar alguma coisa, fazer uma demo final pra mostrar pra gravadora pra tá presenteando os fãs até o final do segundo semestre agora. É provável que saia um disco inédito com 14, 15 músicas. Talvez a gente demore um pouco mais por conta do DVD, mas a ideia é lançar um DVD de estúdio. Temos filmado todos os shows esse ano pra presentear a galera com um DVD, com uma coisa legal. Espero que os fãs gostem porque vai ser bem de coração mesmo. A gente está muito preocupado com isso e estamos preparando com muito carinho. Hoje mesmo devemos tocar uma música nova desse disco. Então é só aguardar. 20 anos. 20 anos bem vividos.

TMDQA!: E com relação às mudanças na formação da banda durante toda a carreira dela, como fica a motivação do Dead Fish pra continuar fazendo música?

Alyand: As mudanças nunca são legais. Você tá casado com 5 caras, agora com 4. É sempre muito complicado. O legal é que as mudanças foram pra melhor. Os caras que entraram sempre deram um gás pra melhor. Hoje o Marcos está com a gente há quase três anos já. E ele deu um gás novo pra banda, de amizade. Ele já era um amigo mais próximo e agora está mais perto, sabe? É outra visão. O interessante é que a gente está bem hoje. Vamos para o estúdio de uma forma saudável, sem nenhuma crise, seja com todos ou pessoal. Entendeu? Isso é legal. As mudanças foram boas. Não é legal você perder um amigo, mas você ganha outro que satisfaz melhor, que resolve teu problema que é o lance do trampo, que é o que você realmente precisa na estrada.

TMDQA!: Recentemente vocês lançaram um split em vinil com o Mukeka di Rato. Vocês são fãs do formato? Pretendem lançar algo mais? Li que vocês estavam pensando em lançar o “Contra Todos” em vinil.

Alyand: A ideia, quando nós assinamos e quando lançamos o primeiro disco, já era lançar em vinil, mas não deu. É um sonho nosso antigo. Quando Rafael (Ramos, da Deck) chamou a gente falando que ia lançar esse split nós ficamos muito felizes, pois a gente cobrava e queria lançar todos os discos em vinil. Ai tem a burocracia da gravadora. O “Contra Todos” a gente tinha muita expectativa de lançar em vinil, mas não aconteceu. Agora esse novo, se tudo der certo, ele vai sair em dois formatos, cd e vinil. É um sonho nosso.

Dead Fish / Mukeka Di Rato (Vinil de 7 polegadas)

TMDQA!: E como relação à vida dos membros fora do Dead Fish, o que tu podes falar das outras bandas e projetos?

Alyand: O Marcos tem o Ação Direta, que é uma banda de 25 anos e todo mundo conhece e respeita. É uma banda estradeira também. O Philippe tem feito alguns shows com o Reffer. Ele voltou com o Reffer que é a banda dele antiga e que tinha parado. Estão fazendo alguns shows comemorativos com a gravação de um possível DVD também. Eu tenho um projeto social, que está meio parado, em Vitória, mas em São Paulo ele continua rolando, que é uma escola de música. E o Rodrigo tem feito cursos de culinária, que é uma parada que ele gosta muito. Acho que ele está estudando algo para desenvolver cerveja, algo assim. O cara é o maior cachaceiro.

TMDQA!: E onde é que Recife entra em toda a história da banda? Alguma lembrança marcante da cidade?

Alyand: Recife, cara, tem várias histórias legais. Uma que eu lembro, que foi na primeira vez que viemos para cá, a gente trouxe o Mozine, baixista do Mukeka. Aquele lixo, aquela coisa. E ele veio fazer o merchandising pra gente e eu lembro que a gente tomou um monte de cerveja e depois fomos pra praia. Ai a gente ficou nadando, só que na água não lembrávamos que estado que a gente estava. “Que estado que a gente tá? Acho que tem alguma coisa que a gente precisa lembrar dessa praia, que eu não tou lembrando o que é.” E tinha um cara acenando na areia e falando: “Ei, vem pra cá!” E a gente lá: “Não enche o saco!” E o cara: “Olha a placa!” E eu disse, “Mozine, a gente precisa lembrar de alguma coisa!” E a gente lembrou que era o lance dos tubarões. Ficavam os dois idiotas, bêbados dentro da água e fazendo a maior bagunça e os caras mandando a gente sair. E fora os shows. Os shows no Armazém 14 muito lindos, com rodas maravilhosas. Todo mundo aqui é bem carismático e nos sentimos bem à vontade aqui. Podemos chamar até de casa. É sempre bom voltar aqui. Eu me sinto muito feliz. Tenho alguns amigos e espero poder voltar. Até três vezes por ano seria lindo.

TMDQA!: O que esperar do show de hoje (13/05/2011)?

Alyand: Então, uma casa pequena é sempre bom, pois há uma troca de energia muito mais próxima. Você tem uma coisa mais olho no olho. Dá pra ficar bem próximo da galera. Acho que vai ser um show bem energético, como todos aqui no Recife são. A gente tem preparado um set acho que razoável um pouco diferente dos outros, mas não dá pra fugir muito, pois tem muita música. Um set que eu acho que quem vier vai achar legal. Tem uma música nova que se chama “Tijolo”, vamos apresentá-la hoje. Quem vier vai se divertir bastante.

TMDQA!: Como te falei, o site se chama “Tenho Mais Discos Que Amigos!”. Vocês têm mais discos que amigos?

Alyand: Não, eu acho que eu tenho mais amigos. Eu tenho bastantes discos, mas é uma coisa que é muito caro. Eu queria comprar mais discos de vinil, mas é muito caro. O Rafael da Deck reabriu a loja do Rio, mas é muito caro. Eu acabo tendo mais amigos. Acho que é até melhor, pois os amigos são mais interessantes. Mas eu pretendo aumentar um pouco minha coleção.

TMDQA!: Valeu, Alyand!

Colombia e Alyand, do Dead Fish