Resenha: <b>Rancore - Seiva</b>

Novo disco do <b>Rancore</b> é o melhor da banda e sério candidato a disco nacional do ano.

Rancore-Album-Seiva-2011
Rancore-Album-Seiva-2011

O Rancore tem sido uma das bandas mais bem sucedidas do underground nos últimos anos, principalmente no que diz respeito à base de fãs.
O quinteto de São Paulo é uma daquelas bandas que lota seus shows de fãs fervorosos, grande parte deles tatuados com imagens da banda, e que não para de cantar um segundo do começo ao fim.
E foi justamente baseado em todo esse histórico que a Deck resolveu apostar nos caras e contratá-los para lançar seu terceiro disco de estúdio na carreira, intitulado “Seiva”.
Com produção de Rafael Ramos o disco tem como tarefa árdua dar continuidade ao que foi deixado em “Liberta”, o melhor disco da banda na opinião de muitos. O novo trabalho não só dá continuidade como percorre outros caminhos muito interessantes e faz com que o Rancore não possa ser rotulado em apenas um estilo, vista a quantidade de elementos que a banda usou nesse disco.

Capa e nome de disco se misturam à primeira faixa, “Ritual”, que abre os trabalhos com barulhos diversos e um riff de guitarra poderoso. As guitarras, aliás, “falam” muito nesse disco, e a sintonia entre Candinho e Gustavo é visível.
Na sequencia vem a forte “Planto”, uma das primeiras novas músicas a serem disponibilizadas pela banda e que, como é marca característica dos caras, traz letras pra se cantar berrando.
“Jeito Livre” começa com um baixão imponente, e aí está uma das poucas coisas que me incomodou no disco, já que muitas das músicas começam assim e outra porção delas termina com uma puxada de contrabaixo que normalmente fica bem legal, mas que aqui foi usada em excesso.
De qualquer forma, a música é a primeira a ter um vídeo oficial (“Planto” teve um clipe de estúdio) e das minhas favoritas de todo o disco. Letra, guitarras barulhentas, refrão, tá tudo aí.

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“Mãe” é um exemplo claro das viagens percorridas pelo Rancore em “Seiva”. E eles sabem aproveitar bem uma viagem. Aqui as 2 guitarras parecem conversar, a letra é mais que honesta, te faz pensar e tem um dos bordões cravados no álbum: “olho vivo e faro fino”. Ao final da música estão barulhos impronunciáveis que lembram muito a fase de Rafael Ramos no Baba Cósmica.

“5:20” tem uma belíssima introdução, formando a famosa “parede de som” com guitarras dobradas, triplicadas, quadruplicadas e que acaba em uma espécie de declamação que assim que termina abre espaço para a banda tomar conta da canção novamente e mostrar o típico som do Rancore. Enquanto isso, dedilhados de guitarra dão o tom.

“Mulher” é mais uma que começa com o baixo e a minha preferida do álbum. Guitarras em slide, dedilhados, um clima um tanto quanto praiano e uma verdadeira declaração de amor à protagonista da canção. Particularmente o refrão “Eu deixo você ir / e os ventos bom me levam / te encontrar / é um privilégio” cantado por Teco Martins e acompanhados de backing vocals suaves são o ponto alto do disco.

“Escravo Espiritual” abre o Lado B na versão em vinil e é porrada do início ao fim. Você ouve a música e já sabe que ao vivo ela irá gerar rodas de pogo e muitos berros. Talvez este seja o ponto mais visível de toda a influência hardcore da banda, mas mesmo assim ainda há a mistura de novos elementos.

Em “Samba” uma nova demonstração de ótimos riffs de guitarra, peso, berros e melodia. Nela a voz de Teco Martins parece estar cheia de fúria, o que dá um aspecto diferente a ela e o afasta um pouco das comparações aos vocais de Cazuza, que em “Transa” ficam mais claras.
Esta aliás é outra declaração honesta e sincera, ao estilo de “Mulher” e também é das minhas preferidas.

“Seleção Natural” e “Inocentes” começam calmas e quietas até explodirem em gritos furiosos e muito barulho, e particularmente em “Inocentes” as guitarras fazem um trabalho interessantíssimo. Distorções, timbres diferentes, solos, riffs, sujeira e peso fazem com que seja impossível não destacar o trabalho delas no novo disco do Rancore.

Por fim, “A Ponte” tem cara e jeito de andar de música para fechar o disco e tem uma mensagem positiva entoada através de uma bonita canção, backing vocals diversos e a participação de Sabine Holler, talentosíssima vocalista do Jennifer Lo-Fi que empresta seus dotes principalmente ao final do som.
Acho até que a participação de Sabine poderia ter sido melhor explorada, assim como a de Rodrigo, do Dead Fish no disco.

“Seiva” é sério candidato a melhor disco nacional do ano, e não é um disco de hardcore, de punk, de pop, de rock, é um disco do Rancore. E o melhor já feito por eles.

Nota: 9/10

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