O segundo disco do White Lies foi lançado aqui no país pela Universal Music Brasil, e logo abaixo você confere uma resenha feita pelo amigo Gilvan Tessari, do ótimo Sinestesia.
Nada de clichê do segundo disco, daquela dificuldade toda para compor e parir, aquelas marcas de fórceps que mesmo o desavisado percebe nas arestas de mixagens intrincadas. Nada disso. É que o que parece quando In Love, faixa de abertura do segundo registro de estúdio do White Lies surge nos alto-falantes.
Harry McVeigh declama suas letras com um orgulho estufado e pleno. São frases de efeito, eu sei, mas eu tenho direito a visitar os grandiosos salões da minha defunta adolescência à base de Cure. Scarlet as a paper-cut/ And jeweled as the Orion/ She’d never worn/ That jewelry as a girl/ She says, “The only thing I’ve ever found/ That’s greater than it always sounds is love”. Só para ter uma idéia.
Depois Strangers don’t hide/ The morning hunts you down/ And there’s nothing stranger than to love someone, as cordas benfazejas se deixam corroer secretamente por uivos de guitarras na mixagem propositalmente embolada.
Curioso aqui o efeito da produção de Alan Moulder. Enquanto o álbum de estréia do White Lies revisitava o post-punk pelo viés da darkwave e coldwave, no segundo eles parecem ter vestido uma segunda camada de disfarce, voltando ao local do crime anterior com a casca externa da visão noventista que Moulder tem sobre a matéria, como pode ser visto em seu excelente trabalho com o Curve.
Moulder não interfere na dinâmica da banda, apenas a molda de forma a seus ruídos eletrônicos aumentarem a voltagem das canções. As composições aqui são menos imediatas do que na estréia, sintomático, então é interessante trazer um elemento novo para catalizar novas idéias.
Enquanto o primeiro disco se lambuzava com Joy Division e congêneres do crepúsculo setentista, aqui as influências caminham pelo ano de 1983 do Cure e pelo ano de 1985 do Depeche Mode. Um pouco mais pomposo talvez, uma sonoridade que o M83 parecia estar buscando com Before The Dawn Heals Us, mas eu posso estar enganado.
Como em Noob, penúltimo do De/Vision, as canções se apresentam em uma massa que não deixa entrever suas imagens individuais, mas apenas a noção de um disco. Aos poucos os arranjos vão se desprendendo, os trechos das letras se fixando, e a apreciação fluindo.
O miolão do disco tem uma canção que não se valoriza de cara, Streetlights. Talvez seja algum ranço dos teclados destacados demais, mas logo o vocal de McVeigh salta à frente. As estrofes são charmosas, e o refrão explode com uma facilidade ímpar segundos depois.
Neste ponto, vale voltar a Stranger, cuja letra poderia soar um lamento xoxo em quase qualquer outra voz. A dignidade toca esta canção apenas porque é McVeigh a entoá-la. E segue, canções aceleradas até que as duas últimas anunciam o fim do disco. Um belo disco de uma banda quieta a subir.