<b>Entrevista:</b> Jungle George (ex-<b>Holly Tree</b>/ The Veronicas)

Confira o bate-papo exclusivo do <b>TMDQA</b> com o musico. George conta sobre seus projetos solos, a carreira internacional com as Veronicas, sobre sua coleção de vinil e vários outros assuntos.

Jungle George em tour em Kuala Lumpur (2010)

Há quase 10 anos morando fora do Brasil, Jungle George já montou duas bandas e recebeu convite para tocar com várias outras. Atualmente, ele toca guitarra com as cantoras do The Veronicas.

O TMDQA conseguiu uma entrevista exclusiva com o ex-guitarrista do lendário Holly Tree. Ele falou sobre seus projetos solos, as saudades de São Paulo, o show com Walter Lure e sua paixão pelo Rockbilly Guitar.

TMDQA: Por que depois do fim do Holly Tree você resolveu morar fora do Brasil?
George: Eu fui contratado pelo governo dos EUA como tradutor brasileiro. O governo americano estava preocupado com as tendências revolucionarias passadas do ex-presidente Lula, e recrutou um time de brasileiros para traduzir notícias relacionadas ao Partido do Trabalhador. A tradução era feita do português para o inglês do Texas. Alguns requisitos para ser contratado era que você fosse brasileiro, não gostasse de pagode e não simpatizasse com Gugu Liberato.
Brincadeira. Na verdade, o Holly Tree acabou depois de eu estar aqui nos EUA.  Nós mudamos para Los Angeles em 2003, e a banda acabou em 2004. A razão de eu ter ficado aqui foi Rock and Roll.

TMDQA: Você montou alguns projetos como o Midnight For The Masses e o Power Pope. Infelizmente poucas pessoas no Brasil ficaram sabendo. Você pode falar um pouco sobre eles?
George: O que um monte de gente não sabe é que no final de 2003 eu comecei fazer varias experimentações sônicas. Comprei um monte de pedais, efeitos, sintetizadores, 4-tracks, 8 tracks. Fiz um monte de gravação. O Midnight For The Masses foi o primeiro projeto. Gravei e produzi oito faixas para o disco All is Vanity (Nunca lançado oficialmente).
No final, o projeto virou banda. Alguns selos ficaram interessados, mas as propostas não eram boas. A grana que eu fiz com o Supla ai no Brasil tinha acabado, e a grana que os selos estavam oferecendo não dava para pagar as contas. O Sylvain Sylvain do New York Dolls me ligou em casa nessa época, estava interessado em produzir a banda. Mas infelizmente nunca aconteceu.
O Power Pope é o meu projeto atual. Começou em 2007 aqui em Los Angeles. Quando eu me mudei para Nova York, eu montei a banda, bem legal. Mas por eu estar ocupado, a banda desintegrou. Mas o Power Pope vive. Lancei um EP ano passado. Estou finalizando o CD e espero que fique pronto antes do final do ano. Eu estou tocando a maior parte dos instrumentos.
O disco tem algumas participações roqueiras: François do Motorcycle Boy, Aaron North do Icarus Line e Axel do Mere Mortals.

TMDQA: Como surgiu a oportunidade de você tocar no The Veronicas?
George: Na época em que o Holly Tree mudou-se para Los Angeles em 2003, eu já recebia propostas de outras bandas que queriam que eu tocasse com eles. A Texas Terri foi uma delas. Eu toquei vários shows com ela, incluindo uma mini tour na Europa. Também recebi convite de outras bandas como o Motorcylce Boy e o Angry Samoans. Mas, infelizmente, o punk rock não estava pagando minhas contas, e não tenho família aqui para me dar um teto e tal. Então comecei a tocar com bandas pop. Afinal o pop tem mais dinheiro que punk… Nem sempre, mas…
Comecei a tocar com várias bandas. Algumas eu me recuso a falar o nome e ninguém nunca vai saber (risos). Às vezes, era só ‘studio work’, o que eu faço bastante hoje em dia. Eu vou ao estúdio e gravo guitarra para alguma banda legal, ou para uma banda cheia da grana.
Um dia eu recebi uma ligação de uma australiana com o mesmo nome que o meu. Ela trabalhava para as Veronicas. Elas tinham tentando mais de 20 guitarristas daqui dos Estados Unidos, aparentemente um monte de metaleiro cafona. Quando eu cheguei ao estúdio, eu toquei metade de uma música e elas falaram “Você é legal, queremos você na banda”.
Naquela época eu não tinha onde cair morto. Eu estava trabalhando em uma Starbucks em Hollywood. Então, imagina eu de avental verde (risos).
No começo quando as Veronicas ainda estavam para lançar o primeiro disco delas, eu não quis largar o meu emprego de ‘barista’. Um dia uma família de turistas me reconheceram ao mesmo tempo em que bebiam o Frappuccino. Já havia um clipe das Veronicas na MTV e tal. Alguns dias depois eu pedi demissão e desde então eu sempre só toquei guitarra.

TMDQA: Depois que você entrou para o Veronicas, surgiu vários fã-clubes seus. Você esperava isto?
George: Não, eu não esperava. Uma dessas fãs era completamente maluca. Uma australiana louca, mas prefiro nem falar nada. Imagino que ela já deve até falar português.

JG & Lisa (Veronicas) no Alabama JG e Jessica na Australia (2009)

TMDQA: Foi difícil se adaptar para um estilo mais pop do que você fazia antes?
George: Foi muito fácil me adaptar com turnês internacionais pela Europa, Japão, Austrália, Malásia, México, EUA, Canadá, Nova Zelândia, Tailândia… E também tendo o meu próprio roadie para ajeitar tudo para mim e rir das minhas piadas sem graça. A primeira vez que fui para Londres eu fui recebido pela imigração como Jungle George, tipo a minha papelada e tal, sem brincadeira.
Musicalmente falando, eu não venho do jazz ou do blues ou da maldita bossa nova, com todo meu respeito ao Tom Jobim, é claro. Mas eu venho do punk rock. Por instinto, pois meus pais nunca escutaram Rock and Roll.
Quando comecei a tocar guitarra não sabia o que era punk ou Oi!. Ironicamente, mas nem tanto, quando cheguei aos EUA, a minha paixão pela Rockabilly Guitar, que sempre existiu. Chegou ao ponto de eu saber tocar “Mister Sandman” inteira como Chet Atikins tocava no começo dos anos 50.
Eu acho engraçado quando eu toco algo mais elaborado como Country Guitar e Rockabilly. As pessoas acham que eu sou um guitarrista polido, até eu começar a tocar Sex Pistols ou Stooges, dai ninguém mais sabe como me rotular.
Hoje em dia eu amo o blues. Mas eu também odeio o blues. É tudo muito específico e relativo. A real é que sei tocar vários estilos. Quando você precisa de grana você aprende rápido. Mas minha paixão é Punk rock e Rockabilly e também um pouco de psicodélica, aquela do Syd Barrett e a do Spaceman 3. Acho que não respondi sua pergunta.

TMDQA: Como você vê o mercado da música hoje em dia?
George: Tem um monte de gravadora grande falindo ou caindo aos pedaços. Afinal elas têm pacto com o demônio, como naquele filme do Brian de Palma, “Fantasma do Paraíso”. Hoje em dia as bandas têm mais poder com Youtube e internet, legal. A maioria que se tornou grande por causa do Youtube é uma merda. Conclusão: Marshall McLuhan estava correto.
(Nota: O canadense Marshall McLuhan desenvolveu a teoria da Aldeia Global. Para ele, a evolução tecnológica iria colaborar para que as pessoas encontrassem e compartilhassem facilmente qualquer tipo de informação através de um meio de comunicação. Antigamente: a televisão, hoje em dia: a Internet.)

JG & Walter Lure em São Paulo (2010)

TMDQA: Mesmo morando fora, você acompanha alguma coisa da cena roqueira aqui do Brasil, ou é difícil chegar informações nos Estados Unidos?
George: Sim, mas normalmente só fico sabendo das bandas gringas que vão para ai. Por sinal tem muito mais shows no Brasil hoje em dia do que quando eu morava ai nove anos atrás. Quando eu estive ai no ano passado com o Walter Lure eu fui ao show dos Buzzcocks em São Paulo. Buzzcocks sempre é bem vindo!

TMDQA: Você pretende voltar para o Brasil algum dia?
George: Minha vida ainda é meio maluca, eu não tenho como saber. No último ano, eu morei em Nova Iorque, em Los Angeles e em Brisbane (Austrália). Quero poder ter mais tempo e dinheiro para estar mais em São Paulo. Sempre tenho muitas saudades de São Paulo. São Paulo é fudido!

TMDQA: No final do ano passado, você tocou com o Walter Lure (Johnny Thunders & The Heartbreakers) em São Paulo. Como surgiu o convite?
George: Eu estava morando em NY, e fui num show do Waldos. Fui falar com ele depois do show e Walter foi muito gente boa. Eu dei meu email para ele. Ele me escreveu uns dias depois. Nós fomos num restaurante indiano. Conversamos sobre Johnny Thunders e Jerry Nolan a noite inteira. Um dia eu recebi uma mensagem dele falando que tinha recebido uma proposta de ir tocar no Brasil. Ele queira que eu fosse junto tocando guitarra e tal, mas no final não aconteceu. Então, eu tentei organizar uns shows em São Paulo. O Renato do selo Ataque Frontal se interessou e organizou tudo. Bem legal!

TMDQA: Ouvi falar que quando você esteve em Nova York com o Holly Tree, o Supla apresentou a banda para um pessoal do “Punk Class of ‘94”, como o Rancid, NOFX e outros. Isto foi verdade?
George: Faz tanto tempo que eu quase não lembro. O mais legal daquela noite foi eu ter conhecido o [produtor] Kool Kojak com quem eu ainda trabalho aqui em Los Angeles. Mas o Billie Joe Armstrong (Green Day) e o Fat Mike (NOFX) estavam lá. Eu acho que eu ainda era um teenager (risos).
Éramos menores de idade e o Billie Joe arrastou a gente para o bar. Um ato legal e ilegal dele. Boa atitude!

TMDQA: O que você tem ouvido ultimamente? Recomenda alguma para o pessoal?
George: Não escuto Barry Manilow! Apesar dele ter gravado “Ships” do Ian Hunter (líder do Mott the Hoople).

TMDQA: Você é fã dos discos de vinil? Acha que é um formato interessante para “rivalizar” com as frias MP3?
George: Sim, tenho uma coleção bem legal. Mas minha vitrola quebrou na mudança de NY para LA. Eu preciso comprar outra. Eu tenho o (I’m) Stranded do The Saints, versão Australiana de 1977. E também alguns AC/DCs originais australianos. Vários punks ingleses. Eu também tenho Walter Carlos, Switched-on Bach em vinil, antes de ele ter trocado de sexo, e virado Wendy Carlos. Falando em mudança de sexo, eu também tenho Wayne County And The Electric Chairs em vinil.

TMDQA: Imagino que esta seja uma pergunta delicada, mas que todos querem saber. Existe alguma possibilidade do Holly Tree voltar?
George: Não, essa pergunta não é delicada. Seria delicada se eu fosse um dos outros integrantes (Risos). Just kidding my friends. Eu e o Tito (Wash) ainda somos amigos, porém o Tito deve me considerar um conhecido. Eu tenho vergonha das primeiras gravações do Holly Tree.  Se eu regravasse “Intoxicated”, “I Disagree” e “Best Wishes” hoje, elas soariam legais.
Falando nisso, o Gang Of Four regravou várias músicas dos dois primeiros discos deles em Return the Gift alguns anos atrás, e as versões novas são muito mais fudidas que as originais, que já eram fudidas. Acho que eu deveria ter recomendando esse disco na pergunta anterior.
Mas voltando ao Holly Tree. Quando nos mudamos para Los Angeles em 2003, o nosso set-list era fudido. Aquela versão foi a mais legal, mas quase ninguém no Brasil viu ou ouviu a banda, afinal a gente saiu fora. Seria legal tocar aquelas musicas de novo. Como a banda acabou aquelas músicas nunca não foram lançadas. Aquele é o Holly Tree que eu gosto de lembrar.

TMDQA: Uma pergunta tradicional do site: você tem mais discos que amigos?
George: Meus amigos são os meus discos.

TMDQA: Algum recado para os leitores?
George: Quando eu vou para o Brasil e eu ouço a voz do Faustão na televisão, me dá uma raiva. Mas para acabar com um tom menos raivoso: Um dia eu estava em Londres, no meu hotel, esperando o elevador, voltando para o meu quarto, meio bêbado. Entro, a porta fecha, e percebo que a única outra pessoa no elevador era o Ian Hunter. O resto é história. E como ele cantou “Now it’s a mighty long way down rock ‘n’ roll, through the Bradford cities and the oreoles and you look like a star but you’re still on the dole, all the way from Memphis”.

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