Música

Resenha: <b>Pearl Jam Twenty</b>, o documentário que marca os 20 anos do <b>Pearl Jam</b>

Cameron Crowe agrada fãs e leigos em documentário que estreia semana que vem.

Resenha: Pearl Jam Twenty

“Todos nos amam, todos amam a nossa cidade”. É essa deixa, citando “Overblown”, do Mudhoney, que um jovem e alcoolizado Eddie Vedder expõe a ironia de estar tocando em uma festa promovida pela MTV, para um público composto por executivos e engravatados em geral.

O evento, criado para divulgar o então recém-lançado filme de Cameron Crowe (Singles – Vida de Solteiro), foi um desastre. Em 1992, o Pearl Jam já era uma das maiores bandas de rock do mundo, mas nem a fama, o dinheiro, ou o reconhecimento artístico pareciam satisfazer o quinteto. E essa batalha é o tema central de Pearl Jam Twenty, documentário também dirigido por Crowe que chega aos cinemas de todo mundo na semana que vem.

Durante o filme, que ultrapassa as duas horas de duração, o diretor encontra o equilíbrio ideal entre a superficialidade e a obscuridade. Assim, raspando no limite de momentos emocionais e performances ao vivo, Pearl Jam Twenty entretém tanto quem segue o Pearl Jam com fervor quase religioso como aqueles que, no máximo, sabem cantarolar os refrãos de “Alive” ou “Even Flow”.

Seguindo uma linha cronológica – desrespeitada eventualmente para contextualizar o espectador, o filme começa com a tragédia que deu origem ao Pearl Jam: a morte de Andrew Wood, vocalista da extinta Mother Love Bone. Apesar do histórico como jornalista, Crowe evita despejar informações neutras e distantes, optando por contar a história do grupo como uma grande sessão de terapia em que Stone Gossard, Jeff Ament, Mike McCready, Eddie Vedder e Matt Cameron (que entrou no grupo em 2000) analisam e relembram os fatos mais importantes de suas trajetórias.

Não há um ponto crucial na história do Pearl Jam que não seja abordado no filme. Do choque inicial com o sucesso repentino ao status de uma das mais imponentes bandas do rock atual, tudo está lá: o “apadrinhamento” por Chris Cornell, do Soundgarden, os conflitos de egos, as batalhas contra George W. Bush e a Ticketmaster, as constantes trocas de bateristas nos primeiros dez anos do grupo, e claro, a catastrófica performance no festival Roskilde, na Dinamarca, quando nove fãs morreram pisoteados em meio à multidão.

Destacam-se as cenas em que Crowe aborda as eternas comparações feitas entre o Pearl Jam e o suposto rival Nirvana. A rixa é claramente desmistificada em uma cena rara, na qual Eddie Vedder e Kurt Cobain se abraçam e dançam lentamente, enquanto uma eufórica Courtney Love comemora o “fim” da inimizade fomentada pela imprensa da época.

Outro ponto forte do filme é dar identidade aos outros quatro membros da banda, sem bajular Eddie Vedder. Ainda assim, a evolucão do tímido adolescente fã de The Who ao explosivo frontman que encantaria estádios nos anos seguintes é percebida claramente nas impressionantes imagens de arquivo, editadas com maestria.

Em momento algum Pearl Jam Twenty glorifica a nostalgia em detrimento do presente. Apesar da maior parte do filme focar na primeira metade da carreira da banda, apresentações recentes e releituras de antigas versões atualizam o documentário – perfeito para que, vinte anos depois, possamos compreender melhor porque até hoje ainda se fala tanto deles, e ainda amamos tanto aquela geração de Seattle.

A lista de cinemas brasileiros que vão receber Pearl Jam Twenty pode ser vista aqui.

Texto também publicado no Portal Vírgula.