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Resenha: Blink-182 - Neighborhoods

Após 8 anos <b>Blink-182</b> traz toda a carga de experiências desse tempo todo para disco que é provavelmente o melhor da carreira da banda.

Blink-182 Neighborhoods

8 anos é muito tempo para qualquer ser humano. E se você é um rockstar que nesse meio tempo pausa as atividades da sua banda, enfrenta um acidente aéreo e se envolve em diversos outros projetos, é natural que você não terá a mesma cabeça de quase uma década atrás. Ainda bem.

O Blink-182 está prestes a lançar seu primeiro disco desde 2003, intitulado Neighborhoods, e o álbum mostra uma banda amadurecida, assim como seus membros, que já estão próximos dos 40 anos de idade.

É sempre importante lembrar que Blink-182, disco de 2003, já mostrava outra cara da banda, com composições muito mais sérias e sombrias como “Down” e “I Miss You”. A partir daí, Mark Hoppus e Travis Barker gravaram um disco com o +44 e Tom DeLonge surtou que tinha a melhor banda do mundo, o Angels And Airwaves.

Tendo isso como base é perfeitamente possível compreender e prever que o som do novo disco da banda não poderia ficar muito longe do que seus membros vinham tocando, e é justamente isso que aconteceu.

“Ghost On The Dancefloor” abre os trabalhos e embora possa passar a impressão errada com alguns efeitos em seu começo, logo se transforma em uma das melhores do disco, com uma guitarra interessante e Tom DeLonge cantando como fazia em seu primeiro projeto paralelo, o Box Car Racer.

Na sequencia vem “Natives” e é impossível não lembrar de “M+M’s” com uma guitarra muito parecida e uma espécie de dueto de vocais entre Tom e Mark Hoppus, algo que também foi resgatado de discos mais antigos da  banda.

“Up All Night” é o primeiro single, tem cara de arena rock e riffs que devem ter sido resgatados por Tom das gravações do primeiro e único disco do Box Car Racer, já que o início e fim da música lembram demais músicas como “All Systems Go”. Com efeitos, mas sem exagero, foi uma bela escolha para trabalhar o álbum.

“After Midnight” traz Tom cantando a maior parte e Mark no refrão, em uma música cadenciada e cheia de guitarras levemente distorcidas, que precedem “Snake Charmer”, outra música de DeLonge que tem muito de Box Car Racer e é uma das melhores do disco com seu verso sombrio e refrão grudento que nem chiclete.

Ao final da faixa, loops de bateria, efeitos e uma guitarra que combinam bem com o interlúdio de “Heart’s All Gone”, na sequencia.
Se DeLonge encheu o disco de riffs e sons do Box Car Racer, Mark Hoppus também deixa sua marca ao escrever esse interlúdio que lembra muito o de When Your Heart Stops Beating, do +44, sua banda com Travis Barker.

“Heart’s All Gone”, aliás, é um dos destaques do álbum e definitivamente a faixa mais pesada de Neighborhoods. Cantada com amor e raiva ao mesmo tempo, fica claro que as guitarras mais sujas e baterias rápidas acompanham a letra carregada de sentimento e sinceridade a respeito do assunto: You say you speak from your heart but your heart’s all gone. Não precisa dizer mais nada.

Outro ponto alto do disco é “Wishing Well”, que consegue ser triste e feliz ao mesmo tempo, com Tom Delonge fazendo um leve auto-plágio de seus “lalala da da ra da da” também cantados em “Story Of A Lonely Guy” do disco Take Off Your Pants And Jacket.

“Kaleidoscope” traz os 2 vocalistas  dividindo os trabalhos e tem uma introdução com um quê de Foo Fighters, enquanto “This Is Home” e seu efeito de fundo são a representação perfeita de que a banda quer ir atrás de vôos mais altos.

A introdução de “MH 4.18.2011” me lembrou muito “Bloodied Up” do Alkaline Trio, mas após um tom um tanto quanto sombrio, se transforma em uma das músicas mais alegres do disco, com um refrão de Hoppus daqueles de cantar junto, enquanto “Love Is Dangerous” traz resquícios do que Tom DeLonge faz no Angels And Airwaves, com seus efeitos dançantes e distorções nos vocais.

“Fighting The Gravity” é uma das faixas mais sombrias do disco e traz umas guitarras a la The Offspring que acompanham vocais repetidos, diversos efeitos, muita bateria e distorções pra todo lado. É um dos sons mais interessantes do álbum todo e talvez o que represente melhor essa nova fase do Blink-182 e seus experimentos. Eu jamais poderia imaginar que o trio de “Dammit” faria uma música assim.

Curiosamente, a música que fecha o disco é uma das mais pra cima de todo o trabalho. “Even If She Falls” contraria tudo que a banda tocou antes, seu peso, escuridão e mágoa e fecha os trabalhos com um som que lembra aqueles mais felizes do trio.

É claro e evidente que os anos se passaram e que, assim como todos nós, os membros do Blink-182 amadureceram e trouxeram toda a carga do que aconteceu durante esse tempo todo para suas composições. Obviamente os fãs sentem falta daquela banda que os fazia rir com suas músicas e vídeos, mas com certeza também sentem falta de quando eram mais novos e, assim como a banda, não podem fazer o tempo voltar atrás.

O Blink-182 amadureceu e fez um grande disco, e sinceramente acho muito mais interessante do que se Mark, Tom e Travis perto de seus 40 anos fizessem músicas como faziam há mais de 10 anos atrás. As coisas mudam e as pessoas também, e isso é bom.