Resenha: <b>Cut/Copy - Zonoscope</b>

Disco do trio australiano queridinho no Brasil é lançado em terras nacionais.

Cut/Copy - Zonoscope

Resenha por Gilvan Tessari, do Sinestesia

Impossível não simpatizar com a capa do disco do trio australiano Cut/Copy. Ao vê-la, fui arremessado em um vórtice temporal até uma tarde de sábado qualquer na casa de um dos meus tios ali por oitenta e um. O encarte é ilustrado por colagens de recortes aparentemente desconexos, uma espécie de apropriação analógica de outras mídias que fazia muito sucesso nos anos setenta, a julgar pela grande quantidade de remanescentes daquele período.

O conteúdo sonoro é coerente com as imagens da embalagem. Cut/Copy faz, como o nome também prenuncia, colagem de estilos diversos, principalmente com um certo tipo de pop levinho que derivou a partir da disco music de FM nos anos oitenta. Tudo bem feitinho, coisa de bom gosto. O interessante é que esta banda vem ao mercado com um rótulo de autenticidade indie, embora sua sonoridade caiba muito bem em uma rádio movida a nostalgia e música sem desafios, como a Antena Um.

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Ainda que elucubrações estilísticas possam ser intrigantes, o que faz uma banda efetivamente funcionar ainda são as boas canções. Neste ponto é que o Cut/Copy tropeça. Os arranjos são excelentes, os ritmos são variados, os vocais de apoio volta e meia arriscam encantar, as evoluções de estrofe para refrão quase funcionam.

Com o Cut/Copy, tive uma sensação semelhante a que tive, anos atrás, com a superestimada dupla francesa Air, mas estes carregaram a bandeira do lounge retrô quando havia uma, digamos, retomada do estilo num mundo de samplers. Agora, passados mais de dez anos, o truque já está mais do que gasto.

O que explicaria o lançamento deste terceiro CD do Cut/Copy? Apenas a excursão deles no Brasil em junho. Nosso povo ainda é carente de eventos com bandas gringas, e abraçou os australianos com o carinho que nos é peculiar. O que não quer dizer nada quando se trata do mesmo povo que abraça o Jean-Claude Van Damme até hoje.

O disco não é perfeito, mas trata-se de uma questão de momento. Zonoscope pode ser apreciado se ouvido como música de fundo em festas com grupos heterogêneos. Sabe aqueles momentos em que o som precisa ser neutro, em que se evita desagradar certas panelas em detrimento de outras? Então. Os ritmos vão colocar alguns para bater o pé sem constrangimento, o dono da festa vai ficar bem por apresentar uma banda de fora do eixo EUA-Inglaterra, e ninguém vai prestar atenção o suficiente para sacar que o vocal é chato e que as letras são bobas. Aliás, não é exatamente esta a proposta do lounge-pop?

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