Resenha: Documentário "<B>From the Sky Down</B>" - <B>U2</B>

Para comemorar o aniversário de 20 anos do álbum <I><B>Achtung Baby</B></I>, o quarteto U2 lançou um documentário que revela o processo de criação e gravação do disco, um dos mais experimentais da carreira da banda. Leia a resenha e assista ao trailer!

Resenha do documentário From the Sky Down - U2
Resenha do documentário From the Sky Down – U2

Resenha do documentário From the Sky Down - U2

Para comemorar o aniversário de 20 anos do álbum Achtung Baby, o quarteto irlandês mais conhecido do mundo, U2, lançou um documentário que revela o processo de criação e gravação do disco, um dos mais experimentais da carreira da banda.

O longa, dirigido por Davis Guggenheim (o mesmo diretor de “Uma Verdade Inconveniente“), também traz entrevistas novas e imagens inéditas da produção do disco, além de narrar o momento de virada na carreira da banda e no relacionamento entre seus integrantes.

From the Sky Down, que teve sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto, foi também exibido no Festival do Rio 2011. O TMDQA! foi convidado para assistir ao filme e enviou o amigo e leitor, Bruno Nigro, para fazer a resenha. Confira!

 

Vamos fazer um pequeno exercício mental. Coisa simples, prometo. Imagine que você é o líder e a voz de um dos grupos ícones dos anos 80. Em suas costas, dormem gigantes em formas de vinil, responsáveis por marcar para sempre essa época. Fazer milhões de pessoas cantarem que “não podiam acreditar nas notícias de hoje”, sua especialidade. E, talvez, seu elaborado topete, muito bem acompanhado por mullets de respeito, tenham inspirado um tal Ricardo Queso a transformar tudo isso num mambo bem caliente para Heleninha se esbaldar.

Mas ter a MTV, a Rolling Stone e uma legião de fãs ao redor do mundo – que na época, últimos anos da Guerra Fria, não podíamos reclamar de monotonia com o Fantástico dizendo a cada domingo que “os EUA têm o poder de destruir a Terra 42 vezes” – dizendo o quanto eram incríveis, únicos e de altíssimo garbo e elegância não era o bastante. Faltava a cereja do bolo. Então, você e seus comparsas foram atrás dela. E ela veio pendurada no galho mais alto da árvore de Josué. Ele nem reclamou; pois também curtia o som de vocês.

Reza o clichê que, ao chegar ao topo, tudo o que se pode fazer é aproveitar a vista na descida da ladeira. E como não podia deixar de ser, até seus acidentes de percurso tinham aquela aura de grandiosidade a qual o público se acostumou a ver nos seus discos. E se isso não poupou vossas cabeças do bombardeio dos críticos, com suas previsões apocalípticas de fim dos tempos para Bono, The Edge, Larry e Adam. Ao menos abriram os olhos para o inevitável: o momento de juntar, remendar e costurar os pedaços havia chegado. Era hora e a vez do U2 se reinventar.

É mais ou menos a esse cenário que From The Sky Down nos leva. O amadurecimento do quarteto, a superação de problemas pessoais, bloqueios criativos e também a desconfiança em mexer no time que já tinha ganhado muito no passado. Mas, aparentemente, havia perdido um pouco o rumo. Como quem chega sem avisar na hora do almoço, a banda desembarcou em Berlin no dia que ficaria marcado na história como o Dia da Reunificação Alemã: 03/10/90. Se enfurnando no Hansa Studios, de onde Bono e cia. apenas saíram em 1991, com o disco que seria considerado sua grande volta por cima ou, para um fã mais empolgado na fila, “a redenção, a ressurreição do U2”: Achtung Baby.

Como tudo que leva o “Certificado de Qualidade U2”, é um documentário caprichado. Feito com esmero para fãs, não-fãs e não-fãs-por-pura-implicância (como eu, desculpaê). Ele abre os registros – e as entranhas – da banda há 20 anos atrás, enquanto os integrantes contam sob cada ângulo individual, quais sentimentos passeavam em suas mentes e corações. É impossível não reparar na dor introspectiva de The Edge, que estava se divorciando na época, ao compor “Love is Blindness“. É interessante ver o Bono falando em seu “bonolês” ao compor alguma melodia, que cortada e recortada mil vezes, se transformaria em “One“. Muitos não fazem idéia da importância dessa música. E o filme deixa evidente seu significado. Não para o público e, sim, para os quatro integrantes.

Para mim, que tenho uma implicância quase patológica com o lado ‘salvem-as-baleias’ do Bono, foi gratificante vê-lo agradecer aos caras por “suportarem” ele. Ali, eu disse baixinho: “Não esquenta, tio”. Pois, no acender das luzes do cinema, é inegável que após milhões de discos vendidos e milhões de cifras arrecadadas com suas turnês apoteóticas, o U2 segue fiel à grandeza das emoções que sua música provoca há mais de 30 anos.