Resenha por Gilvan Tessari, do Sinestesia
Aos quarenta e três do segundo tempo da preparação para o Planeta Terra Festival, eis que cai na minha mão o CD do Bombay Bicycle Club. A nota de lançamento do festival diz que é uma banda jovem e que lançou três discos em pouco mais de três anos, blá blá blá. O tipo de coisa que se ouve sobre toda bandinha nova que surge em Londres. Brasileiro não entende a efervescência daquele lugar. A Inglaterra é um lugar muito, mas muito chato mesmo. Guardadas as dimensões, é parecido com Brasília. A diferença é que Londres é um lugar chato com uma mística musical e dezenas de jornalistas que acham que entendem de música e que adoram trocadilhos com filmes e seriados. Em suma, era de se esperar mais uma pseudo-salvação do rock inglês.
Mordi a língua.
A Different Kind of Fix é uma simpática coleção de canções bem arranjadas e com bons ganchos dispostos em locais estratégicos. Os rapazes são bons músicos, e colocam sua habilidade a serviço de canções simples e diretas. O vocal não é muito distintivo, mas não chega a incomodar. Exceção aqui para a faixa de encerramento do disco, uma balada desnecessária e burocrática que expõe a fragilidade dos vocais, que não conseguem o necessário apoio de uma base trivial de piano.
O Bombay Bicycle Club funciona bem é nas canções mais animadas, como Your Eyes. Tenho uma implicância imediata e involuntária com vocais dobrados, mas eles combinam com Your Eyes. Com um pouco de boa vontade é possível traçar um paralelo entre o Bombay Bicycle Club e a banda americana Death Cab For Cutie, desde que se considere um desvio forte para os lados do New Order em sua fase Republic.
O tom das canções é, em geral, para cima. Talvez não funcione numa pista de dança, mas serviria de trilha para uma boa Sessão da Tarde. Lights Out, Words Gone, por exemplo, acalenta sonhos de paisagens amenas numa estrada em sua levada sedutora. Bad Timing é uma rara incursão em um ambiente mais escuro, com seu arranjo tenso e seus vocais claustrofóbicos. Apesar disso, ou justamente por isso, é uma das faixas que mais rapidamente grudam na cabeça.
Take The Right One transita entre dois vértices, a saber, Echo & The Bunnymen e Mew. Do primeiro, as guitarras cheias de melodias simples e comoventes, e, do segundo, os vocais sonhadores. Shuffle arrisca alguns passos tímidos na pista com suas palminhas e seus pianos marcados, uma promessa de hit para um verão particular.
Entretanto, nem tudo são flores. Impregnados pela supracitada empolgação dos semanários britânicos, os garotos do Bombay Bicycle Club podem ter esquecido de um fator crucial na criação do terceiro álbum: a maturação. As causas podem ser diversas: Ansiedade, vontade de agradar, receio de cair da crista da onda de adoração no mundinho londrino, alguma delas, ou todas. O ponto é que este disco soa como um Tempranillo, pode-se perceber os veios pueris em meio ao bom sabor predominante.
Os arranjos poderiam ser mais burilados. As composições poderiam ser mais caprichadas. A energia bruta dos garotos nos arremessa em ondas de alegria, mas, em algum momento, o velho rabugento acorda, e repara nos detalhes, naquela parede que não foi bem pintada ou naquela lâmpada que se esqueceu de instalar.
Em cinco anos saberemos o resultado da carreira deles. Eu apostaria que somem no turbilhão devorador dos semanários em menos de dois anos, mas, bom, vai que eles conseguem tornar-se surdos para a algazarra dos jornalistas onanistas da capital inglesa? Ia ser uma boa.