No início de 2006, pouco mais de um ano depois da confirmação de que o blink-182 estava separado, Tom DeLonge anunciou a formação do Angels & Airwaves, projeto solo do vocalista, guitarrista e compositor. Quando o álbum de estreia We Don’t Need To Whisper saiu, a expectativa era imensa, e apesar de bem recebido por uma pequena parte do público e da crítica, ficou longe de atingir as expectativas – jogadas para cima pelo próprio Tom, que afirmava sem hesitar que a música do Angels & Airwaves era o melhor fruto da indústria músical nos últimos vinte anos.
Eis que 2011 chega, e o mundo ao redor de Tom DeLonge é bem diferente de cinco ou seis anos atrás. O blink-182 voltou à ativa, lançou o aguardado Neighborhoods, e o Angels & Airwaves deu à luz Love, Part 2, a segunda metade do ambicioso projeto Love, que reúne o disco homônimo lançado ano passado e o filme, também entitulado Love, que ganhou lançamento norte-americano junto com uma edição especial que reúne os dois álbuns.
Durante os últimos anos, Tom frequentemente irritou fãs do blink-182 por tratar o Angels & Airwaves como um projeto prioritário, mesmo após retomar a amizade com Mark Hoppus e Travis Barker. Não é por menos: além de investir do próprio bolso em projetos megalomaníacos como o filme Love e o website Modlife, Tom costuma anunciar com entusiasmo nas redes sociais e em entrevistas suas ambições com a banda, menina dos olhos do guitarrista.
Em Love, Part 2, pouca coisa mudou. Admito que acho alguns itens da discografia da banda interessantes, mas não fiquei surpreso quando adivinhei a sequência de acordes de “Saturday Love”, faixa de abertura do álbum, antes mesmo de a introdução acabar: é a mesma harmonia usada e repetida exaustivamente por Tom em todos os quatro discos da banda, em cima de levadas e andamentos variáveis.
Tudo bem, vamos pegar leve. Quando tudo sai da cabeça de um cara só, e o projeto tem suas intenções e inspirações tão bem definidas, não há mesmo razão para esperar algo radicalmente diferente. Os singles “Anxiety” e “Surrender” têm lá seus bons momentos, e as passagens instrumentais de algumas faixas – que compõem a trilha do filme Love -, como “Moon As My Witness” são bem-vindas.
Mas em “Dry Your Eyes” o maior problema do álbum – e do resto da discografia do grupo – se torna evidente: ao referenciar a própria banda, talvez por vislumbrar sua obra como uma única estrutura, Tom DeLonge parece fazer a mesma música tantas vezes que é difícil entender qual sua pretensão. A música emula “Everything’s Magic”, de I-Empire (2007) tão descaradamente que é insuportável ouvir até o fim. Parece apenas uma versão menos inspirada da original, que já referenciava a introdução de “Anthem Pt. II”, do blink-182.
Daí pra frente o disco segue exatamente nesse ritmo. Mesmo a última faixa, a razoável “We Are All That We Are”, parece uma cópia inferior de faixas como “The Gift” ou “A Little’s Enough”, do primeiro álbum, e nenhuma delas tem ganchos como os de “True Love”, “Rite of Spring”, “The War” ou outras composições muito melhor desenhadas que qualquer uma lançada em qualquer um dos dois álbuns relacionados ao projeto Love.
É difícil entender qual a posição do AVA no mundo da música hoje. Com uma sonoridade que reúne os elementos melódicos do blink-182 com guitarras excessivamente inspiradas em U2, The Cure e The Police, o grupo faz um stadium rock que funcionaria muito melhor ao vivo que em estúdio – se não fosse as péssimas atuações de Tom ao microfone. O fato dessa sonoridade ter encharcado Neighborhoods de teclados, vocalizações, reverbs e delays não ajuda – antes, pelo menos, havia a clara separação entre o que era blink-182 e o que era AVA. Agora, nem isso.
Em resumo: mesmo os bons momentos de Love, Part 2 soam reciclados e copiados de músicas melhores da própria banda, e o disco vai agradar quem já é encantado pela banda. A quem não é, não sobram muitas opções além da indiferença.