Entrevistas

Entrevista: <b>Dani Nolden</b> do <b>Shadowside</b>

"<i>Esses são os metaleiros de verdade, que tem prazer em ter os discos das suas bandas favoritas nas mãos!</i>"

Dani, lider e vocalista do Shadowside

O TMDQA! bateu um papo com a bela vocalista do Shadowside, Dani Nolden, sobre o novo álbum do grupo, Inner Monster Out, as turnês no exterior e os planos para 2012. Confira como foi essa conversa:

01. Como é o sentimento de ser considerada uma das maiores bandas do metal brasileiro ao lado do Angra e Sepultura?

Dani Nolden: É uma sensação de que é tudo um sonho e posso acordar a qualquer momento (risos). Por mais que você trabalhe duro e por muito tempo para conseguir o reconhecimento, ninguém espera de verdade estar em uma banda bem-sucedida. Você torce, você acredita em seu próprio potencial, faz de tudo para que as coisas aconteçam, mas não depende apenas da banda ou da sua equipe. Depende de aceitação do público, principalmente. A mídia pode até elogiar o trabalho, mas se o público não gostar, nada feito. Eu sempre quis ter uma banda e ir com ela o mais longe possível, mas não tinha ideia de que seria tão longe. Porém isso só me faz querer trabalhar e crescer como cantora e como pessoa ainda mais… tem muita coisa pra acontecer e pensar que somos rockstars seria com certeza matar o futuro da banda! Na verdade, isso é um verdadeiro orgulho para nós! Felizmente todos os nossos três discos sempre estiveram na lista dos melhores lançamentos de seus respectivos anos ao lado de grandes artistas. A Shadowside é uma banda cheia de determinação, e ficamos orgulhosos de sempre obter e manter o respeito da mídia e dos nossos fãs.

02. A Shadowside é uma das bandas que mais mantem contato com os fãs por meio do Formspring. E recentemente, você deu uma verdadeira aula respondendo a pergunta de um internauta em relação ao depoimento de Edu Falaschi, do Angra, sobre o público brasileiro.

Dani: O que muitas vezes não entendemos é o motivo de termos poucas bandas grandes no Brasil, em comparação a vários países europeus e americanos. Existe talento no Brasil? É claro que existe. Existe público no Brasil? Os shows de grandes bandas lotados também dizem que sim. Mas por que a Finlândia e Suécia tem tantas bandas com grande sucesso internacional e nós não? Por que a Alemanha revela tantos talentos e o Brasil não consegue sair do Brasil? Por que o fã brasileiro “parece” gostar mais das bandas estrangeiras do que das nacionais? Pra começar, as bandas brasileiras raramente conseguem fazer uma qualidade de gravação do mesmo nível das estrangeiras. Não é porque no Brasil não temos a tecnologia… nós temos, mas ainda é muito caro gravar um disco com qualidade que possa competir em todo o mundo. Levou bons anos para a Shadowside conseguir juntar os recursos para uma gravação desse nível. Depois, com um disco nas mãos, onde você vai tocar? Enquanto, os europeus podem tocar em um país a cada final de semana diferente, em casas estruturadas, nossas bandas precisam se sujeitar a equipamento ruim e promotores que muitas vezes não querem nem cobrir as despesas das bandas. Lá na Europa, você entra em uma van e pode rodar praticamente o continente inteiro. Uma banda alemã consegue facilmente fazer 30, 40 shows no país, e aqui no Brasil, teríamos que sacrificar qualidade para conseguir esse mesmo número e o público não vai querer ir a show com som ruim. Eles tem festivais tradicionais, que levam milhares de pessoas todos os anos. Uma banda que está lá pode fazer um festival por mês. Se uma banda brasileira recebe convites para tocar no Sweden Rock Fest, que é em Junho, e no Wacken, em Agosto, ela não pode ficar lá esse tempo todo, a menos que consiga ficar esse intervalo todo em turnê, o que não é simples durante o verão europeu, e ir e voltar duas vezes já deixa tudo isso caro demais. As gravadoras europeias tem medo de investir em bandas brasileiras, obviamente porque as bandas brasileiras não podem estar lá o tempo todo para promover o disco, ao contrário das europeias. Esses são apenas alguns dos motivos que tornam as coisas mais fáceis para eles. Eles podem fazer mais shows, com a mesma qualidade das bandas grandes, eles tem mais condições de gravar discos, eles podem promover de forma mais eficiente. É natural que as bandas brasileiras cresçam de forma mais lenta, quando conseguem crescer. Não é uma questão de falta de talento das bandas daqui, nem de falta de interesse do público. É só que é mais fácil para uma banda de lá ter um currículo impressionante.

03. Qual a maior diferença entre o público do Brasil e o europeu em shows?

Dani: O público brasileiro é muito intenso, apaixonado… o latino em geral é assim. Somos bem calorosos e deixamos claro quando gostamos de alguma coisa. Eu não senti muita diferença daqui do Brasil para os fãs da Espanha, Itália, leste europeu e surpreendentemente, Reino Unido. Achei que os britânicos seriam mais contidos, mas eles foram completamente insanos, gritando e curtindo o tempo todo. Se os idiomas não fossem diferentes, eu teria esquecido que não estava no Brasil. Na Alemanha e Finlândia, eu senti um pouco a diferença. Acho que o alemão é bastante exigente, muitas bandas de sucesso saíram e passam por lá, então tive a impressão de que primeiro eles querem escutar para decidir se gostam da banda que estão vendo. Foi interessante observar como eles eram quietos nas 2, 3 primeiras músicas e depois começavam a se soltar. Devem ter se empolgado com os brasileiros malucos que não paravam de bater cabeça no palco (risos). Na Finlândia, eles assistem ao show, especialmente em Helsinki, que foi o primeiro show que fizemos por lá. Eles ficaram tão quietos que pensei que eles tinham odiado a banda! Felizmente, estávamos com uma amiga finlandesa que morou no Brasil e atualmente reside por lá. Ela nos disse para ficarmos tranquilos, porque o maior elogio que um finlandês pode fazer a um músico é assistir ao show, pois eles simplesmente saem e vão beber quando não gostam de uma banda. Música é ensinada nas escolas de lá, então todos eles entendem muito bem o que estão escutando e não ficam para assistir algo que acham ruim. No segundo show, em Tampere, estávamos mais preparados para uma reação inicial fria e decorei algumas frases em finlandês para quebrar o gelo. Já esqueci todas, mas funcionou no dia (risos).

04. Como foi a emoção de tocar no mesmo palco que o Iron Maiden e para aquela multidão de gente?

Dani: É indescritível… por mais profissional e acostumado a tocar em grandes eventos que você esteja, tocar com uma banda como o Iron Maiden, que já era uma lenda quando você era criancinha, é uma situação completamente diferente. Meus sentimentos estavam completamente misturados na hora, porque abrir para o Iron Maiden é um sonho realizado, mas a pressão é enorme. Você vai tocar diante de 18.000 pessoas que pagaram caro, esperaram por horas e estão ansiosos para ver o Iron Maiden, a banda favorita da maioria daquelas pessoas. Tem que ser um show incrível, que faça as pessoas acharem que vale a pena esperar para ver a banda principal. Foi um belo teste e ver as pessoas nas primeiras filas cantando as nossas músicas, com o resto do público agitando também foi uma surpresa maravilhosa!

05. Vocês já fizeram shows nos Estados Unidos também, como foi a recepção lá de cima? Eles são muito críticos ou possuem algum tipo de preconceito por a banda ser do Brasil?

Dani: Eles não tem preconceito algum! Muito pelo contrário, eles achavam interessante o fato de sermos brasileiros e muitos que não nos conheciam foram ao show apenas por sermos uma banda do Brasil. Isso ficou evidente logo no primeiro show que fizemos, no Indianapolis Metal Fest. Estávamos assistindo aos shows anteriores ao nosso e ficamos assustados. 3, 4 pessoas na frente do palco. Ficamos desesperados porque achamos que havíamos viajado por tanto tempo para tocar para a equipe do local do show (risos). Ficamos desanimados, mas em uma conversa decidimos que faríamos nosso melhor, é claro. Seria um show tão bom quanto todos os outros porque aquelas 3 pessoas mereciam isso. Subimos no palco e conforme montávamos nosso equipamento, vimos a casa encher de forma repentina. Em alguns minutos, já mal era possível andar por ali e não entendemos o motivo. O show foi incrível, o público maravilhoso e depois de terminarmos nosso set, descobrimos que os horários das bandas estavam afixados na porta e o promotor nos disse que todo mundo queria ver “a banda do Brasil”. A recepção foi tão boa que no ano seguinte, fomos uma das bandas headliners do mesmo festival. Eles não sabem muito de Brasil, mas não tem uma ideia ruim do nosso país. Todo headbanger lá é fã de Sepultura!

06. Como foi a turnê com o W.A.S.P.? Parece que foram dias intensos, com show atrás de show. Também da pra se divertir com um ritmo puxado assim?

Dani: Diversão não-musical é rara em uma turnê como essa, mas estar na estrada já é diversão o suficiente para mim. Eu adoro essa vida. Os meninos estavam querendo voltar pra casa no final, estavam com saudade da comida caseira, das namoradas, e eu dizendo “vocês estão loucos? Vamos marcar mais duas semanas de shows!” (risos) Nós dormíamos em um país e acordávamos no outro, praticamente no horário de passar o som, e logo depois da nossa passagem de som já era quase hora de tocar. Ficávamos na casa até o final do show do W.A.S.P., para as vendas de merchandising, atender uma imensa fila de pessoas pedindo por fotos e autógrafos, e então era estrada de novo. Os poucos dias sem show eram por causa de viagens muito longas. Por tudo isso, quando finalmente tínhamos algum tempo livre, fizemos valer a pena. Aproveitamos a primeira neve da turnê para uma noitada de Guinness, que o Fabio e Raphael adoram, e depois uma guerra de bola de neve. Na Lituânia, conhecemos os arredores, familiares para o Fabio, que é descendente de lituanos e sempre vai pra lá, fizemos uma tour pelos bares locais também. Em Madrid, fizemos uma tour pelos restaurantes (risos). A comida de lá é divina. Acho que conseguimos conhecer de verdade duas ou três cidades, do restante, vimos apenas estrada e casa de show. Mas vale a pena se você realmente ama o que está fazendo. A sensação para mim foi de fazer um único show com duração de dois meses.

07. Vocês fizeram um curto número de shows pelo Brasil, devido as turnês internacionais. Pretendem ampliar os locais em 2012?

Dani: Sim, nós temos vontade de igualar esses números. Nós não deixamos de fazer shows no Brasil por causa das turnês internacionais… as oportunidades no exterior simplesmente apareceram em maior número. Aqui no Brasil, os organizadores de shows levam meses decidindo se querem levar uma banda ou não… e muitas vezes desistem na última hora. Na Europa e Estados Unidos, tudo acontece muito rapidamente. Mas eu gostaria muito de tocar mais no Brasil, seria excelente poder tocar em todos os Estados brasileiros. O nosso público é fantástico e realmente vale a pena tocar por aqui.

Shadowside

08. Como foi o processo de composição e gravação desse último álbum? Ele foi gravado na Suécia, é isso?

Dani: Sim, foi gravado, mixado e masterizado na Suécia. Nós literalmente moramos no estúdio durante a gravação desse álbum. O estúdio tem uma casa anexa com cozinha, banheiro e camas, exatamente para que as bandas estrangeiras possam gravar lá sem preocupação ou custo de hotel. Nós pudemos ficar inteiramente focados na gravação, pois após acordar, tudo que precisávamos fazer para chegar o estúdio era abrir duas portas. Fredrik tinha os horários dele de trabalhar, porém nós podíamos ficar experimentando 24 horas por dia no estúdio. Fizemos muita coisa durante a noite, que mostrávamos a ele assim que ele chegava no dia seguinte e então decidíamos se aquilo seria aproveitado ou não. Não precisávamos pegar estrada, era música 24 horas por dia, 7 dias por semana. Como cantora, eu achei isso excelente, meu rendimento foi infinitamente superior por não precisar viajar 3 horas por dia para chegar ao estúdio e voltar para casa. Eu não sentia cansaço algum, minha voz respondia muito melhor, foi confortável e permitiu a melhor performance de cada um de nós. Durante a composição, o clima dentro da banda já estava excelente, nós nos divertimos fazendo as músicas, porque todos nós trabalhamos nelas do jeito que tivemos vontade… nós não podamos ninguém, todo mundo tinha liberdade para criar e mexer nas ideias dos outros, e então quando todos gostavam do resultado, a música estava pronta. Nós levamos essa diversão para a gravação e as coisas nunca correram de forma tão fácil e leve entre nós. Acredito que esse é o segredo da qualidade do Inner Monster Out e não nos vejo trabalhando de forma diferente no futuro.

09. Com um vasta experiência na estrada, como o Shadowside se define agora?

Dani: Eu acredito que somos uma banda em eterno desenvolvimento. Hoje fizemos o melhor trabalho da nossa carreira, mas daqui 2 anos, com ainda mais experiência, mais turnês, mais ideias, o que será que vamos conseguir criar? Creio que hoje encontramos nossa identidade. Nosso som é pesado, direto, cheio de energia, gostamos da mistura de música nervosa e agressiva com melodias bonitas e marcantes. Sempre vamos seguir essas características, mas sempre buscando novidades, algo que surpreenda o público. Somos uma banda que sempre procura o impacto. Estamos no melhor momento da existência da banda Shadowside, mas nem de longe considero que esse é o auge. Ainda estamos em ascensão.

Dani Nolden, vocalista do Shadowside

10. Como surgiu a ideia da parceria com Roger, do Ultraje a Rigor?

Dani: Nós pensamos que ficaria divertido, é ele que dá o toque irreverente que a música precisa. Ele é um verdadeiro ídolo, uma lenda do Rock brasileiro. Então por que não ter um pouco da música original, do responsável por uma das músicas mais interessantes, divertidas, porém realistas do Rock nacional? Quando perguntamos se ele queria participar, ele disse que queria escutar nossa versão primeiro. Então quando terminamos a gravação na Suécia, enviamos a música a ele, ele gostou e aceitou o convite. Espero que algum dia nós possamos fazer isso em um show, seria uma honra ainda maior.

11. Obrigado pela tempo de vocês e espero que 2012 seja repleto de shows e muito sucesso! Mande um recado para aqueles metaleiros que tem Mais Discos Que Amigos!

Dani: Esses são os metaleiros de verdade, que tem prazer em ter os discos das suas bandas favoritas nas mãos! Espero que curtam o Inner Monster Out e que o achem digno de ser acrescentado às suas coleções! Espero ver todos vocês em breve em algum show! Muito obrigada pelo espaço, pelo apoio e até logo!