Na primeira sexta-feira 13 de 2012, aconteceu no Rio de Janeiro a bastante comentada edição de estreia da Drunk Rock Party, com shows históricos das bandas Costanzas, Gambrinus 74 e Gramofocas (que aproveitou para lançar o álbum No Bar), conforme divulgamos por aqui.
Nosso amigo e leitor, Allex Machado, topou representar mais uma vez o TMDQA! e, assim, escrever tudo o que viu e ouviu por lá. Confira!
O que há para temer em uma sexta-feira 13? Bom, não podemos responder esta pergunta em nome de todos, mas veja como é a gramática: trocando uma letra da pergunta que inicia este texto, temos a resposta, o lugar e a trilha sonora perfeita: cerveja, Saloon 79 e Punk Rock, mistura que quem nos concedeu foi a organização da primeira edição da Drunk Rock Party, que nos contemplou com nada mais, nada menos, que as cariocas bandas Costanzas e Gambrinus 74 e o Gramofocas, que saiu lá de Brasília pra pegar uma praia e tocar músicas de seu recentíssimo novo álbum, No Bar, cá no Rio de Janeiro.
E antes que o dia maldito acabasse, às 23hs, subia ao palco o Costanzas, com o público ainda moderado, tanto em número quanto em comportamento, nada de muito diferente do que sempre acontece nos shows de abertura, mas, sem querer me aproveitar da alegoria, estariam as pessoas esperando acabar a sexta-feira para entrar na casa? Enfim, com o soar dos primeiros acordes os que ainda não os conheciam perceberam que a banda não havia caído ali de paraquedas, com suas temáticas e influências em total sintonia com a essência do punk rock do cardápio do dia: cerveja, tequila, ressaca, garotas, horror, Ramones, Misfits, The Queers, etc.. Pouco a pouco o público foi se soltando e abraçando a banda.
Foto por: Alexandre Bolinho (Kopos Sujus)
Covers pontuais como “Last Caress“, do Misfits, que foi excepcionalmente cantada pela guitarrista Angélica e não pelo vocal/guitarrista Marcelo, “Commando” e “Havana Affair“, dos Ramones, e “3rd Man In“, do Dropkick Murphys, fizeram com que a moderação do início do show virasse agitação, com o público subindo ao palco e cantando junto com a banda – e até no lugar desta. E se o primeiro show do Costanzas, em 2010 (também abrindo para os Gramofocas), foi uma surpresa, esse foi uma confirmação de que a banda tem bastante contribuição a dar à atualmente quieta cena bubblegum brasileira. No fim, um belíssimo show. O melhor da banda, inclusive, segundo os próprios. Quem estava lá, viu e ouviu. Quem estava do lado de fora, pegou sereno.
Após conversadas as conversas de praxe com os amigos e bebidas as devidas cervejas, subia ao palanque o trio Gambrinus 74. E aqui creio caber uma analogia: fazer música punk é como fazer a função de um centroavante em um time de futebol: é “só” colocar a bola pra dentro, parece fácil, mas não é, pois é 9 ou 18. Ou você faz bem ou não. E pra fazer bem tem de estar sempre na área. O Gambrinus vem crescendo bem rápido. É uma das bandas que mais têm tocado, nos últimos meses, no Rio de Janeiro, e não obstante fizeram o show que fizeram, cheio de interatividade com o público que a banda vem construindo, que cantava suas músicas, subia ao palco, arrotava no microfone, lindo de se ver.
Foto por: Raíssa Medeiros
Com seu punk rock punkoliticamente correto, os caras também fizeram bem o dever de casa, tocando sabiamente seus três acordes sobre bêbados, paixões e zumbis. E como não podia deixar de ser, já que há um cemitério no bairro de Botafogo bem perto do Saloon 79 (sério, coincidência?), não podia faltar na lista de covers da banda o Misfits. A escolhida dos reis do horror punk foi “Hybrid Moments“. E, felizmente, como toda boa banda que não se esquece de suas origens, não deixaram de tocar Ramones (foi “Judy Is a Punk” a canção), sem falar que ainda teve espaço/tempo para tocarem “Teenage Kicks“, do Undertones, todas cantadas, como já citado, alegremente pelo público.
Depois da nobre apresentação da Gambrinus e de, de novo, todo ritual dos intervalos dos shows que todos conhecem muito bem (aquele arruma amplificador, liga guitarra, compra cerveja, vai ao banheiro – e lava a mão – de sempre), o Gramofocas ocupou o palco, quando o público já ocupava os espaços vazios da pista da casa. A banda abriu o show como seu novo disco: com “Bebe Por Beber“. Emendadas, o bloco inicial de músicas foi composto pelas mais antigas “Bagaceira Baby“, “Viva Boris Yeltsin!” e “Sempre Que Eu Fico Feliz Eu Bebo“. E o público? Bem, estavam lá pra isso. Feliz é pensar que o normal nos shows do trio brasiliense é ver as pessoas cantando, alegres, pulando, pogando, dando seus stage dives sorrindo; e tudo com tanta intensidade que nem vendo, só sentindo.
Foto por: Raíssa Medeiros
“Lá Vai Ela“, “Vem, Bem, Vamos Pro Rodeio“, “A Filha do Dono do Bar“, “Paradise“, “Você É Meu Rolinho Parmalat“… Nenhuma dessas faltou. Também não faltaram as palavras de justíssimos agradecimentos da banda, na voz de Paulo, baixista e agora principal vocalista, às pessoas que ajudaram e fizeram o evento acontecer e de carinho a integrantes de antigas bandas, como Pedro, do Carbona, e Gabriel, do Autoramas e do finado Little Quail, ambos presentes.
“Você Foi Embora”, pedida pela galera através do facebook, “Baby, Você Não Tem Pudor“, “Motoboy“, “Brasamora“, “Quando Eu For Para a Irlanda“, “Parati Surf“, “Garota Comunista“, “Insônia“… Quem queria ouvir essas, conseguiu. E a exemplo das bandas anteriores, os Gramofocas não deixaram de tocar suas covers dos Pais do Punk. “R.A.M.O.N.E.S.” e “Do You Wanna Dance?“, pedida pela galera, atestaram que Ramones nunca é demais.
Foto por: Raíssa Medeiros
Um fato que não consegue passar despercebido é que o Gramofocas tem aquele problema que toda banda adoraria ter: não é banda de músicas, mas de álbuns. Assim, sempre acaba faltando uma ou outra canção para alguém. Porém, o mesmo problema se torna uma solução, já que não há música tocada que deixe pagante insatisfeito. Sendo assim, a banda acabou não concentrando seu show completamente no novo álbum, optando por fazer um set list mais homogêneo, com músicas de todas as fases. Porém, a resposta do público às músicas novas não poderia ser melhor. Tanto é verdade, que quando a banda achou que havia terminado de tocar sua saideira, “Um Gole Aqui, Um Gole Lá“, as senhoras e senhores da plateia não os deixaram abandonar o palco antes de tocarem “Paracatu Blues“, a pedindo cantando em coro. Pedido atendido. A voz do povo é a voz do povo. Apesar de a música não ter sido ensaiada, a tocaram, sem ninguém do público ligar nem um pouco pros já antecipados possíveis erros do Amigo Punk, baterista da banda.
Todo bebedor sabe que sempre há uma saideira depois da primeira saideira anunciada; acontece. Após “Paracatu Blues”, “No Bar“, música que intitula o novo álbum, foi, pois bem, a real saideira da banda. Aliás, nada mais sugestivo para fechar a deliciosa e memorável noite, já no meio da madrugada.
E a ressaca, bom lembrar, foi pelas devidas contas em risco.