Quando conheci o Scalene, uns anos atrás, confesso que achei que fosse só mais uma bandinha de pop punk/post hardcore, como as milhares que encontramos diariamente por aí. Eles tinham vocal feminino e faziam covers de Katy Perry e Lady Gaga. Eu sinceramente não estava nem aí para eles.
Até que um dia, meio por acaso, vi a banda ao vivo. A banda tinha dezenas (centenas, talvez) de fãs apaixonados, e exibia uma presença de palco de dar inveja a várias bandas com anos de estrada no underground. As músicas eram bem estruturadas e, apesar de não gostar tanto do estilo deles, fui obrigado a reconhecer que eles eram muito bons.
Corta para 2012, e a banda vem a São Paulo para gravar uma série de vídeos de divulgação de Cromático, o primeiro disco deles. Eles me mostraram as músicas novas em uma sessão meio informal, na casa de amigos, e eu mais uma vez me surpreendi. Influenciadas ao mesmo tempo por Thrice, August Burns Red, Beatles e Foo Fighters, as músicas eram “grudentas” – no bom sentido – sem ser previsíveis, com letras que eu ainda duvido terem sido escritas por gente que mal saiu do ensino médio.
“Abordamos bastante o conformismo e falta de sentido na vida das pessoas e o nosso incômodo de não ver na nossa geração ‘sonhadores’ e pessoas fora do comum”, conta o guitarrista Tomás Bertoni, responsável pelas composições ao lado do irmão, o também guitarrista Gustavo Bertoni. “Nesse CD, pela primeira vez, abordamos um dos temas mais comuns nas músicas em geral: relacionamentos e amor (risos)”.
A banda tem ainda Lucas Furtado no baixo, Phillipe Conde na bateria e os vocais de Alexia Fidalgo. Segundo Tomás, o fato de ter uma vocalista não foi definido pela música, e sim pela amizade entre os integrantes. “Ela foi o fator que levou nós quatro, amigos de infância, a montar uma banda. Ela trouxe a sensibilidade e o diferencial que buscávamos”, derrete-se.
Cromático sai na íntegra na próxima sexta-feira (09) via Melody Box, e nesta terça-feira (06) a banda divulgou o clipe da faixa Cada Minuto, dirigido por Luringa e Paul Domingos. Além disso, lançaram dois webclipes, parte de uma agressiva estratégia de divulgação do disco. E sabe quem coordenou tudo isso, entre empregos, aulas e ensaios? Eles mesmos.
“Cuidamos de tudo, realmente. Fica bem complicado às vezes conciliar a parte administrativa e musical, mas hoje em dia as coisas funcionam assim”, admite Tomás. Para o guitarrista, a atitude é necessária para se manter vivo no cenário do rock brasileiro.
“O rock [no Brasil] claramente não vive uma fase boa. Está desestruturado, mas continua vivo. As bandas querem receber cachê, mas nao se preocupam em divulgar o evento e fazer um bom show. Dessa forma os shows não tem lucro e o produtor não tem como pagar cachê, nem fazer os shows em casas boas e convidativas”, analisa. “Uma coisa atrapalha a outra”.
Não acho que o Scalene vá salvar o rock nacional, pelo menos não sozinho. Mas saber que a nova geração ainda reserva excelentes surpresas como essa, em tempos coloridos e vazios de conteúdo é no mínimo inspirador.
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