Entrevista com a banda <b>Diablo Motor</b>

Quarteto pernambucano conversou com o <b>TMDQA!</b> sobre seu primeiro disco, sobre o papel dos selos na indústria fonográfica e ainda fez algumas considerações sobre os públicos de Pernambuco e de outros estados.

Na semana passada fizemos uma postagem sobre a Diablo Motor. Nela, você pôde conhecer um pouco da história dessa banda pernambucana e também ficar sabendo que eles estão para lançar o primeiro disco da carreira.

Nesta entrevista, o quarteto, que no dia da conversa com o TMDQA! estava apenas em três, pois Rafael Sales não pôde comparecer ao Estúdio Sala Cinco, falou sobre o processo que envolveu o primeiro disco de estúdio, falou um pouco sobre como deve ser o lançamento, membros da banda também deram suas opinões em conjunto sobre o papel dos selos hoje em dia e fizeram uma análise dos públicos para os quais a banda já tocou. Além, é claro, de dizerem se tem mais discos que amigos. Confira o resultado desse papo logo abaixo.

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TMDQA!: O que é que vocês podem falar do primeiro disco da banda? E como foi e está sendo o processo de produção?

Thiago Sabino: Agente tinha uma formação, que era Filipe e Alexandre nas guitarras, Bruno no baixo, eu na bateria e Tomaz no vocal. Então gravamos o EP e gostamos muito da qualidade que agente conseguiu. Nós gravamos ao vivo e não é tão fácil de conseguir uma qualidade legal fazendo dessa forma. Gostamos tanto da gravação que optamos for fazer uma mixagem profissional com Iuri Freiberger que terminou que ele vai ser o produtor no próximo álbum. Masterizamos com Ricardo Garcia, um dos caras da masterização nacional e acabamos com um material muito bom nesse EP. Essas quatro músicas tocamos muito nos shows e faz parte do nosso repertório. E em 2009, eu fiz parte de um projeto chamado Box Visceral da Prefeitura do Recife. O projeto consistia em quatro bandas: duas de rock e duas de metal. Seria um CD duplo. Diablo Motor e Four Pigs no de rock e Project 666 e Desalma no de metal. Cada banda gravaria seis músicas. Porém, Tomaz teve que sair da banda e Rafael entrou. E ficamos naquela: “Pô, vamos lançar um disco com a voz do outro vocalista? Não”. Resolvemos não lançar, pois estávamos com um novo cara na banda. Então decidimos gravar depois de um tempo, mas sentimos que devêssemos para o público a apresentação do novo vocal. Então decidimos gravar as vozes com as mesmas bases das músicas do EP e do projeto da prefeitura. Mas começamos a mudar algumas coisas, um baixo, uma guitarra, Filipe regravou os backing vocals e pronto. Com o material em mãos, as 10 músicas, tínhamos um disco, um álbum. Quando pensamos em lançar, voltamos a bater naquela de que não queremos lançar coisas sem qualidade. Decidimos contratar Iuri para mixar, pensar na masterização. Para evoluir do EP para álbum, fizemos a mixagem analógica. Nada contra a mixagem digital, que foi a do próprio EP, mas queríamos algo melhor. Alugamos o Estúdio Carranca em Recife, pois eles têm uma sala de mixagem analógica com equipamentos top de linha no mundo todo, com material que chega na casa dos milhões. Fizemos lá e o disco ficou uma pedrada. O disco estava praticamente pronto, já masterizado. Iuri até iria fazer a masterização no estúdio, mas como sempre pensamos em melhorar ainda mais o material, através da banda Nuda, entramos em contato com Don Grossinger, um cara que já trabalhou com Rolling Stones, Rage Against The Machine, Brian Wilson, ganhou um Grammy com o Flaming Lips, e resolvemos fazer com ele. Fizemos alguns sacrifícios, conseguimos e recebemos a master. Estamos montando agora e já vamos prensar. Quem fez a arte foi Paulista da Voyeur e da Candeias Rock City, um amigo nosso. O pessoal pode esperar que está sensacional.

Bruno Patrício: No nosso Facebook dá pra ver um pedaço da arte na parte que você ouve as músicas. A arte ficou muito bem elaborada e estamos  correndo atrás da prensagem.

Thiago Sabino: Íamos lançar em 2010, mas com os acontecimentos, não deu. Foi um parto, mas estamos orgulhosos e felizes de não ter apressado as coisas e esperado um pouco. Agente sente que com esse disco vamos poder galgar alguns patamares que se tivéssemos lançado antes, não alcançaríamos.

TMDQA!: E como vai ser o lançamento?

Thiago Sabino: Tínhamos a ideia de lançar em janeiro de 2012, mas Don Grossinger estava muito ocupado e acabou que atrasou. Não queríamos lançar em fevereiro, pois como as fábricas de disco demoram em média 40 dias para entregar um projeto desses, iríamos receber no meio do carnaval. E aqui em Recife nada acontece durante o carnaval e o interesse pela música rock diminui bastante e então adiamos um pouco. A gente tinha pensado em lançar o álbum em Março, e estamos ainda trabalhando com essa possibilidade. Estamos fazendo contato com uma marca para criarmos uma parceria entre a Diablo Motor e essa empresa da iniciativa privada, e no momento estamos no aguardo. Se a parceria se concretizar, temos tudo para lançarmos em março, mas como talvez a empresa prefira lançar em outro mês, a gente não tem como definir ainda. Mas acredito eu que não passa de abril, até por conta do Abril Pro Rock trazer um certo interesse ao gênero rock and roll à tona em Recife. Ainda temos o interesse de lançar por um selo ou gravadora e estamos pra confirmar a qualquer momento uma parceria, mas ainda não fechou. Falta acertar detalhes contratuais, e justamente alguns desses detalhes “burocráticos” é que nos impedem de divulgar. O disco em si será lançado em formato digipak, pois gostamos muito de CD, mas o ruim são aquelas caixinhas de acrílico. Então vamos lançar nesse formato.

TMDQA!: Falando um pouco dos selos, o que vocês acham deles e qual a importância para as bandas hoje em dia?

Thiago Sabino: Achamos que mesmo com a chamada “crise do mercado fonográfico” os selos/gravadoras ainda têm grande importância para as bandas na atualidade. O que talvez tenha mudado sejam a área e forma de atuação desses selos, que passaram a não trabalhar somente focados nas vendas de produtos físicos como discos e fitas de diversos tipos. Hoje sabemos que há selos que investem em áreas como booking (agenciamento), edição, merchandising e assessoria de imprensa, que antes eram gerenciados por profissionais especializados em cada um desses setores em muitos dos casos. As bandas que estiverem inseridas em um selo/gravadora se beneficiam do maior conhecimento que estes têm da cadeia produtiva e do mercado em si, pois na grande maioria dos casos membros de bandas não detêm este “know-how”, e não se trata de algo facilmente aprendido ou adquirido empiricamente. Além, é claro, do fator “moral”, pois quando uma banda carrega junto de seu nome o nome de um selo, principalmente um selo reconhecidamente “de qualidade”, esta banda passa a ter maiores possibilidades de ser notada e “levada a sério”. Acreditamos que, sim, há vida musical fora dos selos, e que uma banda pode desfrutar de sucesso mesmo não estando associada a um deles. Mas as facilidades que acompanham a chegada de um selo são muitas, o que faz com que a banda e seus membros possam dedicar mais tempo a fazer a sua arte, deixando que o selo cuide de boa parte do setor administrativo e afins.

TMDQA!: E sobre o público de vocês? O que vocês têm achado do público local e das pessoas que assistem aos shows fora do estado, visto que, vocês já tocaram em Goiás, São Paulo e outros locais?

Bruno Patrício: Falando do público daqui, eu ainda acho o pessoal de Recife meio escroto. Uma galera que não sabe curtir direito. Aqui tem uma cena que está ficando razoavelmente forte, tem agente, a AMP, a Candeias Rock City com Johnny Hooker, a Desalma, tem várias bandas amigas que sentimos que têm força. Mas eu sinto que o pessoal tem certa dificuldade em pagar para assistir. Em contrapartida, sentimos que o reconhecimento está grande. Quando fizemos o Festival de Inverno de Garanhuns em Pernambuco depois que voltamos do Gig Rock em São Paulo, a receptividade foi muito boa. O público ficou de cara com a banda e nós com o público. Já em Recife, a galera assiste, curte, mas acho que estamos na média da cena, o que eu também acho que seja muito pouco para esta cena. Ao mesmo tempo, tocar em São Paulo e Goiás foi muito legal.

Filipe Cabral: Fizemos alguns shows pelo nordeste também. Tocamos na Bahia e em Sergipe, onde fizemos um dos melhores shows da banda e o público nem conhecia a banda.

Thiago Sabino: Em Feira de Santana, na Bahia, tinha gente cantando nossas músicas, para você ver como é o alcance da internet, mas nesse show de Sergipe, em Aracajú, chegamos lá e não tinha. O público estava mais pela banda local, o The Baggios, um pessoal amigo nosso, e de quebra teve a Diablo Motor. E sentimos uma receptividade animal.

Filipe Cabral: Tocamos também em Fortaleza no Rock Cordel. Lá os shows eram em um anfiteatro e havia uma rotatividade de público. As pessoas assistiam ao show de uma banda, saia, outra galera entrava e pensamos: “Quando for nossa hora, não vai ter ninguém”, mas quando nos chamaram pra subir no palco e as luzes foram acessas, vimos que tinha muita gente. E depois tinha gente postando fotos no Orkut, falando que gostou de tal música, que pegou o repertório.

Thiago Sabino: Outro local que foi uma receptividade muito boa. E eu concordo com o que Bruno disse. O que eu sinto é o seguinte: há um público que vai aos shows, que acompanha a banda, até certo ponto dá pra construir um público legal, mas é um pessoal que não se empolga, não se entrega. Quando vem uma banda de fora, essa galera surta, dá o sangue, a alma pelo show. Não sei se é um pudor do tipo: “Ah, esse cara estuda comigo na universidade e eu não vou pagar pau pra ele, pois ele é igual a mim”. O que rola é que quando a banda pernambucana alcança um nível bom, vai pra São Paulo e retorna, meu velho, a galera surta também. Em Pernambuco rola reconhecimento, receptividade, mas não rola uma entrega nos shows.

Filipe Cabral: Só fechando, isso acontece em 90% dos casos. Porém, no APR Club 2011, quando subimos no palco, nos surpreendemos. Pois vimos uma reação diferente daquela que estávamos acostumados e fizemos um grande show.

Thiago Sabino: Abrimos para o Matanza, uma banda com um grande público aqui em Recife. E era uma galera que esperava um grande show de rock. Colocamos nossas energias nas primeiras músicas e à medida que as músicas iam acalmando, começamos a ouvir uns gritos: “Matanza! Matanza!”. Percebemos isso e, com uma coisa que construímos por tocar muito, vimos que tínhamos que lidar com essa situação. Quando olhamos para o repertório e vimos que era uma música mais calma, trocamos em cima do palco. E percebemos que isso é uma coisa boa que temos, a leitura do público.

Filipe Cabral: Tudo isso que estamos comentando é uma visão pessoal que vimos com a Diablo Motor e o fato de estarmos expressando isso é pelo motivo de nos irritarmos, pois isso também acontece com outras bandas daqui também.

Thiago Sabino: Finalizando e brincando com o fato – http://www.rockemgeral.com.br/2011/12/23/fora-do-eixo-pede-desculpas-a-pernambuco/ – nós não estamos rancorosos com o público recifense. Não guardamos mágoas. Temos o maior orgulho de sermos recifenses, pernambucanos. Nas nossas músicas não cantamos com sotaque carioca, que é o que se vende para as rádios. Quando Rafael vai lá cantar, ele canta com o sotaque e características de nossa região mesmo.

TMDQA!: E vocês têm mais discos que amigos?

Thiago Sabino: Eu tenho um monte de vinis e vários discos, mas amigos agente conta poucos. Podemos ter até colegas e tal. A Diablo Motor nos trouxe, com certeza, muitos amigos, de estrada, de vida. Iuri Freiberger, que vai ser o produtor do próximo disco, começamos com uma relação profissional e se desenvolveu para uma amizade, mas para chegar na quantidade de discos, vai demorar um pouquinho.

Filipe Cabral: Temos muitos mais discos que amigos, realmente.

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