Está de volta ao círculo musical uma das mais interessantes bandas de Black Metal, Mysteriis.
Depois de ficar anos sem lançar material inédito (2004 foi o ano de lançamento de “Stigmati Diaboli – DCLXVI“, o último trabalho antes do retorno), a banda retornou com um trabalho primoroso, que esbanja bom gosto em termos de composição e execução.
O trabalho de guitarras de Mantus é o brilho da obra ao meu ver. Se suas linhas de guitarra fossem substituídos por Cellos e Violinos, com certeza seriam obras eruditas fúnebres e belas. Esses traços podem ser vistos também no trabalho da banda Vinterthron onde Mantus também atuou (mas não como guitarrista) e na excelente banda Patria.
O disco abre com uma já tradicional introdução sinfônica. A faixa “Hellsurrection” se destaca como intro pela qualidade e limpidez na gravação e pelo clima que prepara o ouvinte para “Nazarene Shall Fall“, música que já mostra o poder do que está por vir. As letras expressam acima de tudo o asco pelo cristianismo e pelas religiões em geral, desprezando dogmas. Seguem também como poesias tensas e voltadas para um universo obscuro como o criado por poetas como Augusto dos Anjos e Charles Baudelaire. No entanto, as letras são mais diretas, com versos tendendo a serem mais curtos, exatamente para que possam ser berrados por Agares.
O retorno da blasfêmia não poderia ter sido feito de maneira mais triunfal. As músicas do álbum compõem em si um conceito fechado e o que se ouve ao logo de todo o trabalho é um quase Raw Black Metal, sendo, os climas mais melódicos e o uso do teclado, os fatores que fazem do som da banda uma leve mescla.
“66 Infernal Legions” agradará a fãs do antigo Cradle Of Filth por possuir um andamento mais lento, o que proporciona uma maior exploração de riffs melódicos e teclados.
A levada, que parece estar no contra-tempo, de “Vatican Decays“, misturada a riffs clássicos de Black Metal onde acordes abertos são usados em meio aos riffs, fazem desta uma outra faixa de destaque de “Hellsurrection“.
Os vocais encaixam perfeitamente nas músicas, tanto em interpretação quanto em termos de timbre e tempo. Agares também está de parabéns.
O ponto negativo do trabalho, ao meu ver, foi a faixa que fecha o álbum. “Profecia” é a única que possui letras em português em todo o disco. É na verdade uma faixa de fechadura (outro) de álbum, não apresentando um estrutura musical normal. Como uma declamação, as letras são apenas urradas sobre uma cama de melodias fúnebres. O problema para mim está na forma direta demais de hostilidade usada na letra. Nada que comprometa o trabalho.
Mais uma vez parabenizo o Mysteriis por esse retorno. E que seja para ficar!
Assista logo abaixo um vídeo que mostra detalhes gráficos do CD: