Hot Water Music – Exister
A influência do Hot Water Music para as bandas de qualquer gênero minimamente ligado à cena post-hardcore é incomensurável. O quarteto pode ser desconhecido por quem não se interessa em buscar artistas fora dos lugares-comuns, mas não fosse o Hot Water Music, a enxurrada de bandas nascidas a partir da segunda metade dos anos 90 não soaria a mesma – isso, claro, se tais bandas chegassem a existir.
Por isso, a expectativa de todos estava lá em cima para Exister, o primeiro álbum da banda desde The New What Next, de 2004, e a reestreia do grupo após um aparente fim dois anos depois. Para a alegria de todos e felicidade geral da nação, o álbum vazou na quinta-feira (10).
Como em todos os casos dessa natureza, a expctativa é sempre traiçoeira, por mais inevitável que seja. Todas as características marcantes do HWM estão lá: as guitarras timbradas com perfeição, os vocais roucos de Chuck Ragan e Chris Wollard, e a cozinha potente de Jason Black e George Rebelo. Mas como era de se esperar, Exister é sim um álbum diferente.
No geral, o disco soa um pouco menos denso e sombrio que os anteriores, e tem uma quantidade menor de grandes refrãos memoráveis. Mas isso não tira o mérito de Exister, que mesmo sem despejar fúria incontrolavelmente, tem ótimos momentos em algumas das melhores músicas da carreira do grupo. “Boy, You’re Gonna Hurt Someone”, “State Of Grace” e a minha preferida, “Paid In Full”, são provas disso.
Sem perder a identidade, a banda adotou novas influências e conseguiu soar renovada e revigorada. Exister soa como o tipo de álbum geralmente classificado como “maduro”, mas se isso poderia desapontar vários fãs no passado, hoje soa como um elogio puro e simples – afinal, os fãs do Hot Water Music também estão mais velhos e – tcharãããããm! – maduros. Um ótimo recomeço, e com certeza uma excelente prévia do que ainda deve vir por aí em novos lançamentos.
Nota: 3,5/5
Joey Ramone – Ya Know?
Ya Know?, o segundo – e provavelmente último – disco solo de Joey Ramone, foi outra bela surpresa oferecida nos principais sites de compartilhamento de discos nesta semana. A exemplo de Don’t Worry About Me, a estreia já póstuma da carreira solo de Joey, Ya Know? evoca os melhores momentos do eterno vocalista dos Ramones, com a diferença que desta vez as faixas lançadas foram compostas em diversas épocas, espalhadas pelos últimos quinze anos de vida do cantor morto em 2002.
Por mais que seja um dos grupos pioneiros do punk rock, o Ramones sempre foi uma banda pop. Não pop no sentido Katy-Perry-Lady-Gaga-e-similares-descartáveis, mas no sentido de serem responsáveis por maravilhosas canções, com melodias simples mas incrivelmente eficientes, tudo isso unido por uma estética que se tornou ícone para algumas gerações. Talvez o maior culpado disso seja mesmo Joey Ramone, e isso fica evidente nesse novo álbum.
Apesar de juntar várias demos de diferentes épocas, Ya Know? não soa como aquelas coletâneas genéricas, com ideias inacabadas ou subaproveitadas. Ao todo, são 15 músicas, muitas delas compostas quando o Ramones ainda existia, e a grande maioria é comparável a várias das melhores canções de Joey. O single “Rock & Roll Is The Answer”, a bela “What Did I Do To Deserve You” e “Merry Christmas (I Don’t Want to Fight Tonight)” são alguns dos destaques do disco, além da surpreendente “Waiting For That Railroad”, uma interessante balada semi-acústica.
O maior defeito do disco é completamente perdoável: a duração. O disco tem quase uma hora, o que a longo prazo pode diminuir o impacto que esse belo conjunto de canções mereceria. Mas vindo de um artista com a relevância de Joey Ramone, especialmente por ser um trabalho póstumo, é perfeitamente compreensível. Quanto mais, melhor.
Nota: 4/5
Gossip – A Joyful Noise
Se em Music For Men (2009), o Gossip já se distanciava das raízes “indie rock” (seja lá o que isso signifique hoje em dia), A Joyful Noise veio para solidificar os novos rumos do trio, totalmente direcionado para o pop, para a disco, e a música eletrônica. Os vocais de Beth Ditto ainda são a arma oficial da banda, e o repertório do álbum é redondo, marcante, e acima de tudo dançante.
O álbum começa relativamente desanimado com a dobradinha “Melody Emergency” e “Perfect World”, que chegam a soar tristes apesar dos ganchos melódicos. A partir de “Get a Job”, o álbum pega no embalo e se desenvolve muito bem. Chamam atenção os sintetizadores de “Involved” e o balanço de “Horns”, o único flerte explícito com guitarras distorcidas nas onze faixas.
O equilíbrio e a aparente perfeição de A Joyful Noise foram muito bem estruturados pelo produtor Brian Higgins, mas o excesso de zelo chega a soar artificial, especialmente vindo da banda que estourou com o hino dance punk “Standing In The Way Of Control”. No fim das contas, A Joyful Noise ainda é melhor que a maioria dos trabalhos pop por aí, mas aquém das expectativas para a qualidade de um grupo como o Gossip.
Nota: 3/5