Duas Legiões diferentes, uma no palco e outra na plateia. Essa talvez seja uma definição simples demais para o show de ontem à noite, um tributo à Legião Urbana em que o ator (e legionário fanático) Wagner Moura assumiu os vocais para tocar as músicas mais queridas, as mais clássicas e as mais raras que Marcelo Bonfá, Dado Villa-Lobos e Renato Russo fizeram correr todo um país, influenciando gerações. A escolha do ator para encarar essa tarefa não podia ser mais correta.
Na plateia, uma mistura de fãs que estavam ali para matar as saudades de Dado e de Bonfá mais que puderam ver Renato nos palcos antes de sua morte em 1996 com aqueles que só conheceram a banda depois da morte do cantor. E era essa a plateia que gritava “uh, é Legião, uh, é Legião!” à plenos pulmões quando Dado, Bonfá e Wagner subiram ao palco às 22h07 de ontem para fazer o Espaço das Américas ir abaixo tocando “Tempo Perdido”.
Daí para frente era só emoção, com um coro de 7 mil pessoas cantando junto todas as músicas. Se por um lado havia um Wagner Moura tão emocionado quanto cada fã que estava ali na plateia e que fazia questão absoluta de mostrar isso, dizendo coisas como “Essa é talvez a noite mais importante de toda a minha vida” e “Estar aqui em cima desse palco é incrível”, por outro, Dado e Bonfá se seguravam como podiam para tocar e cantar, tanto os sucessos que faziam parte do repertório da Legião nos shows quanto músicas nunca tocadas ao vivo pela banda. Foi o caso de “A Via Láctea”, que Wagner apresentou como sendo “Uma mostra da coragem e da sinceridade de Renato Russo que estava presente em tudo o que ele fazia e que inspirou a todos nós” e “Esperando Por Mim”, ambas do A Tempestade, considerado um dos álbuns mais tristes da Legião Urbana, de uma época em que Renato Russo já estava muito impactado pela doença.
Wagner cantou bem, apresentou o repertório com simpatia e emoção e fazia declarações de amor ao Legião (deixando Dado e Bonfá encabulados em alguns momentos, tamanha era a paixão com que falava) e ao público sempre que podia. Em alguns momentos sua voz ficou um tanto embargada, em outros os microfones falharam, mas o público estava lá para cantar tudo junto e deixar essas pequenas falhas despercebidas.
Num primeiro “quase encerramento” do espetáculo, a banda tocou Perfeição para delírio de todos. Deram uma pausa e ao saírem do palco, viram um Espaço das Américas inteiro cantando “Será” e pedindo mais. Voltaram com “Teorema”, “Antes das Seis”, “Giz” e “Pais e Filhos”. Se despediram do público, mas voltaram logo em seguida com um Wagner brincalhão dizendo que “faltou uma”para encerrar a apresentação com “Será”, agora sim com toda a banda. Mas se dependesse do público, aquele espetáculo duraria a noite inteira…
Set List
- Tempo Perdido
- Fábrica
- Daniel na Cova dos Leões
- Andrea Doria (com Fernando Catatau)
- Quase sem Querer
- Eu sei
- Quando o sol bater na Janela do seu Quarto
- A Via Láctea
- Esperando por Mim
- Índios
- Monte Castelo (com a Orquestra Sinfônica Brasileira)
- O Teatro dos Vampiros
- Geração Coca-Cola (com Clayton Martins)
- Damage Goods – Gang of Four (com Andy Gill e Bi Ribeiro)
- Ainda é Cedo (com Andy Gill e Bi Ribeiro)
- Baader-Meinhof Blues
- Sereníssima
- Se fiquei Esperando meu Amor Passar
- Há Tempos
- 195 (Duas Tribos)
- Perfeição
- Teorema
- Antes das Seis
- Giz
- Pais e Filhos
- Será