Música

<b>Vazou!</b> Especial <b>The Smashing Pumpkins</b>: "Oceania"

Em um post especial e muito apaixonado, Guilherme Guedes analisa o novo álbum do Smashing Pumpkins, "Oceania".

The Smashing Pumpkins - Oceania

The Smashing Pumpkins - Oceania

The Smashing Pumpkins – Oceania

Como todo apaixonado, sempre alternei entre o encantamento bobo e a sofrida frustração. A minha relação com a discografia do Smashing Pumpkins não foi diferente, e o desgaste foi inevitável – especialmente com a nítida falta de empenho do vocalista, guitarrista e principal (único?) compositor do grupo, Billy Corgan, o verdadeiro motor do quarteto.

Os tempos, as influências e os integrantes são outros, mas mesmo sem me sentir atraído pelos últimos lançamentos, o catálogo anterior do Smashing Pumpkins conseguiu me manter interessado o suficiente para não desistir de vez da banda, uma das minhas preferidas há alguns anos.

Eis que chega o dia 12 de junho, dia de muito amor no coração, e uma semana antes do lançamento oficial a rede nos oferece Oceania, o oitavo álbum oficial da banda. Depois de algumas horas enfrentando o bloqueio do iTunes – que impediu o streaming oficial do disco no Brasil – consegui Oceania por outros métodos. Headphones? Check. Agenda livre na próxima hora? Check. Vamos nessa.

O disco começa muito bem com “Quasar”, uma surpreendente faixa de abertura que ecoa a lendária, excepcional, maravilhosa “Cherub Rock”. A música é um murro nos ouvidos, especialmente seguida pelo mar de guitarras em “Panopticon”, que traz melodias que não podiam ser desenhadas por ninguém além de Corgan. Quem ouviu os dois EPs da série Teagarden By Kaleidoscope vai sorrir de fora a fora ao perceber que, por conta própria, qualquer uma das duas vale mais que aquelas oito juntas.

“The Celestials” é a primeira balada do disco, e introduz em Oceania os sintetizadores que marcaram as faixas mais recentes dos Pumpkins. Mas a explosão roqueira nos 2 minutos de música mostra bem a diferença entre o novo disco e os lançamentos anteriores: desta vez, Corgan olha pra frente sem ignorar o passado, e deixa-se influenciar pela própria obra sem questão de soar como antigamente.

Essa sensação permanece durante todo o álbum. Faixas como “Violet Rays”, “Inkless” e a melancólica “Pale Horse” reverenciam a história da banda, mas deixam claro – especialmente na ordem em que as foram listadas no álbum – que o caminho do grupo é completamente novo, principalmente pela excelente contribuição da baixista Nicole Fiorentino.

Prova disso é a épica faixa-título do álbum, com mais de 9 minutos de duração. Nicole canta lindamente em diversos momentos dessa epopeia, com uma voz que só não supera o vocal desinteressado de D’arcy Wretzky, a baixista original da banda, por causa da insuperável nostalgia de quem cresceu ouvindo “Daydream”. Se nos álbuns anteriores Billy desenvolveu os arranjos praticamente sozinho, desta vez ele deu espaço para os novos membros da banda respirarem. Além dos vocais e um excelente timbre do baixo de Nicole, as guitarras de Jeff Schroeder se revelam essenciais na construção do “novo” som dos Pumpkins, e o menino-prodígio Mike Byrne, apesar de ainda à sombra do monstruoso Jimmy Chamberlin, tem se mostrado um baterista competente.

Oceania não carrega nenhuma nova “Tonight, Tonight”, “1979” ou “Mayonaise”. Duvido que vejamos clipes incríveis como os de “Ava Adore” ou “Stand Inside Your Love”. Mas no momento em que surge, após uma sucessão inacreditável de fracassos e trabalhos irregulares, o álbum soa imediatamente muito melhor que qualquer outro trabalho da segunda fase do Smashing Pumpkins. É, finalmente, um grande disco.

Nascido em pleno 2012, Oceania não se tornaria um clássico nem se fosse artisticamente afiado como Siamese Dream (1993) ou Mellon Collie and The Infinite Sadness (1995) – o que não é apenas pela excelência dos anteriores. Depois de tantas decepções nos anos recentes, depois de tantos débitos, podemos deixar a vergonha de lado, e nos orgulhar outra vez de ter uma banda como o Smashing Pumpkins no mundo.

Nota: 8,5 /10