P.O.D. – Murdered Love
Para começar, uma breve mas importante confissão: nunca fui muito fã de P.O.D. Claro que eu ouvi “Alive” umas quarenta mil vezes em 2002, mas eu tinha 15 anos. Poucas coisas dessa época de nossas vidas levamos adiante, com exceção das marcas de acne e as frustrações dos amores adolescentes. Mas bem, voltemos ao que interessa…
Fiquei curioso para ouvir Murdered Love porque, além de ser o segundo álbum do P.O.D. desde o retorno do guitarrista Marcos Curiel em 2008, o novo trabalho foi produzido por Howard Benson, o mesmo que cuidou de Satellite lá em 2001. Parecia ser um retorno sincero às raízes do grupo, e é exatamente o que é.
O ponto forte do P.O.D. sempre foi o equilíbrio certeiro entre o rock, o hip-hop e o reggae, e em Murdered Love isso permanece. Muito bem produzido, com excelentes timbres instrumentais, o disco tem as melhores composições do grupo desde “Sleeping Awake”, da trilha sonora de Matrix Reloaded – o problema é que, ainda assim, elas parecem um pouco “mais do mesmo”.
Apesar de mostrar um retorno à forma, Murdered Love não traz absolutamente nada de novo – o que não é de todo ruim. Afinal de contas, sejamos realistas: estamos em 2012, mais de uma década após o início da decadência da geração new metal. Se alguém ainda acompanha o P.O.D. e outros similares, é porque gosta dos vocais ritmados, das guitarras em afinação baixa e das baterias cheias de punch popularizadas no fim dos anos noventa, e esses ingredientes Murdered Love tem até de sobra.
Nota: 6,5
Frank Ocean – channel ORANGE
Frank Ocean sempre foi meu integrante favorito do Odd Future Wolfgang Kill Them All. Com letras provocantes sem a apelação de Tyler, The Creator, Hodgy Beats e os demais integrantes da gangue, Ocean sempre exibiu um gosto mais refinado que seus companheiros. Desde a mixtape nostalgia, ULTRA, de 2010, mostra uma interessante aproximação com o R&B moderno – uma distância saudável, ao menos musicalmente, do rap anárquico do OFWGKTA.
A expectativa para channel ORANGE era enorme. Não é à toa que o álbum deve ser o segundo mais vendido nos Estados Unidos nesta semana de acordo com a Billboard , um grande feito para um álbum de estreia.
Frank liberou o álbum via iTunes na última segunda-feira, e muitos apressadinhos correram para chamar channel ORANGE de álbum do ano rapidamente (segundo os meus cálculos, muitos nem tiveram tempo de ouvir o disco inteiro antes de dar tal veredito). channel ORANGE é um grande álbum sim, mas não acredito que seja o melhor que 2012 tenha a nos oferecer.
Ocean é um grande compositor, e a produção de seu disco de estreia é muito melhor que a de nostalgia, ULTRA. Os samples são mais discretos – alguém lembra de “Strawberry Swing” e “American Wedding”? -, e as batidas originais soam mais trabalhadas e menos caseiras. Outro trunfo é a fluidez do álbum; separadamente, muitas faixas não funcionam muito bem.
O maior problema de channel ORANGE é a performance vocal de seu criador. Obviamente, Frank Ocean não faz o tipo competidor-do-American-Idol ou coisa parecida, tampouco o estilo Busta Rhymes de versos e rimas na velocidade da luz. Mas ao se aproximar do R&B, Frank acaba sendo comparado a outros destaques recentes do estilo como o prolífico The Weeknd, o que acaba jogando contra o resultado final.
Felizmente, a voz de Frank não atrapalha faixas como o single “Sweet Life” ou a epopeia “Pyramids”, a melhor do álbum. Talvez as expectativas tenham sido altas demais, mas caso mantenha a qualidade apresentada aqui em seus próximos lançamentos, o cantor certamente será um dos maiores nomes de sua geração.
Nota: 7,5
Baroness – Yellow & Green
Três anos após Blue Record, o Baroness volta à série de álbuns coloridos (insira sua piada favorita sobre o Restart aqui) com o duplo Yellow & Green. Mais acessível e diversificado que os anteriores, o disco tem tudo para figurar entre os grandes do ano. O problema será ultrapassar a barreira dos fãs mais exigentes.
O Baroness ganhou notoriedade entre os fãs de música pesada fazendo uma espécie de cruzamento entre a sujeira do sludge metal com o festival de riffs do stoner rock. Bom, pelo menos foi assim no começo da carreira do quarteto, que de 1998 para cá agregou diversas outras influências em quatro bons álbuns. Mesmo assim, a diversidade e ecleticidade de Yellow & Green surpreende.
Elementos de post-rock, ambient e folk permeiam todo o álbum, isso sem falar nas levadas surpreendentemente dançantes de “Sea Lungs” e “Psalms Alive”. O peso e a sujeira permanecem, como evidente em músicas como a quase pop “Take My Bones Away”, a pancada “The Lines Between” ou o single “March Of The Sea”. Mas é justamente essa diversidade que dá brilho ao álbum.
Qualquer álbum duplo de metal é de difícil aceitação. São minutos – às vezes horas – de agressão direta aos tímpanos, ideal para admiradores de enxaquecas crônicas. Mas ao aliar diferentes atmosferas, o Baroness mantém os 75 minutos de Yellow & Green extremamente interessantes, e consegue prender os ouvintes em uma época em que ouvir um single ou ler um tweet pode ser um esforço grande demais.
Talvez se fosse lançado por qualquer outra banda, Yellow & Green teria uma aceitação imediata um pouco mais calorosa. Mas certamente, com o tempo, até os “true metalheads” irão concordar que este é um excelente trabalho.
Nota: 8,5