Criolo não é rapper. Ou pelo menos é o que o público parecia dizer. Não é todo dia que se vê uma mistura como a vista na última Sexta no Opinião. O show, na sua primeira parte, não é um show de rap, não diretamente. Todo o habitual discurso do rap de Criolo está presente subjetivamente nas músicas e claramente nas falas entre músicas, na adaptação de “Cálice”, a música de Chico, ou, ainda, no agradecimento (com direito a bandeja com frutas) pela mobilização do Traga Seu Show e todos que possibilitaram sua vinda, e um pedido à Secretaria da Cultura, de possibilitar um show para aqueles que não tiveram como ir ao Opinião, “porque dignidade não tem a ver com classe social”.
Criolo também não é só Criolo, é Dj Dan Dan, Ganjaman, Cabral, e toda banda. “Mariô”, a primeira música (como esperada), não seria a mesma sem percussão e coro, e talvez sem isso não levasse tanta gente ao show. Mas apesar disso, da banda e da extroversão de Dan Dan, ainda é Criolo que prende a atenção de todos. Super expressivo, vezes sério, tranquilo, outras com olhos arregalados, aficionado, como se a propria música promovesse uma espécie de transe. A sensação geral é esse próprio transe, que parece atingir o público à mesma medida que o atinge. O coro, e o transe culminam em “Não existe amor em SP”, o quase-bolero cantado por todo público, e pelo cantor, com uma luz pontual no centro do palco.
A volta ao palco foi a dose de rap que faltava. “Cerol”, com a participações, seguido de algumas invasões de palco. Talvez nesse ponto do show todos já nos sentíssimos tão rappers e íntimos do próprio cantor. Junto com as músicas anteriores ao disco Nó na Orelha também foi tocada “4 da Manhã”, música feita pelo Criolo sobre/para sua mãe. Com um show de quase duas horas e casa cheia, Criolo faz uma homenagem aos fãs de rap, antigos e novos, conquistados pela mistura da sua propria música, tocando seu aclamado último disco de estúdio na íntegra.