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Resenha: <b>No Doubt - Push and Shove</b>

Sem medo de misturar influências e estilos musicais, o quarteto prova em <b><i>Push and Shove</b></i> que nunca foi banda de um único rótulo.

Resenha: No Doubt - Push and Shove
Resenha: No Doubt – Push and Shove

Resenha: No Doubt - Push and Shove

11 anos após o lançamento de Rock Steady e 9 anos após Everything in Time, uma compilação de faixas inéditas que poderia muito bem ser considerada como mais um álbum de estúdio do No Doubt, o quarteto californiano ressurge com o álbum de sua vida e cessa a ansiedade que consumia os fãs e a mídia do mundo inteiro.

Foi um processo longo, tenso e extremamente desafiador para a banda, que precisava lançar um material superior ao do disco de 2001, que ficou aquém de registros passados e que agregou críticas negativas, em suma, apesar do mesmo ter sido o segundo disco mais bem sucedido da carreira do No Doubt – o primeiro lugar fica com o antológico Tragic Kingdom, de 1995.

E parece que o falatório e a pressão não abalaram o grupo. Demorou [muito] para Push and Shove sair, mas a espera foi bem recompensada para quem acompanha a evolução da banda que, a cada disco, não se mostra apenas mais madura, mas sim repensada.

Apesar de ter enfrentado um inacreditável bloqueio criativo, que só foi ultrapassado graças ao direcionamento do produtor Mark “Spike” Stent, em Push and Shove o No Doubt mais uma vez abre a mente e cria um registro que passeia por vários estilos musicais.

Settle Down“, faixa escolhida não só para abrir o registro, mas também para trazer o grupo de volta ao mundo, traz ritmo empolgante e contagiante, resultado da mistura de pop, rock, reggae, dub, ska, new wave e, até mesmo, música indiana e trip-hop (!!!), apresentando já uma prévia do mesclar de influências e estilos musicais que o ouvinte irá apreciar ao longo do disco.

Começando a soltar músicas mais dançantes e mais puxadas para o new wave, surge “Looking Hot“, com uma introdução curta, misteriosa e diferente do material que compõe o restante da faixa, onde o reggae também se faz presente mesmo que por um breve momento, mas que já é o suficiente para transportar o ouvinte para a época em que o quarteto fazia covers de Sublime e colaborações com Bradley Nowell, que, ao lado de Gwen Stefani, preenchia trechos das canções dizendo “pow, pow”.

One More Summer“, sem dúvida, foi uma das faixas mais comentadas do disco quando ele ainda nem sonhava em receber título e muito menos data de lançamento. O refrão cativante, os sintetizadores e as guitarras à la New Order (por tantas vezes destacadas em textos sobre a nova sonoridade da banda), tornam essa faixa uma fortíssima candidata a single.

Por citar single, o disco tem sequência com sua faixa-título, “Push and Shove“, próxima música de trabalho do No Doubt.
Com produção de Diplo e participações de Busy Signal e Major Lazer (projeto do próprio Diplo), o grupo criou uma faixa pulsante, que passeia por dancehall, dubstep, hip hop, rock alternativo e, claro, ska. A música,  que conta com refrão explosivo (cujo grande responsável pela carga de energia é o baterista Adrian Young), também traz um belo trecho mezzo a cappella, onde Gwen Stefani mistura sabiamente vocais graves e agudos.

Para diminuir o ritmo do registro, chega a vez da balada “Easy“, que apresenta mais um timbre de guitarra que remete o usado em algumas canções do New Order. “Easy” também traz uma agradável incorporação de “reggae beat” à la Rock Steady, para mudar o curso da canção que parecia seguir uma linha reta (e um pouco tediosa) até o fim.

Substituindo “Easy”, o registro parte para “Gravity” e “Undercover“, duas faixas que misturam new wave e pop rock, deixando a sensação de terem sido lapidadas do acervo de b-sides de Rock Steady. Em ambas, melodias ingênuas (não que isso seja algo ruim) e com predominância de sintetizadores.

Com violões, teclados e clima que lembra “Suspension Without Suspense“, do disco Return of Saturn (2000), surge “Undone“, para dar um toque sereno ao registro. Vista pela própria Gwen Stefani como uma faixa emotiva e não como uma balada, “Undone” tem tudo para induzir os fãs a erguerem seus isqueiros e celulares quando for apresentada nos shows.

Para a alegria dos saudosistas, o No Doubt oferece “Sparkle“, mais uma de suas faixas que, com sabedoria, mesclam reggae, dub, rock steady e pop rock, com direto à participações sempre muito bem-vindas de Gabrial McNair e Stephen Bradley – fiéis músicos de apoio da banda – nos metais. Inclusive, embora Gwen Stefani tenha dito que estava surpresa com a quantidade de músicas com metais que Push and Shove possui, infelizmente, essa é a única onde a presença é mais forte.

De volta ao misto de new wave com pop rock, o disco segue com a divertida e dançante “Heaven“, e finaliza com uma de suas melhores faixas, “Dreaming The Same Dream“. Nessa última, o No Doubt realizou um trabalho completo: melodia cativante, letra típica de Gwen Stefani (abordando sobre relacionamento amoroso) e arranjo muito bem trabalhado, dando origem a um surpreendente fim, que deixa gosto de quero mais – acentuado pelo término em fade out.

No final, Push and Shove teve sua missão cumprida: soa ao mesmo tempo moderno e oitentista, exatamente do jeitinho que a banda queria, mas sem deixar de lado elementos que fazem parte de sua real essência: ska, reggae e dub.

Nota: 9/10

Em tempo, lembramos que o álbum chega às lojas na próxima terça-feira, 25 de Setembro, via Universal Music Brasil.