Normalmente entrevistamos músicos e bandas. Uma vez ou outra conversamos com o CEO da empresa que produz o Lollapalooza Brasil e até mesmo com apresentadores de televisão.
E quando se trata de um produtor de shows e eventos? Aquela pessoa responsável por pensar e organizar do início ao fim um Rock in Rio, por exemplo. O que alguém desse ramo pensa? E o que ela pode passar para aqueles que gostariam de trabalhar nesse fantástico setor da indústria do entretenimento.
Desenhar planta, posicionar palco, banheiros, local para alimentos e bebidas, lojas oficias, área VIP e área para pessoas com necessidades especiais. Montar equipe de trabalho, elaborar cronograma de execução física, montar e desmontar tudo dentro do prazo.
Essa tem sido a rotina do Engenheiro Civil Luis Claudio Duarte há 32 anos. Rotina é modo de dizer, pois o dia dele, e de quem trabalha nessa área, é sempre diferente um do outro. Durante esse anos, Luis Claudio trabalhou na construção de shows, festivais e eventos no Brasil e pelo mundo.
Além de continuar pondo a mão na massa, ele começou a dar aulas com o curso de Projeto e Produção de Shows e Eventos por perceber a falta de mão de obra em nosso país. E, com diversos acontecimentos que estão prestes a chegar no Brasil (Copa das Confederações e Copa do Mundo), além do aumento significativo de bandas trazendo suas turnês para cá, Luis Claudio tem viajado o Brasil preparando pessoas para trabalhar de uma melhor forma nesse setor e até mesmo com ele em seus projetos.
Entre 24 e 28 de Setembro, o curso passou por Recife e o TMDQA! estava presente. Aproveitamos as aulas e também a simpatia do professor para conversar sobre sua carreira, histórias, opinião da produção nacional em relação ao que é feito lá fora, além do motivo principal para ele começar a dar aulas. Confira!
TMDQA!: Como e quando você começou a trabalhar na área de produção?
LC Duarte: Em 1980, eu estagiava em uma construtora como engenheiro, minha formação. A empresa precisava vender 500 imóveis e eu bolei a chegada do Papai Noel. Essa chegada era muito interessante porque ela seria com um helicóptero, junto com isso teria uma disputa de pênaltis com dois jogadores famosos na época, o Zico e o Tita, e o saque jornada nas estrelas do Bernard. Além disso, iria ter pipoca, cachorro-quente, cerveja e refrigerante. Com tudo pronto para começar a festa não conseguimos a autorização para o helicóptero pousar no local. Papai Noel chegou em uma carroça. Na carroça, o cavalo não conseguiu subir a ladeira e tivemos que pegar o trator da obra e puxamos a carroça. A carrocinha de pipoca furou o pneu no meio do caminho e tivemos que colocá-la em cima de uma Kombi pick-up. Teve a pipoca, cachorro-quente, cerveja, o Papai Noel, mas o Zico não foi lá, o Tita não foi lá e estamos esperando o helicóptero até hoje. E mesmo assim cheio de erros e dificuldades o evento bombou e as 500 unidades foram vendidas, que era o objetivo da construtora. Dali para frente, a empresa quis que eu lançasse todos os planejamentos de vendas dela, iniciou a ideia das maquetes, que funcionou muito bem. E o que era lançado, a construtora colocava para vender e conseguia vender com facilidades. Eu fiquei muitos anos fazendo isso.
TMDQA!: E quais foram os principais eventos em que você trabalhou depois de sair da construtora?
LC Duarte: Rock in Rio, Rock in Rio Lisboa, U2, Coca-Cola Vibezone, Madonna, Coldplay, Guns N’ Roses, Speedy Expericence Big Air (Campeonato Mundial de Snowboard), a maior roda gigante que já teve no Brasil, da Skol. Montei e desmontei duas vezes no Rio de Janeiro. Fiz a Feira dos Paraíbas, um evento com 64 tendas, cada uma do tamanho de uma quadra de futsal, em média. Um mega-evento, algo muito grande. É a maior quantidade de lonas que tem em um espaço no Brasil. Uma casa de vidro para a Coca-Cola transmitir o carnaval. Toda a infraestrutura do carnaval para a Rede Globo mais de uma vez. E mais um monte de coisa (risos).
TMDQA!: Qual a principal motivação que você tem de continuar trabalhando após mais de 30 anos nesse ramo?
LC Duarte: Um dia nunca é igual ao outro. Isso para mim é muito importante. Eu gosto muito disso. As coisas para mim não podem ser iguais. Em evento nunca um dia é igual ao outro. Tanto dando aula quanto trabalhando em algum evento propriamente dito.
TMDQA!: De tantos eventos que você já trabalhou qual o que você achou mais difícil de fazer?
LC Duarte: O mais difícil foi quando trabalhei no Campeonato Mundial de Snowboard. Nós fizemos nevar com uma mistura de nitrogênio, ar comprimido e água em Campos do Jordão a 0 °C. Tínhamos que fazer de madrugada com uma sensação de menos 5 °C. Lá ventava muito. E foi muito difícil.
TMDQA!: E qual foi o mais gratificante que você fez?
LC Duarte: Foi o Coca-Cola Vibezone. Foi o evento mais bacana que eu fiz na minha vida. A entrada do evento era uma garrafa deitada no chão. A pessoa entrava pelo fundo dela e saia pela boca. Assim que a pessoa entrava ela via o palco, logicamente. Era uma lata sem a lateral e daquela latinha, daquele palco saia uma pista de skate. Então o Chorão do Charlie Brown Jr. pegava o skate e descia por ela do próprio palco depois que parava de cantar. Nesse evento também tinha tirolesa, escalada e outras atividades. O teto da área VIP desse evento era uma chapinha da Coca-Cola. Um evento muito bonito. Talvez o mais bonito que eu tenha feito na minha vida.
TMDQA!: Como você compara a produção nacional com o que é feio lá fora? O que é feito no Brasil muito bem e o que, digamos assim, nós perdemos para os outros países?
LC Duarte: Nós nos preocupamos muito com segurança. Respeito ao público é fundamental. Nós temos a melhor equipe de som do mundo. A Gabisom é a melhor equipe de som do mundo, ela é brasileira e atende muito bem. Então esses três itens nós atendemos com muita preocupação e ganhamos dos gringos: segurança, respeito ao público e som. Mas em termos de equipamento de cenografia eles estão bem à frente de nós. No fundo, no fundo, nós ganhamos deles. Hoje, por exemplo, nós conseguimos trazer o Paul McCartney na alta temporada dele na Europa para Pernambuco. Temos potencial para isso. Se ele vem para cá é porque ele percebe a segurança, percebe que tem um som legal, percebe que pode fazer um bom trabalho por nós respeitarmos e nos preocuparmos muito com o público.
TMDQA!: E o que levou você a começar a dar aulas?
LC Duarte: Começar a dar aulas é, sem dúvida, por conta da falta de produtores em nosso país. Copa do Mundo está chegando e, se você reparar, os locais que estou me preocupando em trabalhar são os locais que vão receber a Copa. Nós não temos mão de obra própria. Não temos produtor para fazer a Copa do Mundo e a Copa das Confederações. Então, estamos trabalhando em cima desses locais para preparar mão de obra e conseguirmos fazer um bom trabalho. É um mercado muito grande que vai se abrir e não podemos perder isso.
TMDQA!: Qual o conselho fundamental que você deixa para quem quer começar a trabalhar como produtor de shows e eventos?
LC Duarte: Fundamental para trabalhar nessa área? Você precisa respeitar cinco coisas para fazer evento: ter um bom som, ter uma boa iluminação, ter um bom patrocinador, ter muito respeito ao público e ter segurança. Só trabalhe com segurança. Não corra riscos!
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