Resenha por Angélica Albuquerque
Edição por Daniel Corrêa
Depois de ter ficado mais de 5 anos longe dos palcos, uma das bandas mais emblemáticas e respeitadas da história do rock nacional, Barão Vermelho, marcou no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso, no último sábado (20 de Outubro), seu retorno ao vivo com uma performance excepcional, para fã e crítico nenhum colocar defeitos.
A turnê + 1 Dose, que celebra até Março de 2013 o 30º aniversário do álbum homônimo e de estreia do grupo, começou com o pé direito e teve todos os seus ingressos vendidos antes mesmo da noite do show.
Para ajudar na comemoração e esquentar o público, o divertido trio Autoramas ficou encarregado de abrir a noite. Entretanto, mais que empolgar os presentes para a banda principal, Gabriel Thomaz (guitarra e voz), Bacalhau (bateria) e Flávia Couri (baixo e voz) ganharam a plateia com um show avassalador, que focou em seu disco mais recente, Música Crocante, um dos lançamentos nacionais mais comentados e aplaudidos de 2011.
Depois de abrir a apresentação anunciando a chegada de seu “rrrrock” com “Mundo Moderno” e “Domina“, Gabriel Thomaz interagiu com público e falou sobre a satisfação de tocar naquela noite especial, da qual músicas como “Você Sabe“, “I Saw You Saying” (composta por Thomaz, porém mais conhecida como hit dos Raimundos, que tocavam ao lado, no Circo Voador) e “Minha Fama de Mau“, do Tremendão (Erasmo Carlos), também fizeram parte. Sem cair em momento algum, o show conquistou e aqueceu o público para a grande atração da noite. Missão cumprida.
E então, às 2h da manhã, sob gritos e aplausos carregados de saudade, vieram Roberto Frejat (guitarra e voz), Fernando Magalhães (guitarra), Rodrigo Santos (baixo), Guto Goffi (bateria), Peninha (percussão) e Maurício Barros (teclados), prontos para levar ao delírio cerca de 6 mil fãs com um show de 2 horas de puro êxtase.
Fazendo jus ao nome da turnê, o Barão Vermelho começou seu set composto por 30 clássicos com “Por Que A Gente É Assim?“, cujas primeiras palavras cantadas são, justamente, “mais uma dose”. E é claro que o Rio de Janeiro estava a fim.
Explodindo os alto-falantes, durante todo o show o sexteto apresentou um som coeso (fruto também da experiência e do entrosamento existente); impulsionado pela energia emanada da plateia, que não se calou ou se desanimou por um segundo sequer.
Depois de mandar com seus companheiros de banda as antigas “Ponto Fraco” e “Pense e Dance“, Frejat, que vestia um pomposo blazer vermelho, deu uma pausa para conversar com os fãs, falar sobre a felicidade de realizar aquele show e saber se todos estavam certamente preparados, pois iria “rolar muita coisa”.
O show então seguiu com “Cuidado“, “Menina Mimada“, “Billy Negão“, “Carne de Pescoço” e “Meus Bons Amigos” (onde a banda relembrou seus ex-membros), com Frejat com sua guitarra sempre muito bem timbrada nos ombros, que logo seria substituída por um violão para comandar uma parte do show.
Um dos ápices do concerto, “Por Você“, que contou com o público cantando em peso a letra de um modo arrepiante, surgiu após “Política Voz” e “Tão Longe de Tudo“, e deu vez para “O Poeta Está Vivo“, um dos momentos mais emocionantes da noite.
Inclusive, Frejat aproveitou a oportunidade e falou sobre o saudoso Cazuza: A gente sempre escuta se faremos homenagem ao Cazuza. Todo show do Barão é em homenagem ao Cazuza e ele está presente.
Para ajudar o sexteto a relembrar sua história e homenagear quem fez e faz parte dela, o baixista original do grupo, Dé Palmeira, foi convidado para apresentar “Bilhetinho Azul” e uma das favoritas de Frejat, “Todo Amor Que Houver Nessa Vida“.
Antes de voltar a tocar os hits antigos, o Barão fez a performance de “Sorte e Azar“, música de 1982 e que marca a última parceria inédita entre Cazuza e Frejat, descoberta enquanto o grupo digitalizava seu primeiro disco de estúdio.
Também fizeram parte da primeira fase do show “Pedra, Flor e Espinho“, “Vem Quente Que Eu Estou Fervendo“, “Bete Balanço” (em uma bela versão, cujo destaque foi o solo de Frejat), “Chave da Porta da Frente” (colada na anterior), “Puro Êxtase” (definindo o clima dos presentes), “Quando o Sol Bater Na Janela Do Teu Quarto” (nesse momento, empolgados pelos fãs, Maurício Barros e Peninha dançaram juntos), “Malandragem Dá Um Tempo” (com direito a lembrança para Bezerra da Silva e Planet Hemp), “Declare Guerra” e “Maior Abandonado“.
Até então, a banda havia tocado 24 músicas, mas a plateia queria e sabia que merecia mais. Cantando em uníssono, como sempre, a letra de “Pro Dia Nascer Feliz“, os fãs chamaram o sexteto de volta ao palco, que mandou faixas com tempo mais arrastado – “Down Em Mim“, “O Tempo Não Para” e “Tente Outra Vez” – antes de atender ao pedido ensurdecedor do público, que, poucas horas depois, veria o dia nascer feliz, de fato.
E quando o grupo já estava no camarim, certo de que a apresentação havia sido concluída, os calorosos gritos de “bis” convenceram a banda de que deveria voltar ao palco.
Para fechar com chave de ouro a noite mais que inspiradora na Fundição Progresso, o grupo tocou a sempre emocionante “Codinome Beija-Flor“, com Frejat agradecendo a todos “pelo presente de hoje”.
Ele já saía do palco quando os companheiros de banda o convenceram a tocar mais uma: a verdadeira “saideira” foi a versão improvisada e empolgante de “(I Can’t Get No) Satisfaction“, maior clássico dos Rolling Stones.
Na nostálgica e agradabilíssima noite que terminou com comentários mais que positivos, o Barão Vermelho, que visivelmente se divertia no palco e provou que a volta é muito além do dinheiro, mas pelo gosto de tocar junto, deu uma aula intensiva para as pseudo-bandas que pensam que fazem algo em prol do legado do rock nacional, e comprovou que, com o passar dos anos e como um bom vinho, está melhor do que nunca
Setlist (divulgado pelo jornalista Jamari França):