Fotos por Larissa Paraguassú
Não muito tempo atrás, a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, não costumava ser um referencial para a cultura no país. Se tratando de rock, nem se fala. Com o passar dos anos, iniciativas sensatas e esforço de algumas pessoas, esse estigma está sendo deixado de lado. Na construção desse contexto, que alguns gostam de chamar de cena, o Centro Cultural Dosol e o Festival Dosol tem participação fundamental.
Nos dias 10 e 11 de Novembro, a histórica Rua Chile recebeu a nona edição do Festival Dosol, um dos eventos mais importantes de música independente do país. Foram mais de 50 bandas dos mais variados estilos, público estimado em 10 mil pessoas e, o principal, muita música.
Sábado – 10/11
Os trabalhos começaram cedo na tarde do sábado. O Far From Alaska, grupo que após vencer um concurso pode tocar no Festival Planeta Terra desse ano, foi a primeira a se apresentar no evento e fez com que muita gente enfrentasse o calor característico da região pra curtir o rock. O público já era considerável e a banda correspondeu ao interesse fazendo um show entusiasmado. Em seguida, vieram os potiguares Os Inflamáveis e Red Boots, que fizeram apresentações bem consistentes.
O mais interessante em festivais é a possibilidade de conhecer bandas novas. No caso do Dosol, uma das especialidades são as bandas mais pesadas. Na edição de 2012, podemos dar destaque a Huey (SP), Monster Coyote (RN) e Questions (SP). A porrada de sempre, mas sem deixar de agradar: muito barulho, o velho medo de ficar surdo e mosh pit gigante. Nesses casos, é evidente o interesse do público nas bandas. Ou apenas nas rodas de pogo. O importante é a diversão.
Sem dúvida, um dos destaques da noite foi o Leptospirose (SP). O trio nunca decepciona. Show agressivo, fãs empolgados e rodas gigantes. Nem o pequeno problema na guitarra desanimou o público presente.
A grata surpresa certamente ficou por conta da Silverados (URU). Anderson Foca apresentou a banda dizendo que “eles eram os maiores fãs do Ramones”. Mesmo que apresentação não tivesse sido feita assim, todo mundo perceberia a clara influência. O vocalista, que acabou mostrando sua brasilidade vestindo uma camisa do Flamengo, atraiu muitas meninas pra frente do palco fazendo com que os integrantes, digamos, se animassem ainda mais e fizessem assim um dos melhores shows do festival.
A curiosidade em cima do Truckfighters era enorme. Muita gente tava ali pra saber o motivo pelo qual a banda cativou tanto o Josh Homme, do Queens Of The Stone Age. Com certeza, eles eram os mais esperados do evento. E os caras não decepcionaram. Show enérgico, público empolgado, quase parecido com a catarse coletiva que viria a acontecer mais tarde, durante o show de uma conhecida banda do Mato Grosso.
Nesse ponto, o Dosol tinha uma pequeno atraso entre as bandas, o que criou um pequeno choque de horários, mas isso não seria empecilho. Chegada a vez dos caras do Macaco Bong (MT) se apresentarem. A banda, competente e com músicos extremamente virtuosos, fez o público vibrar com o rock instrumental de qualidade. Em seguida, veio a querida e conterrânea Camarones Orquestra Guitarrística (RN), que já bastante conhecida pelo público fez uma apresentação vigorosa como sempre. Não dava pra ficar parado.
Sendo um festival eclético como é, as bandas mais “fofas” e sentimentais também tiveram espaço. Foi assim com o Maglore (BA) e Andróide Sem Par (RN). Os grupos conseguiram levar os fãs pra frente do palco, cantando com os braços levantados e olhos fechados. É também muito legal que em um palco onde, duas horas atrás, uma banda de harcore tocava, agora um casal de namorados troca declarações ouvindo seu artista favorito. Coisa bonita de se ver.
Catarse. Assim poderia ser definida a apresentação do Vanguart. Talvez por não vir há muito tempo na cidade, ou por ter um novo disco muito bom, ou por ter ganho o prêmio de melhor banda no VMB, mas nenhum grupo empolgou tanto, acho. Os fãs não decepcionaram, cantaram todas as músicas e fizeram do show quase uma celebração religiosa.
O vocalista Helio Flanders comentou a diversidade musical do festival usando um fã como exemplo:
Tem um cara cantando todas as nossas músicas e ele tá com uma camisa de Iron Maiden. Isso é sensacional!
Antes do último e mais esperado show da noite, tivemos os potiguares do Talma & Gadelha. As mesmas músicas fáceis de cantar junto, a voz espetacular de Simona Talma e os fãs sempre presentes. Não tem como ser ruim. Acontece que todo mundo tava ali era pra ver o The Slackers (USA) e nem um grande atraso enquanto afinavam os instrumentos conseguiu desanimar o público. Ska competentíssimo, depois o rocksteady, fãs animados e dançando todas as canções. Show espetacular. O primeiro dia de festival não podia acabar de forma mais agradável.
No entanto, o domingo prometia ser ainda maior e melhor. E foi.