Bem-vindos à nova coluna do TMDQA, Som de Cinema, que fala sobre duas paixões nossas: música e cinema. Toda terça-feira falaremos sobre trilhas, maestros, usos narrativos de música e outras coisas mais do mundo do cinema e música.
Para começar, um especial, em duas partes, sobre a as trilhas de Quentin Tarantino. Que estreou, no último dia 18,“Django Livre”, seu novo e elogiado filme. E assim como em “Bastardos Inglórios”, a história é redimida por um negro em uma jornada de vingança e ultraviolência pelos EUA na época da escravidão.
A estilização da violência, principalmente em casos de vingança, os diálogos ácidos e uma trilha sonora caprichada são marcas registradas do diretor, um apaixonado por cinema que desde o começo dos anos 90 surpreende o mundo com seus filmes.
Então vamos aos primeiros:
Cães de Aluguel
Em 1992, um grupo de assaltantes que tenta descobrir o traidor no grupo saiu da mente de um ex-atendente de locadora para a tela do cinema. “Cães de aluguel” é um filme em movimento, seguindo o rumo daqueles homens com nomes de cores e ternos antes e depois do assalto, com uma aura de mistério e suspense que remetia aos filmes policiais do fim dos anos 70 e aos de gangsters clássicos dos anos 50.
E Tarantino trouxe essa aura no som. Usando um programa de rádio fictício, o “K-Billy’s Super Sounds of the 70’s”, com músicas dessa década que remetiam à decadas anteriores, o que funcionou como um “contraste fantástico às ações presentes nas cenas”, segundo o próprio cineasta. O exemplo mais fantástico é a cena de tortura onde toca “Stuck in the middle of you”, de Stealers Wheel.
Pulp Fiction
Um marco dos anos 90 e uma pequena obra-prima, “Pulp Fiction” reúne todas as características que citei no início, só que num nível muito surreal. A trama completamente não-linear sobre o crime em diversos escalões, com momentos para se chocar com a violência e momentos para rir de frases antológicas.
A trilha explode em vários momentos, como se ela mesma fosse um personagem. E vale o destaque para a música grega “Misirlou”, na versão do Dick Dale, além de “Girl You’ll Be A Woman Soon”, do Neil Diamond, interpretada por Urge Overkill.
Jackie Brown
Uma adaptação literária e o mais fraco filme do Tarantino. Mas o ponto alto está exatamente na trilha sonora: a personalidade dos personagens está intimamente ligada à escolha das canções. Elas criam um background que deixa as atuações mais fluidas, mesmo com o roteiro não sendo essa maravilha.
Destaque para a viagem na música americana do soul até Johnny Cash.
Kill Bill Vol.1
“Kil Bill” é uma saga de gênero, na verdade de multigêneros: a jornada da noiva Beatrix Kiddo para matar o tal do Bill passa do western aos filmes de arte marciais até animação.
Usando os filmes B como referência, Tarantino escavou pérolas fantásticas de artistas tidos como breguissimos, como a Nancy Sinatra. O Resultado é espetacular.
[Continua na semana que vem]
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Daniel Corrêa edita o site Ovo de Fantasma e está quase sempre no nosso podcast.