<b>Andrew Bird</b> faz show antológico no <b>Rio de Janeiro</b>

Músico americano entrega no palco muito mais que a beleza esperada.

Fotos por Pedro Freitas

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Conhecido por seus livros que misturam a realidade ao fantástico, Julio Cortázar é meu escritor favorito. Em uma fase pouco conhecida da sua carreira, ele aproveitou colunas em jornais para colocar seu estilo próprio em críticas. Num dos textos ele falava sobre um show de Thelonious Monk, o mito. E dizia que o teatro estava nas mãos dele e parecia que todos os assentos eram leves e flutuavam em volta daquelas mãos ao piano. Era um sentimento de catarse. Algo que poucas vezes senti. Não é a emoção de estar na frente de um ídolo ou alguém que te inspira, ou aquela música que faz parte da sua vida ser tocada ali. Era o público como parte do show. Sendo levado por ele.

Quando entrei na última quinta-feira, dia 21/02, no Oi Casa Grande, e vi as luzes se apagarem, marcando a entrada daquele homem magro e tímido no palco, não poderia nem suspeitar o que viria. Ele, em meia-luz, se debruçava sobre seu violino e sobre seus pedais de loop. Em poucos segundos o silêncio após as palmas da sua entrada foi substituído por uma orquestra, de dezenas de violinos, tocando de modos diferentes, mil versões do mesmo homem, que ali, começava a fazer levitar as cadeiras como Cortázar disse que Monk fez. E era só uma intro. Como se ele dissesse todas as cartas que tem, apresentasse o baralho, mostrasse que não tinham truques, que a cartola estava vazia, para começar a mágica.

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E Andrew Bird – teatral – conduzia o público com as mãos enquanto discutia uma relação que pairava no ar, criada entre loops de seu xilofone, de seu violino e sua guitarra de seus assobios limpos que talvez façam crer que ele realmente é um pássaro. Na verdade, só faltou voar naquela noite.

A banda o seguia e complementava, em jam sessions vigorosas ou em um momento no canto do palco, completamente desplugados, cantando de pulmões abertos.

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Foram poucas palavras dele com o público. E o público, sem saber o que falar, esperava segundos em silêncio após o fim de cada música para explodir em aplausos, o preço a ser pago por um vôo tão alto.

O show fez um panorama das múltiplas fases do artista, que tem como uma de suas características a experimentações que tornam quase impossível saber o que se esperar de um disco para outro. E estava tudo lá, as fortes canções com uma pegada quase country do seu último disco (“Break It Yourself”, 2012), das doces melodias das queridinhas dos fãs lá do “The Mysterious Production of Eggs”, de 2005, e até canções do começo da carreira, com uma pegada free jazz.

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Saí do show embasbacado. Carregado pelos aplausos da platéia de pé que parecia se recusar a ir embora.

Minutos depois, fora do teatro enquanto conversava com amigos sobre o show vimos passando aquele homem magro e tímido, passando tranquilo com uma case de violino. Parando para conversar com um outro fã que o abordava, tirando fotos e autografando discos. Depois seguiu seu caminho, caminhando com um dos seus músicos em direção ao hotel, sem pressa, como se encantar platéias e fosse a coisa mais natural do mundo. Talvez seja.

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Setlist:

Intro
Why?
A Nervous Tic Motion of the Head to the Left
MX Missiles
Tables and Chairs
Imitosis
Danse Caribe
Three White Horses
Give It Away
Something Biblical
Desperation Breeds…
Effigy
Headsoak
Dark Matter
Banking on a Myth
Plasticities
Opposite Day
 
Fake Palindromes

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