<b>Faixa Um</b>, nº 12: Pearl Jam - Go

"Go" é o tipo de faixa um que não se encaixa em outra posição no tracklist de um álbum: prova disso é o sucesso de Vs., o segundo álbum do Pearl Jam.

Pearl Jam

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No último mês, a coluna Faixa Um se dedicou exclusivamente aos headliners internacionais da edição 2013 do Lollapalooza Brasil. The Killers, Queens Of The Stone Age e The Black Keys já passaram por aqui.

Catapultado ao estrelato após o sucesso de Nevermind, do Nirvana, e a explosão do cenário grunge, o Pearl Jam lançou o sucessor de Ten um mês após In Utero chegar às lojas. Não bastasse a origem em Seattle, as camisas xadrez e a insistência da mídia em colocar – injustamente – as duas bandas no mesmo saco, o lançamento do furioso Vs. um mês depois do “canto do cisne” de Kurt Cobain soou como uma provocação, um desafio.

Demais comparações desnecessárias à parte, o Pearl Jam levou a melhor comercialmente: 900 mil cópias de Vs. foram vendidas na primeira semana pós-lançamento, contra 180 mil de In Utero. A tiragem do segundo foi limitada inicialmente, vale lembrar, o que não tira o mérito do grupo de Eddie Vedder; afinal o número de cópias vendidas de Vs. é similar apenas aos alcançados por artistas como Eminem ou Taylor Swift hoje em dia. Era oficial: em 1993, o Pearl Jam era a maior banda do mundo.

Fruto de um processo longo e doloroso, durante o qual a banda ficou isolada em uma casa no meio do nada com o produtor Brendan O’Brien, Vs. é o retrato perfeito de uma banda em plena angústia. Criar um segundo álbum já é uma arte difícil demais por conta própria, e além de sentir a pressão externa de repetir o sucesso de Ten, o Pearl Jam sofria internamente para manter-se unido e preservar a integridade artística apesar do sucesso reverberante.

Vs. também foi o primeiro álbum gravado com o baterista Dave Abbruzzese, um músico excepcional que deu um novo gás às apresentações ao vivo da banda desde a turnê mundial de Ten. Musicalmente, a conexão entre Abbruzzese e o resto da banda era perfeita, mas fora dos palcos o ego do baterista se chocava constantemente com o de Eddie Vedder.

Enquanto Dave amava estar isolado em uma casa de campo para gravar Vs., Vedder achava impossível gravar um disco de rock em um lugar tão pacífico – afinal estamos falando de homem sensível ao ambiente, um turista frequente do Havaí que gravou um disco inteiro no ukulele, anos depois. O conflito ficou explícito na letra de “Glorified G”, quarta faixa de Vs., em que Vedder ironiza a paixão de Abbruzzese por armas de fogo. Esse choque incessante entre os dois viria a causar a expulsão de Abbruzzese durante a gravação de Vitalogy, o terceiro álbum do Pearl Jam, mas antes disso o baterista deu uma enorme contribuição ao legado artístico de Vs.: ele é o autor do riff principal de guitarra de “Go”, faixa de abertura do álbum.

“Go”é uma das faixas mais potentes do catálogo do Pearl Jam, e quando usada para abrir apresentações ao vivo – como o segundo show da banda em São Paulo na turnê brasileira de 2011 – é previsão certeira de uma performance explosiva. Com letras que escancaram e rejeitam o fim inevitável de uma relação fracassada sobre um instrumental pesado e virtuoso, “Go” é o tipo de “faixa um” que não se encaixaria bem em qualquer outra posição no tracklist do álbum: nasceu para nos provocar imediatamente, e nos convencer a ficar até o fim da jornada, 12 faixas depois.

É o tipo de música que nos faz compreender o motivo do Pearl Jam ter sido a maior banda do mundo um dia, e o porquê de, com mais de vinte anos de carreira, ainda ser aclamada como uma das maiores de todos os tempos.