Existe um país chamado Brasil onde fazer qualquer tipo de trabalho artístico é difícil. Não só por recursos para a produção – que demoram anos para serem reunidos – como o modo de distribuição. Hoje está tudo fora dos padrões que a indústria cultural fincou de base, o que é ótimo para a nossa geração, que vislumbra as mudanças no futuro e péssimo para os que dirigem o presente desse modelo de negócio, que ao notarem que não existe um futuro a longo prazo, investem no que lhes é seguro para o retorno financeiro. Deixando projetos realmente diferentes perdidos.
Isso existe desde que a arte virou negócio, mas agora se tornou algo muito mais alarmante se for visto os lideres de audiência, de vendas de livros e discos. E a dificuldade em emplacar algo que realmente seja bom, e não seja puro hype ou uma espécie de desespero para endeusar pessoas e criar gênios.
Num cenário tão complicado, é de se admirar – confesso que aplaudo de pé – a coragem da produção de “Uma história de amor e fúria”, um longa metragem nacional de animação, focada no público adulto, e que se inspira na aura – não no estilo ou modo de levar a trama – de grandes clássicos obrigatórios como “Akira” e “Ghost in the shell”.
Dirigido por Luis Bolognesi (roteirista de “As Melhores coisas do mundo” e “Bicho de Sete Cabeças”), o filme conta a história de um amor que acompanha a história do Brasil, desde o início da colonização até um futuro sujo, com um Rio meio Blade Runner. Misturando uma prosa realista, fatos históricos e a fantasia de uma magia implícita, o plot parece – até demais – com um livro muito lido em escolas, “As aventuras de Tibicuera” de Érico Veríssimo. E isso pareceu muito mais incômodo para mim que conhecia a história do livro do que os problemas que o filmes realmente tem de qualidade da animação, de umas artes que parecem ter sido feitas de um modo apressado e de uma discrepância de ritmo entre os vários blocos do filme.
O filme não é tudo isso, e seus defeitos incomodam em vários momentos. Mas isso acaba se tornando parte da postura do filme de deixar sua cara a tapa. O espectador sai mais envolvido pelo projeto todo do filme do que pela trama. Eu aceito os erros pois sei que eles estavam desbravando um caminho novo, sem ter medo de fazer um filme com sangue e sexo por restringir o público.
Eu como fã desse tipo de filmes, onde incluiria ainda “Naausica do Vale do Vento” e “Paprika”, me sinto orgulhoso de ver que estão ousando tentar fazer algo assim no meu país.
Verei novamente no cinema, mesmo não tendo gostado tanto assim do filme. Mas como forma de apoio, pois quero poder ver mais projetos parecidos.
Depois de contar uma história de coragem, contarei um pequeno relato de medo. Na verdade o meu, que não me dou bem com filmes de terror, e que já estava preparado para o pior quando fui assistir “Mama”.
Baseado em um curta fenomenal e dirigido pelo mesmo diretor deste curta, o filme cria sequências tensíssimas e outras realmente divertidas, de arrancar gargalhadas. Utilizando elementos clássicos do terror (criança sinistra, velha chata, cientista pirado e casal indefeso) o filme vai tirando aos poucos o peso excessivo que poderia ter e se torna um filme pop, tranquilo e um belo entretenimento para ir com seus amigos num sábado a tarde.
PS: Rola um Jack White maroto na trilha.
Semana que vem, aproveitando a estréia de Oblivion, vamos papear sobre ficções científicas que se passam num futuro pós-apocaliptico. Específico, não?