Lançamentos

Cobertura do Festival In-Edit (Dias 4, 5 e 6)

In-Edit Brasil, festival de documentários musicais, levou diversos grandes filmes a salas de São Paulo.

Cobertura do Festival In-Edit (Dias 4, 5 e 6)

In-Edit Brasil

O In-Edit Brasil, Festival Internacional do Documentário Musical, é patrocinado pelos nossos parceiros da Deezer e aconteceu entre os dias 3 e 12 de maio, diariamente, em tradicionais salas de cinema de São Paulo, como o MIS-SP, CINESEC, a Cinemateca Brasileira, o Cine Olido e o espaço da Matilha Cultural.

O Documentário Musical é uma forma narrativa que ganha cada vez mais notoriedade em salas de exibição, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, e o In-Edit é o maior festival do gênero, selecionando e reunindo os filmes mais significativos lançados a cada ano. Os filmes, construídos através de diferentes metodologias e propostas – uns mais didáticos, outros mais sensoriais – têm um denominador comum: unir o universo musical a uma narrativa cinematográfica de não-ficção.

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Já trouxemos a cobertura dos três primeiros dias de evento aqui e agora é a vez de ver como foram o quarto, quinto e sexto dias de festa.

Confira na sequência!

Quarto Dia

A noite fria de segunda-feira não foi um obstáculo para os espectadores do In-Edit Brasil. Um público numeroso compareceu ao CINESESC para assistir às duas sessões do festival. Às 19h rolou a sessão de From the Steppes to the City e, às 21h, Turning. Antony and the Johnsons.

From the Steppes to the City (Marc Tiley, Sophie Lascelles e Tim Pearce) é uma espécie de road-movie que tem os membros do Anda Union como protagonistas. O Anda Union é um grupo mongol cujo principal trabalho reside em garimpar pérolas da música tradicional da Mongólia, resgatando-as e criando novos arranjos. O documentário mostra exatamente essa atividade do grupo. Vemos as viagens do Anda Union às cidades natais de alguns de seus integrantes, onde acontecem reuniões familiares repletas de comida, bebida e música. Entramos em contato, portanto, não só com a música mongol “de raiz”, mas também com diversas tradições que se mantém vivas em distantes regiões das pradarias da Mongólia. Vemos no documentário, também, performances na íntegra de músicas do Anda Union, de um concerto provavelmente posterior à viagem, em que se mostra o fruto do contato do grupo com a música regional. Melodias e timbres diferentes, como o tradicional canto difônico (canto com a garganta) ou o Morin Khuur, instrumento de duas cordas considerado símbolo da música mongol, estão presentes em From the Steppes to The City, um interessantíssimo documentário. Agora, fique um pouco com música chinesa:

Turning. Antony and the Johnsons é o registro da construção do espetáculo Turning, resultado da união do grupo Antony and the Johnsons ao videoartista Charles Atlas. A temática do espetáculo perpassa questões de gênero, identidade e sexualidade. Turning consiste no show liderado por Antony, com músicas de arranjo orquestrado do álbum I am a bird now, e com a participação de treze transexuais que permanecem em um palco giratório durante as canções.

Filmadas de diversos ângulos, as imagens das modelos são projetadas em uma tela e, através de fusões e outras ferramentas de estilo, Atlas compõe belas trilhas visuais que adicionam um interessante aspecto à fruição sensória da música de Antony. Registros do backstage do espetáculo são justapostos às canções do show e as protagonistas de Turning revelam, em depoimentos, detalhes de suas experiências pessoais.

De diferentes idades e culturas, as participantes do espetáculo versam sobre questões prementes relativas à identidade sexual, gênero e a forma que se veem representadas no mundo.

Quinto dia

Assistimos no CINESESC à sessão de The Swell Season (Nick August-Perna, Chris Dapkins e Carlo Mirabella-Davis) e à sessão dupla, que exibiu Art Will Save the World – A Film About Luke Haines (Niall McCann) e Grandma Lo-Fi: The Basement Tapes of Sigrídur Níelsdóttir (Krístin Björk Kristjánsdóttir, Orri Jonsson e Ingibjörg Birgisdóttir).

The Swell Season é um documentário a respeito do duo de mesmo nome composto por Glen Hansard (também do The Frames) e Markéta Irglová. Hansard e Irglová receberam bastante notoriedade pela participação como atores do filme Once (2007), cuja trilha sonora também foi escrita pelo duo.

A canção “Falling Slowly”, presente na trilha sonora de Once, rendeu a Hansard e Irglová o Oscar de melhor canção original na premiação de 2008. O documentário, belamente apresentado em preto e branco, registra momentos privados da vida de Hansard e Irglová do momento em que eram um casal. O relacionamento amoroso dos dois chega ao fim ainda em 2009, cujo término é refletido por Hansard ainda durante o filme. Vemos Hansard e Irglová em ação, tocando e cantando suas canções na íntegra, tanto em momentos cotidianos quanto em concertos para públicos numerosos.

Os frutos da participação do duo em Once rendem uma constante reflexão sobre fama e o conceito de sucesso. O documentário mostra a dificuldade de Irglová em lidar com a popularidade que lhe acometeu subitamente e Hansard sente a pressão, da parte de seus pais, de manter-se como notícia após receber o Oscar. The Swell Season é uma ótima oportunidade de conhecer o trabalho de Hansard e Irglová e manter-se em contato com as belas melodias e contrapontos construídos pelos dois.

 

Art Will Save the World é um documentário sobre o músico britânico Luke Haines, conhecido por seu trabalho no The Auteurs e no Black Box Recorder.

Realizado através de extensas entrevistas com Haines, mas também com outros músicos, como Jarvis Cocker (Pulp), o filme versa sobre a carreira do músico, sua personalidade um tanto ácida e sua visão crítica do movimento Britpop – encabeçado por bandas como Oasis e Blur – que, segundo Haines, não se tratava de algo consistente e, sim, um hype construído pela indústria fonográfica e pela imprensa.

Os dois primeiros álbuns do The Auteurs (New Wave e Now I’m a Cowboy) renderam a Haines reconhecimento por parte do público e da imprensa, porém sua carreira a partir daí tendeu a uma série de frustrações financeiras. Apesar da qualidade do trabalho de Haines ter mantido, sempre, um alto nível de excelência e coerência autoral, a posição crítica do músico em relação à exploração da indústria fonográfica e sua resistência em “jogar o jogo” fez com que fosse colocado de lado pela máquina. O documentário é construído com pitadas de mockumentary e seu fio argumentativo é costurado pela narração do próprio Haines, fazendo comentários – carregados de humor inglês – sobre a experiência que está sendo criada.

 

Grandma Lo-Fi: The Basement Tapes of Sigrídur Nielsdóttir é um documentário sobre a “senhora” Níelsdóttir, uma musicista que começou sua carreira efetivamente aos 70 anos, tendo gravado 59 álbuns desde então, num total de mais de 600 músicas.
As músicas de Níelsdóttir, gravadas no melhor estilo home recording, com instrumentos como um teclado Casio, brinquedos, instrumentos de percussão e sons de animais, tornou-se uma referência para o indie e o Lo-Fi islandês. Músicos e grupos, tais quais Múm, Sigur Rós e Björk, são apenas alguns que citam as músicas de Níelsdóttir como referência e inspiração.
Filmado predominantemente em Super-8 e em 16mm e contando com animações em stop-motion retrô, Grandma Lo-Fi é um divertido documentário feito para que tomemos conhecimento da simpática Níelsdóttir e suas composições.

Sexto dia

Dois documentários bastante distintos entre si foram exibidos na noite de quarta-feira no MIS-SP. Tratam-se de I am Not a Rock Star (Bobbi Jo Krals), que passou às 17h30, e Neil Young: Journeys (Jonathan Demme), às 20h.

Para além do universo pop, a música erudita também teve lugar no In-Edit Brasil.

I Am Not a Rock Star desenvolve um registro da vida da pianista erudita Marika Bournaki durante oito anos. A diretora acompanha o universo familiar e o cotidiano de Marika desde a época em que era vista como uma menina-prodígio, aos doze anos de idade, até seu amadurecimento como pessoa e como profissional, aos vinte.

Começando a tocar piano com cinco anos de idade e em pouco tempo reconhecida pela mídia como uma pianista erudita em potencial, a rotina adolescente de Marika torna-se certamente diferente da dos garotos e garotas ao seu redor. Exemplificada pela vida de Marika, I Am Not a Rock Star fala diretamente sobre a construção de uma carreira na música erudita a nível mundial. Trata-se da abstenção de diversos aspectos que compõem a vida normal de um adolescente: faltar frequentemente às aulas na escola, viagens semanais, mudança de país, deixar de lado amigos queridos e a impossibilidade de manter uma vida social regular.

À medida que o tempo passa, nota-se a construção do questionamento, da parte de Marika, sobre a validade do sacrifício que fez durante toda sua vida e a dificuldade em continuar a sentir prazer em construir uma carreira musical frente à expectativa depositada nela pelas pessoas ao seu redor, sobretudo seu pai, seu principal “apostador” e acompanhante em todas suas empreitadas.

I Am Not a Rock Star – para além de um depositório de ótimas performances de Mozart e Scarlatti –  é uma grande surpresa e comporta-se como um belo trabalho de registro contínuo, um dos casos em que a paciência e a transposição do tempo à tela valem o esforço da diretora.

Menos documentário e mais musical, Neil Young: Journeys é o registro dos dois últimos shows que Young fez no Massey Hall, em Toronto, durante a turnê mundial de sua apresentação solo. Intercortado por breves momentos em que vemos Young falando sobre nuances de sua vida e de sua infância em alguns locais de Omemee, onde cresceu, e seus arredores, o filme ocupa-se dominantemente do show de Young, apenas ele próprio com seu violão ou guitarra elétrica repleta de overdrive, tocando gaita ou ao piano.

O repertório do show de Young é dividido entre canções de seu disco solo mais recente, Le Noise, e clássicos do músico, como “Down by the River” e “My My, Hey Hey”. A sessão de Neil Young: Journeys levou muitos fãs de Young, que em muitos momentos cantavam junto suas músicas, tornando a noite no MIS-SP bastante agradável.

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