Resenha: Somos Tão Jovens

Parte da história de Renato Russo é contada em filme que tem mais falhas que méritos, mas que ainda vale a ida ao cinema.

Somos Tão Jovens

Somos Tão Jovens

Se você quer ir ao cinema para assistir a um retrato fiel da história de Renato Manfredini Jr., desculpe, mas não é vendo “Somos Tão Jovens”, que você vai ver isso. O filme mostra um Renato adolescente, inconsequente, mimado e, em alguns momentos, insuportavelmente chato. Talvez Renato Russo tenha sido um pouquinho de cada coisa em seus devaneios de menino homem, mas o retrato pintado desse jovem na tela mistura um herói do rock nacional a um completo boçal.

As influências punk do jovem Renato, a forma como o Clube da Esquina foi tocado e vivido nos corações dos jovens brasilienses, o jeito como os discos e fitas eram compartilhados entre a mocidade de Brasília, a corrida pelos primeiros novos sons, a revolta pela falta de informação de qualidade que chegava ao país e a necessidade de correr a pessoas que vinham de fora para conhecer o que era tendência no exterior devem ter sido retratos bem fiéis do período. Mas o Renato que se achava um gênio a ponto de querer ser chamado de REInato pelos alunos de inglês, o Renato que recitava versos do que seriam suas músicas em conversas informais de bar, na roda de amigos, em discussões com os pais e em devaneios e o bêbado que queria rezar pela alma de John Lennon de mãos dadas com o dono do bar não se parece em nada com o jovem jornalista e professor de inglês que decidiu fazer da música o seu jeito de viver.

Falta contexto. Renato ficou meses em casa sem poder andar por causa de uma doença que o espectador só vai saber o nome se prestar atenção em uma fala de um médico lá no começo do filme. Como foi que o Aborto Elétrico se transformou em uma das bandas mais badaladas da turma da Colina? Quais eram as outras bandas do momento na região, além do Aborto e da Plebe Rude? Como a turminha que trocava fitas se organizava para aprender a tocar seus instrumentos e conseguir fazer as apresentações?

O filme tem diversas falhas homéricas, mas vale a ida ao cinema por algumas boas razões: a atuação de Thiago Mendonça fica impecável quando ele começa a cantar e imitar até os trejeitos desajeitados de Renato, sua forma de cantar gritando as injustiças do mundo e seu jeito de dançar e de se posicionar no palco aparecem ali. A relação com Ana, grande amiga de Renato dos tempos da adolescência não poderia ter sido representada com maior perfeição. Alguns clássicos da Legião orquestrados dão movimento à algumas cenas e salvam outras. A fotografia e o jogo de luzes fazem Thiago realmente se parecer ainda mais como Renato, e em alguns momentos é realmente possível acreditar que é o Manfredini que está sendo filmado.

Um desses momentos é a cena em que Renato toca “Eduardo e Mônica” em uma apresentação do “Trovador Solitário”, um dos trechos que vale um filme. A bissexualidade assumida para a mãe do jeito mais improvável. A reconciliação com Ana e “Ainda É Cedo”. E é claro, a atuação de Nicolau Villa-Lobos, na pele do próprio pai, quando a Legião Urbana buscava um homem para a guitarra. Além de a semelhança entre os dois ser tão explicável quanto genética, o carinha tem talento. E o guitarra que ia ficar uma semana na banda porque tinha uma viagem para a França ajudou a história musical do nosso país a ganhar um marco inigualável.

A história de Renato Manfredini Jr. com certeza tem muito mais detalhes que o filme, ou dois, ou três poderiam mostrar. Talvez suavizar sua depressão e preservar sua memória como um jovem feliz, apesar de tudo, e inquieto, tenham sido as intenções dos 104 minutos de filme, feitos, sem dúvida, com louvor que merece reconhecimento. Agora resta acreditar que “Urbana Legio Omnia Vincit” ou “Legião Urbana Vence Tudo”, até mesmo a cinebiografia de seu ídolo mestre.

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