Death Metal Angola
Death Metal Angola (Jeremy Xido), outra boa surpresa do festival, é um documentário que perpassa questões que vão bem além da música. O povo angolano ainda sofre, desde o neocolonialismo a constantes guerras civis enfrentadas pela população, com a devastação de seu país. O documentário centra-se principalmente no trabalho do casal Sonia Ferreira e Wilker Flores, mantenedores de um grande orfanato em Huambo, uma das províncias mais devastadas pelos conflitos civis. Além do trabalho humanitário desenvolvido pelo casal, eles mantém outro projeto de vida: a construção e o desenvolvimento do movimento do rock angolano.
Por incrível que pareça, apesar de estarmos já na década de 2010, Angola nunca tinha promovido um festival de rock em que as bandas locais pudessem mostrar, juntas, seu trabalho em um show grande. Ferreira e Flores, com o apoio dos músicos de rock angolano, embarcam na difícil empreitada de colocar de pé o festival, encontrando diversos percalços pela frente.
Marcadas pela devastação do país e da perda recorrente de entes queridos, bandas de Angola como Dor Fantasma e Black Soul encontram meios em estilos musicais extremos, como o Death Metal e o Trash Metal, de reciclar a dor da guerra em uma manifestação artística. Death Metal Angola é um documentário bem construído, certamente uma das grandes surpresas do festival, que une o aspecto didático do contexto sociopolítico angolano a uma história de perseverança e força de vontade.