Verdade seja dita: qualquer um que acordasse de um longo coma ao som de “First Breath After Coma”, a faixa um de The Earth Is Not a Cold Dead Place (2003), terceiro álbum do Explosions In The Sky, teria a certeza de ter atravessado as fronteiras da vida e aterrissado em algum lugar próximo ao paraíso.
O quarteto texano não pode ser considerado pioneiro do post-rock, afinal anos antes da formação da banda grupos como Slint, Tortoise, Godspeed You! Black Emperor e até o Talk Talk – com a obra-prima Laughing Stock, de 1991 – davam as diretrizes de um gênero difícil de se classificar. Mas o post-rock, uma cruza vasta de diversos estilos que se traduz em uma espécie de rock minimalista e épico ao mesmo tempo, nunca mais seria o mesmo após o surgimento do Explosions In The Sky, em 1999.
Após um belo mas irregular disco de estreia (How Strange, Innocence, 2000) e o lúgubre Those Who Tell the Truth Shall Die, Those Who Tell the Truth Shall Live Forever (2001), o grupo se aperfeiçoou em The Earth Is Not a Cold Dead Place, um álbum doloroso e hipnótico como os anteriores, mas com uma postura menos sofrida, menos masoquista – e às vezes até esperançosa, dado o nome do disco e as frases espalhadas pela arte gráfica da versão em CD e LP do álbum (“because you are listening, because you are breathing”).
Tal equilíbrio é representado com perfeição nos 45 minutos do álbum, composto por apenas cinco faixas. “Your Hand In Mine” é uma das músicas mais bonitas de todos os tempos, e “The Only Moment We Were Alone” se tornou clássica ao vivo. Mas poucas faixas de abertura, de qualquer época ou gênero instigam o ouvinte tão intensamente quanto a avassaladora “First Breath After Coma”.
A faixa é a tradução ideal do chamado “crescendo”, presente em 9 de cada 10 discos de post-rock. Uma nota solitária de guitarra avança lentamente sobre o som de um coração, antes que uma segunda guitarra, um baixo e até sons de prato revertidos floreiem a harmonia dos primeiros dois minutos. Aos três, as cordas se intercalam em melodias emocionantes, guiadas pelo ritmo marcial da caixa, rumo à explosão contemplativa na metade do quinto minuto – o silêncio evocativo antes da catarse final, quando a faixa se aproxima da marca de nove minutos.
Apesar do Explosions In The Sky ter se mantido fiel à fórmula em All of a Sudden I Miss Everyone (2007), Take Care, Take Care, Take Care (2011) e no EP The Rescue (2005), The Earth Is Not a Cold Dead Place ficará eternizado como a obra essencial do grupo, e um dos marcos de um dos segmentos mais marcantes do rock alternativo. É motivo de inspiração, plágio e repetição por incontáveis artistas semelhantes, mas ninguém conseguiu soar emocionalmente translúcido como o Explosions In The Sky em “First Breath After Coma”.
Em tempo: o EITS se apresentou ontem (22) em São Paulo, e repete a dose nesta quinta-feira (23), mas os ingressos estão esgotados. Ainda há ingressos para o show do grupo no Rio de Janeiro no próximo domingo (26), no Circo Voador. É só clicar aqui.