“E viva o rock!”, bradou Chuck Hipholito no fim de “Antes Que Você Conte Até Dez”. Algo que tem sido alvo de muitas discussões e críticas: o rock morreu? Se depender das bandas que tocaram na noite de 23 de agosto no Hangar 110, o Novo Rock Nacional está muito bem representado.
Começando por… Sheila Cretina! O público ainda era pequeno e o repertório assumidamente mais curto, mas sobrou dinamismo e energia para a banda de abertura. Era praticamente impossível não ver os membros chacoalhando as cabeças seguindo o ritmo frenético de suas músicas.
Apesar de tanta euforia, a empolgação do público foi até o limite de quem assisti a um artista pela primeira vez, mas nada que transformasse a situação em um clima morno, muito pelo contrário. Os arranjos eram sujos e o ritmo acelerado, ficando difícil não se envolver.
Os pontos altos da apresentação foram os instrumentais muito bem elaborados, que atingiram em cheio quem conheceu aquele grupo de visual largado e de rock gritado.
Sem muita demora e respeitando o horário, a estrutura e a equipe estão de parabéns. O evento começou cedo e as trocas e passagem de instrumentos foram rápidas, o que permitiu o público aproveitar a noite e ir embora tranquilamente.
Os próximos a subirem no palco foram os Selvagens à Procura de Lei (leia entrevista com a banda aqui). Logo de cara, um imenso teclado dividia o espaço com os integrantes, o que já sugeria um show que abrangeria toda a evolução musical do repertório dos cearenses.
A banda abriu com “Massarrara”, “Amigos Libertinos” e “Casona”, ganhando o público rapidamente. O repertório variava entre o disco homônimo lançado pelo grupo em 2013 e trabalhos anteriores, com ótima recepção tanto das novas canções, quanto das mais antigas. A banda agradeceu ao público caloroso, que acompanhava a execução das músicas de forma bastante animada.
Depois de um início arrasador, a banda diminuiu um pouco a marcha, distribuindo músicas mais melódicas, como “Enquanto Eu Passar Na Sua Rua” e “Jamoga”.
Nesse momento, a plateia já curtia o som moderadamente, quando o vocalista Gabriel Aragão deixou sua guitarra de lado e se dedicou ao teclado. “Sr. Coronel” pode ser considerada um dos momentos mais sublimes da apresentação, com banda e público cantando juntos. “Despedida” também teve participação maciça dos fãs, que aprovaram os vocais do baterista Nicholas Magalhães.
Mas a banda deixou a cereja do bolo para o final, executando suas duas principais faixas em sequência para encerrar com gostinho de quero mais. “Mucambo Cafundó” colocou fogo no Hangar 110. Depois dela, só havia espaço para a esperada “Brasileiro”, primeiro single do novo trabalho do grupo. Assim terminou a apresentação do quarteto, que já tinha feito valer o ingresso.
Mas a principal revelação do Novo Rock Brasil ainda estava por vir. E eles subiram no palco com as roupas já características da turnê atual.
O público foi ao delírio logo no início em “Santa Sampa”, acompanhando Thadeu Meneghini com muita força. Uma sequência de faixas do Animal Nacional (leia a resenha desse disco aqui) não deixou ninguém descansar. Passando por “A Prova”, “Rir no Final” e “O Vício e o Verso”, era nítido que a banda se apresentava colhendo os frutos de anos de seus integrantes lutando por um rock de qualidade no cenário underground.
“Não Sei O Que Fazer Comigo” era um dos momentos mais esperados da noite por conta da identificação dos fãs com a letra da canção. Chuck Hipolitho até deixa de tocar sua guitarra para dedicar atenção total aos inúmeros versos da música.
Fugindo um pouco do trabalho mais recente, as Vespas Mandarinas tocaram “Retroceder Nunca (Render-se Jamais)” e “Cobra de Vidro” (sim, essa música é figurinha carimbada no repertório da banda desde 2010 e é uma regravação do Banzé!). Escolhida como a primeira música de trabalho do Animal Nacional, a canção ganhou a mesma veemência que o público dispensa para as músicas mais atuais.
Os integrantes fizeram um breve discurso em agradecimento à casa que os recebia, dividindo sentimentos diferentes, como os do Flavio Guarnieri e André Dea que já tocaram várias vezes no Hangar com o Sugar Kane e do ex-Forgotten Boys Chuck Hipolitho, que assumiu ter tocado pela primeira vez no local em 1999. Também rolou a já citada “Antes Que Você Conte Até Dez” e “Sasha Grey”, com introdução dedicada à ex-atriz pornô, que esteve no Brasil recentemente.
Daí pra frente a banda entregou o que seu novo público mais conhecia, completando praticamente todas as músicas do disco Animal Nacional. Um momento hilário foi o repeteco de um vivendo do ócio em “O Herói Devolvido”: Dieguito Reis acompanhou os amigos, dançando e pulando de um lado para o outro do palco.
Já anunciando o fim, as Vespas Mandarinas tocaram suas duas músicas mais ásperas do último trabalho, a pesada “O Inimigo” e a célere “Um Homem Sem Qualidades”, gerando o bate cabeça no público, incluindo mosh do fã que cantou alguns versos no microfone com o Thadeu. O clima era de satisfação total de quem estava a procura de boas bandas nacionais. A conclusão que se teve é de que o rock está aí, só não vê quem não quer.